Sobre lidar com a realidade

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"Meu mundo inteiro simplesmente desmoronou.Eu nunca me senti tão sozinha."
      -Never felt so alone; Labrinth, Billie Eilish.

Após o beijo e um diálogo curto, Ravi levou a garota até sua casa, o trajeto ocorreu em um silencio barulhento.

Porém o dia amanheceu.

A realidade bateu em sua porta como a morte bateria no dia do julgamento final. A explosão inexplicável de sentimentos e ausência do mesmo fez seu estomago revirar como em uma montanha russa. 

O sol chegava tão forte em sua janela que se tornava impossível abrir os olhos, ou apenas não quisesse. Não queria acreditar em si mesma, em seu coração pulsando e em seu cérebro dando voltas. Sua armadura estava caída pela segunda vez em menos de 24 horas... mas dessa vez era algo destrutível.

Ela havia beijado Ravi. Havia beijado como jamais beijou alguém.

Layla o deu expectativas inalcançáveis e um beijo de se tirar o folego. A garota agiu no momento em que o sangue percorria quente por suas veias, portanto, agora que o sangue voltara a ser frio como gelo, seu corpo inteiro congelava em angustia.

O bloqueio emocional de Layla era incentivado por muitos motivos. Falsas expectativas e uma visão não muito boa de relacionamento em sua infância. Quando seus pais viviam apaixonados tudo parecia incrível, mas quando a garotinha viu o amor de ambos acabar lentamente e de forma ríspida, não pode pensar em outro sinônimo de amor que não seja "dor". Ao ver sua mãe se despedaçando em choros e machucados agoniantes, Layla decidiu que jamais experimentaria desses dois sentimentos que andam de mãos dadas.

Porém ela fez.

No início do ensino médio a de cabelos cacheados foi morar com o seu pai e entrou em uma nova escola... Ela se apaixonou profundamente e sequer viu como ocorreu, foi tão rápido quanto a decepção em saber que nada fora real. Os beijos e as doces palavras teriam sido apenas um passatempo para o outro, mas não para ela, não para a garotinha que ainda vivia dentro de si e vivenciou toda a angustia dos seus pais de perto.
Não havia sido apenas uma história inventada por algum artista nesse imenso mundo... Foi a vida de Layla, onde todos seus traumas foram postos sobre a mesa e duramente duplicados em questão de meses.
...

Após minutos imersa em seus pensamentos, Layla voltou para a realidade, sua respiração estava pesada como se todos aqueles sentimentos estivessem retornando da forma mais viva possível.

E realmente havia.

O quarto estava em um breu total, o coração batia tão rápido que ela poderia jurar que a qualquer momento pararia por completo. Os gritos abafados pela porta fechada pareciam estar dentro de sua cabeça; o choro contido de sua mãe estava bem ao seu lado, como em todas as vezes que ela ia para o seu quarto tarde da noite e a garota sempre parecia dormir.

Uma mentira absoluta.
Não podia dormir com tudo ao seu redor girando, vivia em alerta e em total angústia.

Mas em um feixe de luz tudo ficou claro.
Layla estava em seu quarto, sentada no chão gelado. As batidas na porta agora adentravam seus ouvidos, eram estrondosas e seria impossível não perceber se não fosse pelo seu devaneio.

Caminhou ainda atordoada até a porta.
Sua respiração lentamente se regulava.
E em uma falha rápida seu peito voltou a se fechar.
A porta aberta e o olhar preocupado sobre si foi o estopim para que o devaneio de minutos atras voltasse. Seus olhos não pareciam focar no garoto a sua frente e a voz do mesmo parecia distante.

- Por que demorou abrir? Fiquei preocupado.

Ele entrou sem prolongar muito o olhar sobre a garota. Estava a mais ou menos 20 minutos ali, apenas esperando por ela.

A voz de Layla ficou presa em sua garganta, lagrimas pareciam preencher seus olhos involuntariamente. Suas pernas cederam a pressão e foram de encontro ao chão.

-Me perdoe...

A frase saiu quase em um sussurro, mas Ravi ouviu e mesmo que paralisado em choque usou todas as suas forças para ir de encontro a garota. Seus braços a envolveram em um abraço quente e suas mãos acariciavam seus fios com muito cuidado para não desarrumar.

Layla diria que o toque e os carinhos de Ravi eram tão viciantes como seus beijos, mas não poderia formular tal frase. O silencio e as caricias permaneciam, o garoto sabia que não era momento para questionar, então apenas continuou a apertando contra si.

- Está tudo bem princesa, não precisa se desculpar

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