Suíte 202 | TAEKOOK

Saboreie

Taste - Stray Kids
"Não me faça mal, me deixe mal
Sou viciado em você"

ATO I
Ódio comum

   Tudo naquele momento parecia um imenso caos  - na verdade, era isso e muito mais. - Aquela noite exigiria que eu enfrentasse meu orgulho de frente. Não que isto me deixasse assustado ou ansioso; o que consumia meu peito era pura raiva. O grande problema não era o sexo por dinheiro, acho que o que mais me afetava era o fato de que eu não teria controle sobre quem passaria a noite. A falta de escolha sobre quem tocaria meu corpo era repugnante. Agora, eu seria exibido como um objeto de prazer, à mercê de um estranho, como um prato de comida. Mas a realidade é que quando coloco aquela máscara, sempre deixo de ser visto como uma pessoa. Tornava-me um mero produto à disposição de quem pagasse mais.

Naquele dia de merda, algo inesperado aconteceu - pelo menos, inesperado pra mim, pois havia esquecido completamente da prova que ocorreria hoje. Tudo por conta da minha conversa com Kim Seokjin, meu chefe, e suas palavras cruéis insistem em assombrar minha mente:

— Demorou mais do que deveria. Você tá' me devendo dinheiro pra cacete. — Sua voz naquele momento carregava um tom de impaciência. Eu me vejo neste exato instante relembrando de maneira vivida suas expressões e palavras maldosas, incapaz de esquecer: cabelos negros meticulosamente penteados para trás, um terno de grife impecável, o relógio Invicta Yakuza reluzindo em seu pulso esquerdo. Era evidente que ele era um membro da alta sociedade, envolto em negócios sujos e secretos. Seu exterior polido contrastava de forma repugnante com suas palavras ásperas. — Sua dívida comigo só aumenta e faz tic-tac, e quando explodir, eu vou ferrar com sua família. Quer dinheiro? Dança não sustenta ninguém aqui.

Naquela hora eu permaneci em silêncio, ouvindo suas palavras e buscando formas de descontar toda raiva e repulsa que se instalava dentro de mim, mas claro, mentalmente, pois tudo que eu desejo fazer fisicamente sou incapaz por um único motivo; dinheiro.

— Meu Caméléon, você sempre foi a porra de um prostituto e um dos bons, isso é algo de se orgulhar. Não acha? — uma alta risada escapou dos seus lábios ao olhar em meu rosto, que indicava a clara confirmação da sua pergunta, já que no momento me encontrava sério e olhando com asco. Enquanto ele estava se divertindo com isso, como se tudo isso não passasse de uma grande piada e tomar consciência desse fato me torceu o estômago. — Eu jurava que o garoto que sempre dei de tudo fosse mais grato, mas é o mesmo que esperar que um cachorro raivoso não te morda. — ele respirou profundamente, ao que sorria de maneira asquerosa. — Não me culpe, são apenas negócios. Pelo menos isso você sabe, não é?

Naquele momento, eu olhava para o chão repleto de raiva, os dentes rangendo de fúria. Eu odiava aquele homem, e minha aversão transbordava de meus olhos. Suas palavras humilhantes se alojaram facilmente em minha carne, tornando tudo mais difícil de se esquecer, criando assim um rancor em meu peito. Ele se aproximou, parando ao meu lado e segurando meu maxilar com seus dedos frios e longos, forçando-me a encará-lo. Bufei irritado no processo, ao que minha raiva se chocava com sua falta de emoção, contrastando com suas feições anteriores. Com um olhar frio ele me observava, como se aquilo não significasse nada. Então por um instante eu congelei.

— Eu te dei tudo, tudo que você quis. É por minha causa que sua irmã ainda tá viva. — Ele continuou, lembro-me de como sua voz estava impregnada de superioridade. — Além de tudo isso cuido de você e te trato como um filho. Esperei seu tempo, te dei a escolha e eu nunca ouvi um mísero agradecimento.

Naquele momento, engoli em seco, sentindo o gosto amargo da rendição se aproximar quando ele finalmente soltou meu queixo. Com brutalidade, virei meu rosto na direção oposta, rangendo os dentes enquanto meus dedos se apertavam com firmeza nos braços da cadeira em que estava sentado. Toda a minha raiva era direcionada àquele objeto inanimado, ainda o sinto nas minhas mãos.