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A ressaca nunca foi tão pesada.

Maraisa não dormiu a noite, há noites estava tendo pesadelos, pesadelos que conhecia bem. Ela olhava para o teto, compenetrada na sujeira que ali se instalava. Tudo passava em sua mente como um filme, um filme de muito mal gosto. Ela não conseguira parar de pensar no que aconteceu na manhã anterior. Beijou não só sua professora, mas a diretora de sua faculdade. Sentia raiva por se ver tão frágil e vulnerável, estava exposta, sozinha.

E aquele momento, naquele banheiro gelado, como? Como foi tão intenso, ficaram ali por minutos que pareciam uma verdadeira eternidade. Maraisa decorou cada parte do rosto de Marilia, ela estava impregnada por sua presença, extasiada e não entendia.

Como podia? Acabou de conhecer Marilia,
faziam alguns poucos meses e foi provada
que a convivência entre as duas não
conseguia ser nada amigável, Marilia era
prepotente, arrogante, grossa, sentia prazer
em humilhar as pessoas diante das outras
e isso embrulhava o estômago de Maraisa e
por alguma maldita razão, ela não conseguia parar de pensar nisso.

Ela olhou para o lado e viu Maiara
dormindo, a amiga não falou com ela o dia
inteiro, não respondeu suas mensagens e
chegou tarde no dormitório.

Pensar nisso deixou Maraisa magoada, seus
pesadelos ecoavam na sua cabeça e não
sentia nem mesmo que tinha sua amiga
por perto pra passar por esse momento.
Ficar naquele quarto pareceu sufocante
para Maraisa, ela se levantou e colocou um
sobretudo e tênis, pegou sua bolsa de mão e
decidiu dar uma volta.

A noite estava bonita, a primavera ainda
estava sendo generosa com os cidadãos
Californianos, Maraisa podia ver claramente as estrelas pregadas no céu, uma brisa gelada bateu em seu rosto aquecido e a fez se arrepiar. Ela abriu sua bolsa de mão e pegou um cigarro de maconha bem bolado e pela metade. Se sentou em uma guia próxima ao seu dormitório e acendeu.

Os pesadelos... Devia ligar pra sua mãe? Essa era uma questão bem delicada em sua família e ela fazia de tudo pra não se pegar pensando nisso, mas diante de todos os acontecimentos, a forma como Marilia fazia sentir, o estresse que andava sentido, não conseguia controlar.

A vida de Maraisa embora desregrada sempre foi muito bem controlada pela morena, era bem simples, tinha tudo e a todos ao seu lado, conforme sua necessidade e de repente estava sendo traída por si mesma, pelo seu corpo e suas vontades, pelo seu coração e não sabia
reagir, não sabia lutar contra isso. Sentiu uma presença se aproximando, virou pra trás de pressa com medo.

- Noite agradável, não? - Perguntou seu
professor, Ravi.

Seu coração ainda acelerado a fez gaguejar
em nervosismo.

- Si...Sim.

- Desculpe, eu não quis assustar você. -
Desculpou-se com sinceridade.

Ravi usava pijamas e uma pantufa adorável do Pernalonga. Tinha um sorriso doce no rosto, tentando acalmar a jovem.

- Eu não sabia que professores dormiam aqui. - Disse Maraisa tentando esconder seu cigarro.

- Todos nós temos dormitórios, dormem
os que querem. - Disse ele percebendo o
que Maraisa tentava fazer, se aproximou
enquanto falava e pegou o cigarro de sua mão escondida dando um trago.

Maraisa tentou disfarçar o choque que teve ao ver essa cena.

- Quem prefere dormir no trabalho do que na própria casa? - Perguntou indignada.

Os dois estavam sentados um do lado do
outro agora, tragando e dividindo a metade
do cigarro que Maraisa acendeu.

- Quem sente que é preciso. - Disse Ravi
olhando para o céu distraído.

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