Trauma e conforto

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Bora agarrava-se a Siyeon como se ela fosse seu farol particular, a luz que iria lhe guiar naquela noite de chuva intensa e trovões tão altos que a faziam tremer nos braços da garota de cabelos negros.

Siyeon tinha uma das mãos na costa da Kim e a abraçava mais forte sempre que a sentia estremecer. A outra mão fazia um carinho singelo em seu cabelo. Era a primeira vez que tinham um contato íntimo como aquele, sem brigas, sem indiretas. Era apenas Siyeon ajudando alguém em um momento difícil. E ainda assim, era estranho.

Estava tão acostumada a trocar insultos com Bora que ter a garota ali, tão frágil no seu abraço, era totalmente inusitado. Ela soluçava com a cabeça deitada em seu peito. As lágrimas pareciam não ter fim. O barulho do vento na janela do quarto faziam a menina se encolher ainda mais. Quase ao ponto de virar uma pequena bola humana no colo de Siyeon.

Vê-la daquela forma a fazia sentir falta da Bora irritante. Queria que ela parasse de chorar e arrumasse qualquer motivo para implicar consigo. Mas enquanto este motivo não vinha, continuava a fazer carinho no cabelo dela, esquecendo que os seus estavam ensopados da chuva que tomou no caminho, da blusa também molhada e do frio que sentia.

Bora não sabia, mas seu corpo também a esquentava.

O silêncio no ambiente não era incômodo. Apenas alguns ruídos eram ouvidos pelas duas garotas sentadas sobre a cama. A tempestade do lado de fora ainda era forte e muito possivelmente havia acabado com o luau do outro lado do lago.

Os ventos faziam com que alguns galhos de árvores próximas batessem em um ritmo repetitivo no vidro da janela. Aquele clima poderia ser o ideal para muitas pessoas que gostavam de sentir a sensação fria e o cheiro de terra molhada, todavia, Bora apenas queria que aquilo acabasse o mais urgente possível.

Bora ponderou alguns segundos com as mãos trêmulas agarrando a camisa da morena, mas ao ouvir o vento soprar mais forte do lado de fora, fazendo os barulhos no vidro da janela voltarem a acontecer, ela agarrou ainda mais o tecido, como se dependesse daquele ato.

Bora não havia notado até aquele momento,
mas as roupas de Siyeon estavam molhadas. Não ensopadas, mas ainda assim, suficiente para que pudesse causar um desconforto em usar.

Fechou os olhos com força. O medo cedeu um pouco de espaço para a vergonha, mas não se afastou de Siyeon. A pele fria da garota era confortável e não queria ter que olhar as orbes negras e assumir em voz alta seus medos já escancarados. Contudo, uma batalha interna começava a se iniciar no seu peito. Ficar ali quieta e deixar Siyeon protegê-la mundo lá fora, ou encará-la e evitar que a menina pegasse um resfriado por sua causa.

Preferiu a segunda opção, mesmo que isso significasse uma exposição inevitável. Então, afastou-se um pouco de Siyeon. O suficiente para que pudesse olhar em seus olhos e se perder neles, negros como uma noite sem estrelas. Manteve as mãos na barra da camisa da garota e por alguns instantes esqueceu o que falaria.

- Siyeon. - O tom em sua voz era quase inaudivel. Quase. Mas Siyeon havia escutado o chamado em forma de um sussurro.

Os olhos negros procuraram algo de errado na expressão da Kim, além das lágrimas marcadas em seu rosto e do olhar cansado. Siyeon queria certificar-se de que ela estava bem.

A morena respondeu com um leve aceno de cabeça, em um pedido silencioso para que a mais baixa prosseguisse.

- V-você está molhada – Bora praguejou-se mentalmente por ter gaguejado. Ela não sabia se era parte do medo que ainda sentia ou por estranhar estar tão próxima a Siyeon.

– Desculpe - Siyeon imaginou que havia molhado a garota com as suas roupas e afastou-se alguns centímetros para retirar o casaco, que era a peça mais fácil naquele momento. – Eu te molhei? - Indagou em um tom preocupado.

Acaso prometido | SuayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora