A lhama

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Nos tempos em que os animais falavam e os feiticeiros aterrorizavam aldeias nos quatro cantos do mundo existia uma princesa sem nome que adorava brincar no lago perto de seu castelo.

Embora as crianças, que também aprontavam por ali, dissessem a princesa que ela já passara da idade para se importar tanto com um brinquedo ou mesmo brincar, a herdeira do trono não ligava. A princesa não abria mão das horas de brincadeira, pois em breve, ela sabia, seria obrigada a amadurecer. O rei já estava procurando por príncipes nos reinos próximos, candidatos para com quem a princesa pudesse se casar no dia em que completaria 25 anos. E esse dia não demoraria muito.

Era terrível esse negócio de virar adulto aos 18 anos. A princesa achava um absurdo não poder mais brincar com seus brinquedos favoritos só porque crescera um pouquinho, e também não poder mais participar de esconde-esconde e pega-pega. Muito menos contar piadas. A princesa adorava contar piadas, mas em seu reino, uma mulher fazer piadas era estranho. E mais estranho ainda se ela contasse uma na presença de um homem, que poderia fazer as anedotas que quisesse e a quem quisesse e ninguém acharia estranho. Por que era concedido aos homens uma infância mais duradoura do que era para as mulheres? a princesa se perguntava às vezes. Nunca encontrava a resposta. E para esquecer um pouco dos seus problemas, ou tentar se distrair, a princesa sempre corria para perto do lago que havia atrás do castelo e jogava bola com os sapos que ficavam sobre as vitórias-régias.

Numa certa manhã, uns passarinhos entraram no quarto da princesa pela janela e a acordaram assobiando animadamente. A princesa acordou mal humorada, pois ainda era muito cedo.

Um passarinho pousou bem na cabeça dela.

一 Desculpa, princesa, mas queremos que conheça o novo animal do castelo.

一 Novo? É mais um vindo da floresta que meu pai resolveu acolher? 一 perguntou a princesa, balançando a cabeça; mas já era tarde demais. O passarinho cagou em seu cabelo.

O rei adorava os animais, e às vezes apareciam filhotinhos nos jardins do castelo, solitários e assustados, à procura de seus pais. Eles pediam ajuda ao rei, que fazia de tudo para que os bichinhos voltassem para suas famílias, no entanto, na maioria das vezes, os filhotinhos descobriram estarem órfãos. Era proibido caçar no reino, e a maioria dos seus habitantes era vegetariana, incluindo o rei e todos que moravam no castelo, mas ainda haviam aquelas pessoas más que atiravam nos coelhos e cervos para comê-los no jantar só porque achavam gostoso, nada a ver com fome. Havia os que sequestravam os gansos para encherem seus fígados numa alimentação forçada, usando um cano inserido na garganta. Uma coisa horrível! E o pior de tudo, eram os feiticeiros que capturaram os animais para usá-los em poções malignas.

一 Não 一 respondeu outro passarinho. 一 Esse estava perdido na cidade. É estrangeiro, princesa. Um animal todo esquisito.

一 Esquisito como?

一 Como... hm... Não sei explicar. Ele parece um camelo, um camelo bem pequeno, mas não tem corcova. Tem um pescoço longo, mas não chega a ser maior do que o da girafa. Tem quase o tamanho de um cavalo, mas não é um cavalo. E tem pelos que parecem lã, mas não é uma ovelha.

A princesa não conseguia imaginar o bicho que o pássaro descrevia. E se ele estava descrevendo certo, o novo morador do castelo talvez não fosse um animal e sim um monstro criado por algum feiticeiro. Só de pensar nisso, a princesa teve calafrios. No entanto a sua curiosidade sempre foi maior de que seu medo.

一 Irei ao lago após o desjejum para conhecê-lo. Espero que ele seja legal.

一 Ele é engraçado. E meio rude também. Às vezes ele cospe na gente. Ele diz que não controla isso, mas acredito que ele esteja mentindo.

A Princesa e a LhamaOnde histórias criam vida. Descubra agora