CAPÍTULO I
O celular vibrava sobre o piso de porcelanato ao lado do sofá onde o corpo entorpecido pelo sono levantou-se preparado para se embriagar com seu primeiro dia de trabalho. Uma ilusão condicionada por ter de arrumar dinheiro antes do fim do mês, quando teria de sair do aconchego dos braços de sua mãe, a qual havia concordado com o novo marido em se livrar do suposto "peso morto".
O rapaz de olhos acinzentados observou o telefone apresentado pela carcaça pré-histórica revelou o horário em que ele deveria comparecer ao seu serviço.
- Menos de trinta dias...- suspirou passando as mãos nodosas pelo rosto pardo sentindo a bolsa abaixo de seus olhos redondos, resmungando sobre a situação deplorável causada por escolhas egoístas de sua mãe após a prisão de seu pai- Preciso sair daqui logo.
Ele massageou um pouco de seu ombro esquerdo antes de pôr o telefone no bermudão sem ao menos imaginar o caos ocorrendo desenfreado:
" Alerta:Rua do Sangermum, residência vinte e quatro"
Os olhos acinzentados então se encheram com a magnífica aura que os gigantescos murais formados de tijolos formavam enfeitados por vergalhões afiados contendo esqueletos de pássaros que haviam se enroscado ali durante os anos que a construção permaneceu em pé junto das histórias sobre o casebre, fornecendo um comichão no estômago do rapaz que estava paralisado desde que chegou. Há mais de vinte minutos ele estava pensando se fazia sentido entrar naquele emprego.
- Sabe o por quê de não haver um curso preparatório para este emprego, garoto?-O murmúrio vindo dos lábios enrugados da senhora que descansou sua mão no ombro do rapaz alto, foi respondida apenas com um olhar de pura covardia- Porque nada consegue repassar os acontecimentos que vivenciará.- As expressões da senhora eram firmes, apesar do olhar cansado repassado pelas bolsas arroxeadas abaixo dos olhos castanhos profundos combinado com a pele parda- Quer me dizer seu nome antes que entremos?
Os rapaz percebeu a mão áspera e enrugada cheia de anéis se esticar para um aperto de mão.
- Sou Zacarias.- ele retribuiu o aperto de mão amigável da senhora, surpreendendo-na pois sua mente imaginou se tratar de um jovem mudo- E como a senhora se chama?
- Ruth.- a voz rouca da senhora pronunciou apertando a mão do rapaz- Comandante Ruth Rangel.
Havia certa surpresa nos olhos do rapaz quando descobriu estar diante de uma veterana, mas ele conhecia aquele nome de algum lugar.
Ruth soltou a mão dele se virando para a rua observando de longe um carro virar na esquina com uma música estranha alta o bastante que se estendia por quarteirões. Sem dúvidas era o Jetta cor-de-rosa de Margot trazendo Clarissa e Renato .
- Não se assuste com a nossa equipe, garoto.- Ruth sussurrou próximo a ele quando percebeu os olhos dele vidrados no carro- Todos foram novatos um dia como você, e não se preocupe em cometer erros.
- Sim, senhora.
Zacarias assentiu ainda tremia um pouco fazendo a velha senhora se preocupar.
- Mas não se esqueça: aprenda com seus erros.- especificou temendo que o garoto morresse por seu medo excessivo- Errar uma vez é humano. Duas já é desleixo.
Os olhos da senhora parecia ter certo peso como se zelassem por ele enquanto os cabelos grisalhos esvoaçavam pelo o clima bipolar daquela manhã.
Certamente o Jetta cor-de-rosa era de Margot, e ele estava estacionando na frente daquele casebre amaldiçoado. Aqueles esqueletos não combinavam com o padrão de casas modernas de condomínio aos olhos de Margot, e muito menos a combinação da casa skinny preta desbotada com uma blusa escrita NIRVANA em amarelo na camiseta branca - que devido a água a suja do encanamento do prédio se tornou alaranjada-, entregando a imagem de um pobretão.
- Quem é esse?
Questionou a curiosa Clarissa, permitindo que a imagem do rapaz refletisse em seus óculos de armação fina e lentes retangulares.
- Zacarias, o novato.
Ruth disse apontando com seu dedão na direção do rapaz a qual ficava rodeado pela mulher de cabelos azuis formados pelo corte Pixie curto e ousado, deixando em evidência os diversos brincos encontrados, desde um inofensivo snug até um audacioso tragus, piercings e argolas faziam parte do estilo de Clarissa e seus olhos azuis desabrochando na tonalidade violeta.
Ele pareceu hipnotizado pela mulher antes que os lábios redondos deixarem escapar uma ardilosa frase:
- Fica com a outra novata para que prestem atenção como os profissionais agem, capiche?
Clarissa pronunciou agraciando o queixo do rapaz tentando compreendê-lo.
- Essa é a Clarissa, nossa sensitiva.
Ruth revelou resultante do temor do rapaz após se afastar sentindo um frio devido a tentativa de Clarissa.
- Sempre é mais divertido deixá-los descobrir sozinhos, Ruth.
Renato resmungou analisando a cena, saindo do Jetta cor-de-rosa acompanhado da novata cativada pela aura que o lugar exalava.
- Cê loco, tio... - cochichou a novata prendendo os fios dourados e ondulados no rabo de cavalo alto- Saporra é assustadora.
Seu sorriso sádico surgiu reparando o quanta repercussão aquilo causaria na vida de seu pai. Uma socialite filha de um CEO trabalhando com casos de poltergeist serviria como manchete em sites de fofoca.
Ruth parecia confusa pela aparição daquela garota de olhos azuis profundos diante dela, antes que Margot saísse de seu carro, fechando-o, parecendo achar cômico a curiosidade de Clarissa sobre o novato.
- A loira do tchan aqui, é a Lara Coelho. - Margot disse fazendo símbolo de vômito pelas costas de Lara, revelando se tratar de uma garota mimada de condomínio querendo arrancar dinheiro de seus pais ricaços- O chefiado manda, e só nos resta obedecer!
Clarissa ainda analisava profundamente tentando adivinhar o que ele era através dos olhos cinzas.
- Sou Zacarias.
Ele acenou dando alguns passos para trás à medida que Clarissa continuava a importuná-lo:
- Você tem cara de Médium.
Ela suspeitava sendo interrompida por Margot quando a mulher negra enganchou seu braço forte envolta do pescoço magro de Clarissa levando-a até o interfone na intenção de chamar os proprietários, os quais discaram o cento e vinte.
- Fica a vontade em roubar o lugar do Renato se isso for verdade.-Margot afirmou clicando no botão azulado preso ao interfone soltando um sorriso destinado a Ruth tentando disfarçar o temor de assustar os novatos pela pérola dentro da residência, cochichando logo: - Vamos perder boas crianças.
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Disque 120
ParanormalAparições fantasmagóricas, maldições, possessões e outras interações com o oculto se tornaram mais comuns em todo o mundo, resultando então na integração de instituições responsáveis por casos envolvendo o sobrenatural nas áreas de justiça. Casos co...