relíquia de família | único

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Gon acordou com um pulo quando a babá eletrônica anunciou um choro forte e ressentido vindo do quarto no fundo do corredor; sua movimentação brusca fizera com que Killua colocasse uma mão em seu ombro na tentativa de dizer que estava tudo bem e que aquilo era normal enquanto passava a outra pelo rosto, acordando a si mesmo. Já era o segundo mês que o moisés não habitava o canto da cama, porém nenhum dos dois estava perfeitamente acostumado com tal.

— Eu pego a mamadeira e você vai vê-la? — questionou o moreno, completando com um "certo!" ao ver o esposo assentir e levantar para consolar a figura tão pequena com tão bons pulmões. Em uma procura pelos seus chinelos ele admitiu em silêncio que talvez Killua estivesse certo sobre ser demasiadamente cedo para colocar Andrômeda em seu próprio quarto, entretanto não admitiria nem sob pena de morte, afinal sempre era muito cedo na visão paterna cautelosa dele.

Colocando água na mamadeira previamente preparada com fórmula, Gon abriu um pequeno sorriso pensando sobre o quanto tivera de teimar para que ele aceitasse que era hora de iniciar a introdução alimentar ou o quão emburrado Killua tornara-se na semana em que a menina não dormira em seu quarto pela primeira vez desde que chegara. Ele gostava de estar em constante vigilância e era protetor o suficiente — para não dizer demais — para que Freecss aguardasse as cenas que se desenrolariam quando fosse a hora do desfralde, retirada da chupeta e da mamadeira e a entrada na creche com um ar de riso; na cabeça de Killua a única coisa que não era discutível sobre ser cedo demais era a introdução à cultura e por isso Andrômeda já tinha uma pequenina coleção de brinquedos educativos e livros que faziam o coração de Gon derreter.

O aquecedor de mamadeira apitou, fazendo com que ele retornasse à realidade e terminasse o que já tinha começado antes de fazer o caminho de volta. Já não havia mais choro violento e conforme aproximava-se da porta de madeira escura ouvia apenas a voz de Killua, parando no batente ao vê-lo ninar a menina diminuta na meia-luz do abajur que projetava estrelas por todo o quarto com uma melodia que conhecia muito bem. Seu sorriso abriu cada vez mais enquanto ele apoiava a cabeça ali e admirava quieto toda a cena; se antes era por ouvir o albino pronunciar os "r" e "l" perfeitamente em espanhol, agora era por conta do que cantava para sua filha.

Eres una obra de arte, con solo mirarte algo que da paz... — o Zoldyck embalou Andrômeda e passou a ponta de seu indicador amavelmente pelo nariz moreno, nunca deixando de observá-la. — Cariño, eres un amor. Cariño, pintas en color...

Ouvir aquela música novamente trazia memórias inegavelmente boas à mente de Gon Freecss, que afundava em uma legião delas com a voz do esposo como guia.

— [ 💭

Gon observava o rosto esbranquiçado perfeitamente desenhado à sua frente com um sorriso que não abandonava seus lábios por nada. Era visível em sua expressão que estar com seus braços pelo ombro de Killua era divertido e seguro e que estava satisfeito de poder compartilhar aquele instante com ninguém menos que seu lindo garoto, que apoiava ambas as mãos em sua cintura no meio do salão para todos verem; quieto ele ponderava o quão saboroso era poder ser livre para amar.

Entrelaçando suas próprias mãos atrás do pescoço alvo ele deixou o sorriso satisfeito transformar-se em um daqueles seus típicos sorrisos travessos que faziam Killua recuar mil passos metafóricos pois nunca sabia o que viria.

Quiero tanto devorarte, esta vez besarte si es que soy capaz — cantarolou apenas para ele ouvir, apreciando as suas bochechas vermelhas e seus olhos cor de mirtilo arregalarem-se. Gon queria afogar-se naquele mar todos os dias e o faria se estivesse ao seu alcance. — Cariño, eres un amor; cariño, pintas en color.

✧ CARIÑO, killugon Onde histórias criam vida. Descubra agora