O dia mais quente do ano

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Escrito por: RedWidowB 

Notas Iniciais: Olá! Primeiramente, agradeço muitíssimo a qualquer pessoa que se disponha a ler esta fic, espero que gostem! Segundo, meu muito obrigada às pessoas maravilhosas que contribuíram para que ela ficasse pronta para publicação: SraLovegood pela betagem, tsukinojojo pela revisão e jvhoobi pela capa e banner lindíssimos! No mais, boa leitura!

 

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—... e hoje a cidade registra 37°C, batendo o recorde de dia mais quente do ano. Todos os dias, desde o início do verão, o âncora do jornal matinal anunciava o dia mais quente do ano, Min Yoongi percebeu.

Bebendo a vitamina de frutas vermelhas gelada com cubos extras de gelo, ele mastigou alguns pedaços de framboesa enquanto imaginava quanto aquele homem na televisão recebia para repetir a mesma notícia todos os dias. Obviamente, ele não pensava coisas ruins sobre a profissão ou o homem em si, só estava mal-humorado. Prendeu um cubo de gelo entre os dentes e quebrou-o lentamente, preenchendo sua audição com o barulho característico do ato. A voz feminina o cumprimentou, mas o gelo rangia mais alto que a passividade alheia.

— Bom dia... — a mulher repetiu, e ele engoliu um pedaço um pouco maior do que deveria da água congelada.

Ainda fitando a tela plana, sem prestar atenção na reportagem que passava nela, Yoongi acenou com a cabeça. Começou a se sentir autoconsciente sobre o calção que usava, a falta de camisa em seu corpo, os cabelos bagunçados e o fato de não ter escovado os dentes antes.

Ele respirou fundo, entornou a vitamina em um só gole e pulou do banco onde estava sentado. Do outro lado da bancada, a mulher suspirou.

— Você não precisa fugir de mim, Yoongi — ela disse em tom e cabeça baixos.

Yoongi não respondeu, porém pensou que, caso fosse fugir, deveria ter feito isso há anos. Ele caminhou em silêncio para seu quarto, pisando no chão gelado de mármore da sala de estar. As paredes claras de gesso branco, enfeitadas com pinturas e esculturas caras, não eram mais tão bonitas para ele. Na realidade, tudo o que sentia era a claustrofobia se tornando cada vez mais expressiva por enxergar aquele lugar como sua prisão.

As escadas o deixavam apreensivo, ainda mais pela visibilidade que tinha do chão abaixo das placas transparentes que a formavam, e os corrimãos pareciam apenas sujos demais para tocar, mesmo que a estrutura de metal refletisse a luz das lâmpadas amarelas penduradas no teto de madeira clara.

Era uma casa bonita, entretanto não para ele. Se tivesse escolha, não teria escadas para subir ou andares para contar, muito menos mobílias de preços exorbitantes espalhadas por cada canto inutilizado da mansão.

Se tivesse escolha, teria um quintal cheio de flores e cachorros latindo para os vizinhos que passassem pelo portão da frente, além de uma cozinha pequena, contendo apenas o necessário, e um quarto de casal para dividir com alguém especial.

No entanto, no lugar de escolhas, ele tinha uma empresa multimilionária e um casamento arranjado, uma mansão e infelicidade.

Sentia-se tolo sempre que pensava naquele tipo de coisa, principalmente quando levava em consideração o tamanho de seus privilégios econômicos. Nunca passou fome ou teve grandes dificuldades, nem sequer sabia o que era estresse, poderia afirmar. Sua vida sempre foi fácil, sem "nãos" ou incertezas mais complexas do que o que preferia comer em suas refeições... O único problema foi o preço que pagou por tal calmaria.

Aos vinte anos, Yoongi conheceu quem realmente eram seus pais.

Durante sua infância e adolescência, ele pouco ou nada os via, recebendo somente os resultados do trabalho que o casal se empenhava tanto em fazer crescer. Logo, não era impossível saber que ambos fariam de tudo para manter e dar prosseguimento ao que conquistaram; o garoto só não imaginava que ele seria uma das ferramentas para isso.

