Capítulo único
Tw: Temas sensíveis psicológicos→ Rain ⛈️
As gotas de chuva caiam e escorriam calmamente na janela pouco aberta do quarto, o barulho era calmo. O aroma de terra molhada entrava nos pulmões do garoto ansioso que estava jogado entre os lençóis brancos da própria cama.
O som das folhas das árvores sendo levadas pelo vento frio da noite trazia um ar de calmaria para qualquer um que ouvisse, aquele era um ótimo dia para uma xícara de chá e uma leitura leve e curta. Infelizmente, esse não era o seu caso.
O garoto estava se remexendo em baixo dos cobertores como uma criança receosa com os trovões que ecoavam de vez enquanto do lado de fora, mas na realidade, o garoto não sabia o motivo de sua ansiedade, não era mais criança para estar com medo de chuva.
Ele estava com um vazio no peito, uma insegurança. Com medo do desconhecido, uma paranóia que fazia com que pensamentos e inseguranças passassem freneticamente em sua cabeça, fazendo ele se sentir mais e mais ansioso, seu peito pesava, sua respiração parecia desesperada como se pudesse parar a qualquer momento.
Ele então levantou um pouco, pegou um caderno com desenhos e adesivos em sua capa, e juntamente um pequeno kit de giz pastel. Se sentou em meio os cobertores, e ali na cama mesmo ele começou a rabiscar o caderno com desenhos sem sentido, porém muito expressivos e sentimentais. Era como se cada traço fizesse com que quem os observasse sentisse toda a melancolia que o garoto sentia enquanto passava o giz nas folhas de forma agressiva como se sua vida dependesse daquilo.
A verdade era que ele tava tentando colocar tudo pra fora o mais rápido possível, para que a sensação ruim saísse de si, para ele se livrar daquela sensação devastadora que não o deixava dormir.
Ele rabiscava tudo oque sentia, raiva, medo, ansiedade, solidão, ódio. Um verdadeiro pedido de socorro silencioso, como se estivesse discando o número da emergência para que alguém viesse o salvar de si mesmo.
Ele chorava e desenhava coisas abstratas que significavam arrependimentos de coisas do passado, de falas equivocadas, ações infantis, surtos de raiva sem sentido que o faziam parecer um grande idiota.
Será que ele merecia oque tinha?
Será que ele merecia as pessoas que o cercava?
Será que ele merecia carinho?
Será que ele merecia ser salvo?
Será que ele merecia ser amado por alguém?
Será que alguém o ama?
Essas frases e muito mais se passava na cabeça do não tão baixo garoto que agora tentava esconder sua cabeça em um travesseiro fofo, se segurando para não gritar por socorro. Afinal, ele não merecia ajuda.
Ele sentia que tudo e todo mundo estava contra ele, ele sentia que ele mesmo estava contra sua própria felicidade.
Todo tipo de pensamento o apavoravaEle repugnava tudo em si, seu corpo, seu rosto, sua pele, seus inúmeros defeitos, suas manchas, suas espinhas, seu cabelo mal definido, sua boca rachada e mal hidratada, sua personalidade, sua vida, seus desejos, o seu medo, a sua raiva, os seus surtos repentinos.
Ele queria gritar, gritar para o mundo ouvir, gritar para ele ouvir, gritar para tudo oque ele prendia dentro de seu peito sair e o aliviar.
Ele queria preencher o vazio em seu coração que sentia falta de algo que o mesmo não sabia oque era.
Ele precisava preencher o vazio de não se sentir vivo.
Porque essa é maior dúvida dele.
oq era se sentir realmente vivo?
Ele estava vivo?
Porque ele não se sentia vivo?A realidade é que ele só estava vivo de corpo, mas não de alma.
Ele desejou nunca ter nascido pela milésima vez em mais uma de suas madrugadas perturbadas.
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Ξ Rain • Desabafo Silencioso
Non-FictionEle chorava e desenhava coisas abstratas que significavam arrependimentos de coisas do passado, de falas equivocadas, ações infantis, surtos de raiva sem sentido que o faziam parecer um grande idiota. Será que ele merecia oque tinha? Será que ele m...