Emily (XIV)

38 19 0
                                    

  Arrepio-me assim que chego ao jardim. Apetece-me chorar, mas está muita gente aqui e seria constrangedor, então aguento-me o máximo que posso.
- Está tudo bem? – pergunta-me a Lis.
- Está, estava só a apanhar ar. Está muito calor lá dentro. – digo, forçando um sorriso.
- Não me mintas, amiga, eu conheço-te. Sei quando estás mal. Estás assim desde que o maluco do Paul te sussurrou ao ouvido.
- Pois estou, amiga. – digo, abraçando-a e soltando uma lágrima. – Ele disse-me que entrou num quarto sem querer e que viu o James e a Amy enrolados.
- Impossível! – diz-me, limpando a lágrima com o polegar. – Tu não contaste à Amy que gostavas dele?
- Contei e é isso que me irrita. Aquela cabra sabia e atirou-se a ele. – digo, sentindo o corpo a arder de raiva.
- Mas o James também gostava de ti, não? Vocês estavam a progredir muito rápido. – pergunta-me.
- Eu achava que gostava tanto de mim como eu dele, mas pelos vistos enganei-me. São todos iguais, no fim só querem sexo.
- Não digas isso, ainda vais encontrar alguém que te merece realmente. Agora vamos curtir a festa.
- Desculpa, não consigo. Levas-me a casa, por favor?
- Claro, é rápido. Levo-te e volto. – diz-me, andando abraçada a mim.
Quando passamos pelo namorado da Lis, o Ron, eles fitam-se e ouço a Lis sussurrar:
- Vou levá-la a casa. Já venho.
- O que se passa? – pergunta o Ron, mais alto.
- Depois falamos, ok? – diz ela.
  Quando nos dirigimos para o carro, vemos o James a afastar-se da festa na direção oposta para onde vamos. Anda rápido, enquanto olha constantemente para o chão e coça intensivamente o polegar com o indicador na mão direita, um tique nervoso que já tinha visto que ele tinha. Não faz sentido ele estar a sair da festa tão nervoso, na teoria não se passa nada entre nós e ele estava a divertir-se. O que será que aconteceu lá em cima? Pergunto-me isto, porque quanto mais tempo penso, mais chego à conclusão que o Paul me mentiu. Ele sempre gostou de mim, mesmo depois de ter terminado com ele, por não sentir o mesmo que ele sentia. Pode ser só uma manobra para me separar do James, uma vez que estamos cada vez mais próximos, mas se foi isso, porquê que o James não veio ter comigo e olhou-me com cara de culpado?
- Emi, vens? – pergunta-me a Lis, de dentro do carro.
- Sim, vi o James a ir para ali. – digo, apontando para a frente, já dentro do carro.
- Ele saiu da festa? – pergunta, admirada.
- Pelos vistos. – digo, igualmente admirada. – Segue-o.
- O quê?
- Segue-o! – ordeno, ligeiramente mais alto.
- Estás louca, sabes o que ele pode fazer se nos vir? Os pais dele podem acabar connosco em dois segundos. – diz-me.
De repente, passa um carro disparado a ir em direção oposta à nossa. É ele.
- Por favor. – imploro à Lis, tocando-lhe no braço.
- Está bem, vamos lá. – suspira, e faz inversão de marcha o mais rápido que pode.
  Estamos numa zona residencial e a Lis está a andar a setenta quilómetros por hora nas retas, para tentarmos chegar mais perto do James. Sorte que hoje trouxe o Audi da mãe, que consegue lutar contra o carro do James.
  Rapidamente começo a perceber o caminho que estamos a fazer. É o caminho para minha casa. O quê que ele vai lá fazer? Ele sabe que estou na festa.
  Quando o James começa a abrandar, digo à Lis para parar o carro um pouco longe, para ele não perceber que está a ser seguido. Se calhar, em vão, e ele veio a minha casa porque percebeu que o estávamos a seguir. Esperamos uns minutos e vemos o James a sair do seu carro. Continua nervoso, que não é de admirar, sabendo que o vi a conduzir que nem um maluco e quase ter um acidente. Ele começa a andar no caminho de pedras que liga o passeio à minha porta. O que está ele a fazer? Vira-se tão de repente para trás, que nós assustamo-nos e abaixamo-nos a uma velocidade surpreendente. Quando voltamos a olhar, está ele a dar voltas em círculos e a dirigir-se à minha casa e voltar. Depois de algumas vezes a fazer isso, senta-se num degrau e fica a olhar para um ponto específico como se tivesse hipnotizado. Como sei que ele não vai sair de lá até eu chegar, dirijo-me a ele e finjo que acabei de chegar por acaso. Atrás de mim, ouço um sussurro da Lis a dizer 'O que estás a fazer? Volta!'. Agora é tarde demais.
- James? – chamo, fingindo-me admirada.
- Emily! – Levanta-se. Agora preciso olhar ligeiramente para cima, para o olhar nos olhos. – Precisamos de falar.
  A minha decisão foi tomada no pouco tempo que tive para pensar. Nos meus últimos relacionamentos, acabei por sair muito magoada, porque sempre confio nas pessoas demasiado rápido, acreditando que têm boas intenções. Agora vai ser diferente, será culpado até provar o contrário. Talvez esteja a ser injusta, mas não vou arriscar confiar mais uma vez.
- Não, não precisamos, James. Não hoje ou agora. Não sei o que se passou ou o que estás a fazer aqui, mas agora só me quero deitar.
- Mas,...
- Não insistas. Vai para casa e amanhã falamos.
- Está bem. Se é isso que queres. – responde-me, virando costas. – Boa noite.
- E... James? – chamo-o. Esqueci-me de lhe dizer uma coisa.
- Sim? – responde, voltando a cara para mim.
- Conduz com calma, sim? Manda mensagem quando chegares... para saber que estás bem e assim.
- Mando, boa noite. – despede-se e entra no carro.
  Neste momento, apetece-me chorar rios de água. Odeio ser fria com as pessoas, mas realmente tenho de parar de confiar cegamente nos homens que não conheço bem. Tinha de mostrar que existem limites. No fim admito que não resisti, ele estava a conduzir de uma forma demasiado perigosa.
  Olho para o carro da Lis e... ela já se foi embora. Mandou-me mensagem a dizer que foi andando e que quer saber novidades. Não lhe dou vista para ela não me chatear. Amanhã falo com ela. Agora só me quero enrolar nos meus lençóis incríveis e na minha almofada que me conhece melhor que qualquer amigo que tenha.

Moonsland (PT)Onde histórias criam vida. Descubra agora