DE VOLTA À ESCOLA

10 1 0
                                    

O relógio acima do criado mudo já indicava o fim de mais uma noite em St. Louis, quatro e meia da manhã, aos poucos as estrelas iam desaparecendo junto com a escuridão dando lugar a uma breve claridade que adentrava o quarto de Taylor Turner. Deitado em sua cama, quase que totalmente despido, não fosse pela cueca, com o cobertor jogado ao chão, seu eterno companheiro das madrugadas, o notebook, ao seu lado, plugado na tomada recuperando-se de mais uma longa noite de trabalho. Era uma segunda-feira, 16 de setembro, daqui a algumas horas o garoto que completara 16 anos uma semana antes estaria se levantando amargamente e iria se preparar para retornar à escola pela última vez, já que agora estaria finalmente no último ano do ensino médio, recebendo o tão aguardado posto de "Senior" (veterano).

Taylor desceu as escadas vestindo uma camisa azul clara por cima de uma camiseta branca, calça jeans pretas e um tênis Vans igualmente preto. Sentou-se na cadeira de bar do balcão da cozinha onde uma tigela e uma caixa de cereal matinal o aguardavam. Iniciou assim a velha cerimonia, joga cereal na tigela, pega o leite na geladeira, despeja o leite na tigela, pega a colher na gaveta do meio, come o cereal, lava a tigela e a colher. Assim se iniciavam quase todos os seus dias, ele gostava de rotina, era como um lugar seguro, quanto mais imerso em sua rotina ele estivesse, menos espaço para acontecimentos inesperados haveria.

A TV estava ligada, mas ele não ouviu a moça do tempo dizer que o dia seria frio e nublado e que havia chance de chuva ao fim da tarde. Em seus ouvidos um headphone conectado a seu iPod tocava "Jesus of Suburbia" do Green Day no volume máximo, sua mãe Laura sempre o alertara que isso o deixaria surdo um dia, mas ele, como qualquer outro adolescente de sua idade não costumava dar ouvidos a sermões, a não ser quando eles realmente eram merecidos. Taylor tinha uma certa maturidade nesse sentido, as tragédias que por algum tempo pareceram ser parte de sua rotina o forçaram a ser mais maduro do que deveria ser nessa idade. Talvez por isso as pessoas que o conheciam tendiam a confiar em seu julgamento. Ele nunca havia namorado, mas por algum motivo até mesmo estranhos vinham até ele para pedir conselhos amorosos.

A vida amorosa de Taylor era um caso aparte, ele nunca foi bom em nada em especial, era um jogador de vôlei regular, até foi convidado para entrar no time de baseball pelo treinador Duran, porém ele achou que perder tempo com os treinamentos seria tedioso, ele se preocupava de verdade com suas notas pois queria ir para uma boa universidade, de preferência alguma bem longe dali, por isso tentou vaga no time de basquete, um esporte onde não era nada excelente, mas que também não era tão ruim. Não deu certo, ele não tinha o talento ou talvez não tivesse praticado a exaustão, as vagas em universidade teriam de vir por mérito acadêmico e não esportivo.

O rapaz pegou suas chaves em cima do balcão, o seu skate ao lado da porta de entrada da casa, saiu e trancou a fechadura, correu um pouco, deixou que o skate tocasse o chão, colocou um pé sob o objeto e com o outro deu três empurrões para ganhar impulso começando seu trajeto até à escola. O sinal de entrada na St. Louis University High School soava às oito e quarenta e cinco da manhã, faltavam apenas dez minutos e Taylor morava a quinze quarteirões da escola, o que não preocupou em nada o rapaz, com o skate ele nunca chegou atrasado, nem mesmo uma única vez em toda sua vida. Pontualidade era algo que Taylor tinha quase como um tipo de "toque". As vezes desejava ter crescido no Reino Unido onde os britânicos o compreenderiam melhor.

Na classe de número L14 todos seus colegas conversavam animadamente e contavam uns aos outros o que de mais interessante ocorrera em suas férias de verão. Este era uma nova turma, a escola costumava misturar pessoas de diferentes anos letivos como uma tentativa de forçar os estudantes a conhecerem pessoas fora de seus círculos convencionais. Taylor não gostava muito de mudanças, agora ele teria de mudar a sua rotina novamente, mas pelo menos dentro de alguns dias ele já estaria acostumado à rotina.

TENTE OUTRA VEZOnde histórias criam vida. Descubra agora