Capítulo cinco: sink and drown and die

2.1K 266 491
                                    

CAPÍTULO CINCO: SINK AND DROWN AND DIE

Duas semanas se passaram e Gabrielle sentiu que alcançou o ritmo de trabalho de todos os seus colegas. Entre shows em Liverpool, Cardiff e Manchester, ela pôde dormir melhor, se acostumar à rotina de horas dentro de ônibus e escrever a sua tese no pouco tempo livre.

Mas ela estava se divertindo. Era como viver um grande sonho, um escape temporário de sua pacata vida para algo eletrizante e mágico. Todas as noites eram incríveis e contrário do que havia pensado anteriormente, ela nunca se enjoava das músicas ou das apresentações porque embora o repertório e os atos fossem os mesmos, cada show, cidade e público emanava uma energia diferente, então sempre havia uma novidade e ela podia aproveitar aquilo tudo como se fosse a primeira vez.

As suas fotos também melhoraram bastante, como a própria Agnès elogiou algumas vezes. Agnès era uma pessoa fácil de se trabalhar, porque ela não mentiria para agradar, mas tampouco confundiria honestidade com grosseria ou humilhação e assim, Gabrielle tinha facilidade para encontrar aonde precisava melhorar ou manter a mesma qualidade.

Gabrielle não viu Taylor pessoalmente por duas semanas exceto quando ela estava em cima do palco. Ela não tinha certeza sobre o que aconteceu, mas talvez fosse a rotina se instalando; pelo menos era o que Gabrielle queria acreditar. Contudo, elas ainda conversavam por mensagens.

Não eram conversas contínuas, na verdade Gabrielle fazia alguns comentários sobre a apresentação enquanto Taylor estava no palco, como uma fã com um visual particularmente criativo ou um casal que noivou durante uma das músicas — E então Taylor respondia pela madrugada, porque ela tinha uma agenda de sono bagunçada. Às vezes Taylor contava alguma aventura que um de seus gatos viveu no hotel, como quebrar um vaso caro ou encarar o nada por horas. Assim, Gabrielle descobriu que Taylor tinha medo de fantasmas e acreditava que seus gatos os viam com frequência.

Gabrielle retornou para o seu quarto de hotel após a última noite em Cardiff. Eles iriam para a França na manhã seguinte, bem a tempo de sua família retornar da Bélgica para que Léontine pudesse ir a primeira noite em Paris, acompanhada de Frankie. Gabrielle estava feliz por rever sua irmãzinha, melhor amiga e pais antes que avançassem à Europa dentro pelos próximos meses.

Mas com a expectativa de rever Frankie, Gabrielle voltou a pensar na conversa que ela teve sobre descobrir sua própria sexualidade.

Ela sempre acreditou que era héterossexual, mas começou a se perguntar se isso era verdade mesmo. Ela estava se questionando, um processo que não gostaria de passar enquanto estava vivendo uma vida diferente da sua mas talvez fosse por isso que a dúvida encontrou um espaço na sua mente.

Porque ela nunca saiu do seu mundinho onde a vida universitária era tudo o que importava. Diferente do que muitos pensavam, a Panthéon-Sorbonne não foi um espaço de descoberta pessoal quando tudo o que Gabrielle fazia era ser consumida pelas obras de homens brancos de outrora que pouco sabiam ou se importavam com as mulheres, exceto quando colocavam o seu nome na arte que elas criaram. E embora a sua melhor amiga fosse lésbica e Frankie tivesse compartilhado algumas de suas experiências, Gabrielle sempre entendeu que isso era a Frankie. Não ela.

Só que Gabrielle não era tão ignorante quanto parecia. Sentada na sua cama de hotel, ela pensava em Corentin. Viu fotos e vídeos deles juntos. E tudo o que conseguia pensar era como, quando eles estavam juntos e ele queria fazê-la gozar, Gabrielle fechava os olhos e criava uma fantasia erótica em sua mente para que pudesse chegar ao ápice. Ela se sentia quase como um Bocage, com uma série de historietas que usou durante todo o seu relacionamento.

E nenhuma delas envolvia um homem.

Gabrielle deixou-se cair para trás, na cama, e esfregou as mãos contra o rosto. Ela era uma bagunça. Prestes a completar quatro semanas de viagem e tudo o que sabia sobre si mesma estava por um fio. O seu mundo pacato de livros e silêncio transformou-se em eletrizantes noites num show de pop com saideiras, álcool e uma mulher que despertava, talvez, uma certa atração. E que parou de flertar com Gabrielle porque entendeu que nada aconteceria e ela não conseguia evitar se sentir um pouco decepcionada porque nada aconteceria.

COLETTE • tswiftOnde histórias criam vida. Descubra agora