Depois de vinte anos sem conversar por mais do que alguns segundos com os pais, Min Yoongi se arrependeu de aprender o tom manso de voz de seu pai e a rispidez da mãe. Como se jorrassem nele as gotas de água quente que naquele momento o banhavam, os Mins despejaram sobre o filho a notícia de que ele iria se casar com uma desconhecida, por dinheiro.

Somente assim entendeu que, apesar de tantas mordomias, era apenas mais um instrumento nas mãos dos genitores.

Dez anos depois, enquanto esfregava a pele pálida de seus braços com o sabonete com perfume de cravo, Yoongi continuava a não entender por que seus pais o tiveram no fim das contas. E nem ao menos poderia questioná-los, uma vez que ambos faleceram em um acidente de carro não tão depois de seu casamento.

Dessa forma, além de sem respostas, os Mins deixaram o filho com apenas uma opção: permanecer no plano.

Ele não se achava capaz de gerir sua empresa, muito menos de enfrentar os sogros que, tal qual seus pais, nunca fizeram questão de saber sua opinião. Assim, permanecia no marasmo do cotidiano, sendo sustentado pelos rendimentos do trabalho que havia herdado e unido a uma mulher que nunca amou ou permitiu-se conhecer o suficiente.

A mulher em questão, chamada Lee Hyejin, compartilhava de sua apatia na maior parte do tempo, exceto em ocasiões raras como a daquela manhã, quando tentava se comunicar com ele. Em dez anos de casamento, nunca haviam divido a cama, imagine afeto.

Yoongi se sentia em eterno voto de silêncio, cercado por pessoas que não o inspiravam confiança suficiente.

Porém, em toda regra há uma exceção.

No instante em que colocou seus pés novamente no piso frio, Yoongi enxergou sua exceção, vestido em terno preto e sapatos de couro lustrados da mesma cor . Seus olhos se encontraram e o outro imediatamente virou-se de costas, dando privacidade ao Min.

Park Jimin, o segurança pessoal que Yoongi contratou pouco depois de se casar, estranhamente não lhe causava desconforto. Na verdade, sua presença permitia exatamente o contrário.

Ao redor de Jimin, ele se sentia mais que seguro, e não necessariamente por este ser o trabalho do homem. O Park não tinha um olhar julgador, muito menos se atentava apenas ao que lhe interessava nas poucas palavras que Yoongi deixava escapar cada vez mais.

Por não conhecer tão bem o sentimento, geralmente o Min não sabia nomear a sensação de conforto que sentia quando estava sozinho com Jimin, independentemente do único som que conseguissem ouvir fosse de seus passos ou da respiração calma de ambos.

Às vezes, como no caso daquela manhã, o Min pedia para que os dois andassem de carro pela cidade até o pôr do sol chegar, e tudo o que Yoongi guardava daqueles dias era o murmúrio de Jimin acompanhando as músicas do rádio ou os pequenos sorrisos que o segurança deixava escapar quando via crianças brincando.

— O senhor conhece a praia? — indagou o Park em algum momento perto do horário do almoço. Yoongi observava a movimentação dos carros do lado de fora, no trânsito caótico da cidade naquela hora.

— Acho que está muito quente para irmos — retrucou sem olhar em direção ao outro. — Mas, se foi o que pensou, eu realmente gostaria de almoçar frutos do mar. — Automaticamente seus olhos se voltaram para Jimin, pois sabia que a constatação o faria sorrir. Por algum motivo, sempre que Yoongi o via daquela forma, seu coração disparava como nunca.

Achava ainda mais incomum a forma que o segurança, sempre que encontrava seus olhos o observando, enrubescia. Perguntava-se se o calor em suas próprias bochechas significaria que também estava vermelho.

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Notas Finais: O que acharam dos passeios desses dois?

Veja-me | YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora