Um jeito inusitado de conhecer o "tio".

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   No natal, todos na minha família se reúnem na casa de minha avó. Nesse ano não foi diferente. A única coisa que havia mudado era o fato de eu ter feito 18 no início do ano, e já ter tido algumas experiências sexuais.

   No dia 24, um pouco antes do almoço, eu estava entediado e resolvi baixar um aplicativo de paquera. Não tinha muito o que fazer, pois meus primos, assim como eu, cresceram e não ficávamos brincando por aí.

   Olhando os perfis, percebi que só tinha homens anônimos. Ninguém usava o nome real, e nas fotos escondiam o rosto. O que esperar de uma cidade do interior?

   — Tomás, — gritou minha avó da cozinha — o almoço já está pronto.

   Bloqueei o celular e fui preparar meu prato. Depois, me sentei a mesa e, enquanto comia, ouvi meus tios e minha avó conversando sobre um tal de Rui.

   — O Rui vem mesmo — perguntou tio Valter, e logo depois enfiou uma colherada na boca.

   — Vem sim — respondeu minha avó — Eu estava conversando com ele pela internet e convidei ele pra passar o natal com a gente.

   — Que bom que fez isso, mãe — disse tia Silvia — Ele deve se sentir muito sozinho nas datas comemorativas.

   — Por quê? — perguntou eu, curioso.

   — Tia Helena morreu quando ele tinha dez anos — respondeu tia Silvia — Ele se mudou para São Paulo naquele mesmo ano, pra morar com um tio, e tá lá até hoje. O tio dele morreu anos depois também, mas ele já era maior de idade. Nunca mais vimos ele. Só na internet.

   — Queria estar sozinho no natal com o dinheiro que ele tem — disse tio Ademir.

  Minha avó bateu no ombro dele, o repreendendo, e todos riram.

~•~

   Mais a tarde, fui para o quarto e fiquei rolando os perfis sem ver ninguém interessante. Tentei puxar assunto com alguns caras, mas a maioria queria tudo no sigilo, pois eram comprometidos ou não assumidos.

   — Acho melhor eu aceitar que não vou encontrar ninguém nesse fim de mundo — disse eu, olhando para a tela do celular.

   Rolei a tela mais duas vezes até que parei no perfil de um cara lindo. Esse mostrava o rosto, e, pelas fotos, não parecia ser dali. Logo o chamei para conversar.

T
Eai
Tudo bem?

R
Olá
Tudo bem, sim, e você?

T
Tudo bem também
Olha, eu não sei puxar assunto, então vou ser direto.

R
Diga.

T
Tô sem nada pra fazer até a noite. 
Eu vi seu perfil e gostei.
Quer se encontrar?
É até perto.

R
Você tem mesmo 18 anos?
A gente pode até fazer alguma coisa, mas precisa trazer a identidade.

T
Hahahahahaha
Você pede mesmo a identidade de quem você vai ficar?

R
Já tive problemas por mentirem a idade pra mim.
Você vem?
Mas tenho compromisso às nove.

T
Também tenho.
Bom… Vou me arrumar daqui a pouco e vou pra praça às 17:30.
Pode ser?

R
Estarei lá.

   Como já passava um pouco das quatro, tomei um banho e fiz todas as limpezas. Depois de me arrumar, avisei minha avó e minha mãe que estava indo encontrar um amigo.

~•~

  
   Fui caminhando até a praça da cidade e me sentei em um banco, esperando. Não demorou muito e um carro preto estacionou próximo da calçada de frente pra mim. Os vidros eram todos escuros e não dava pra ver por dentro. Eu não me mexi, até que a janela do carona abaixou, revelando quem estava la dentro. Era o Rodrigo.

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⏰ Última atualização: Jul 28, 2023 ⏰

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