aquarela - guapoduo

III - gatinho pintorzinho

AVISO: Cellbit demonstra sinais de uma possível crise de ansiedade no meio do capítulo.

Cellbit franziu as sobrancelhas, confuso por alguns instantes. Que porra era aquela? Ele desgrudou o papel de sua mesa, relendo o número no canto inferior, grifado em azul. Que babaca! Usou o meu marca texto?!

- Isso foi você, Forever?

- Eu não, tá maluco. Sou fiel e não teleporto. Ainda.

Aos poucos a sala encheu, e Roier sentia o sangue fervendo, o rosto quente como fogo. Tentava disfarçar, se escondendo entre as mãos. Um colega até perguntou se ele estava bem, não era comum ele estar daquele jeito; constrangido e febril. Ele observava o loiro de longe, o viu pensar antes (ele fazia um bico fofo enquanto pensava) de pegar o celular do bolso.

No mames..

O viu digitar. Cellbit estava puto e confuso. Roier ia explodir. O aparelho dele vibrou no bolso do moletom. Engoliu a seco. Parecia que estava numa novela, tudo passava em câmera lenta.

marca texto azul

você:
por que usou meu marca texto? sabia que você parece um sociopata?

marca texto azul:
o meu tava longe gatinho
acalme-se

você:
gatinho?

Cellbit quase se engasgou com a água. Forever riu dele e depois se preocupou, dando tapinhas exagerados em suas costas. Ele tossiu e bebeu outro gole antes de voltar a conversa.

gatinho pintorzinho

você:
SE MURIO
NOOO

gatinho pintorzinho:
PORRA
pera
você é da minha aula de matemática então

você:
no
soy spiderman eu sei tudo que acontece pelo meu instinto aranha

gatinho pintorzinho:
você parece um predador

você:
ei como assim.
sabia que isso é um estereótipo muito errado
solo piensas eso porque soy latino

gatinho pintorzinho:
além de predador é burro
também sou latino

Uma risada baixinha vindo do fundo da sala. Cellbit só ria com seus amigos e para vídeos de animais dando mortais ou pessoas se fodendo. Roier tinha feito ele rir. Deixar aquele bilhete tinha sido um grande erro, ele sentia. Seu coração quase saía pela boca e a mão formigava. O professor entrou na aula. Celulares tinham que estar na mochila e ele não queria obe decer o careca, ainda estava se sentindo humilhado - doía ser chamado a atenção por seu professor favorito. Matemática era o que menos chamava atenção.

marca texto azul

você:
sobre a aula de artes
se for pra ser meu aluno não vai desistir na primeira aula
eu tenho a sala hoje depois das aulas
aparece lá

marca texto azul
a
beleza

Ambos deram um sorrisinho curto. Roier guardou o celular e tentou ao máximo concentrar-se na aula de matemática. Cellbit continuou mexendo no aparelho, ignorando as perguntas de Forever sobre a pessoa do post-it. O brasileiro não tinha ideia de quem era, até porque ele só falava com os favela five, mais ninguém - talvez o menino que fez um trabalho de gramática no primeiro ano, mas ele namorava uma menina. Conhecia todos do clube de artes, não eram muitos. Mais ninguém tinha mostrado interesse no começo do ano e a escola não aceitava alunos novos no meio do ano daquele jeito.