C A P Í T U L O 8

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A M É L I A • S O U ZA
❛ To you everything's funny
You got nothing to regret
I'd give all I have, honey
If you could stay like that ❜

Fugir de tudo parecia certo naquele momento. Respirar e largar tudo, sem explicar e sem avisar. Eu nunca quis a vida que deixei para trás. Viver em um mundo pequeno e ter uma vida singela com um marido, filhos e um cachorro vira-lata. Eu estaria fadada a esse destino se ficasse.

Minha família é enorme. Tudo é em grande quantidade; muitos tios, muitos primos e muitos irmãos. E eu era esperança deles. E não acho que decepcionei tanto assim. Ainda sim sou a única que terá um diploma. Mas não é o suficiente para que eu não tenha me tornado a ovelha negra. E eu gosto disso. O peso da pressão, da expectativa que todos estavam pondo em mim, estava me destruindo.

Foi quando fugi.

Barcelona foi o mais longe que consegui chegar. Porém, longe o suficiente. Ninguém me conhecia e eu podia fazer o que eu quisesse que não haveria nenhum vizinho fofoqueiro para contar para algum dos meus parentes. Eu fui verdadeiramente livre. Experimentei tantas coisas que jamais teria coragem de fazer se ainda estivesse na pequena cidade no interior.

No primeiro ano da faculdade eu fui a todas as festas. Até provei álcool uma vez e odiei pra caralho. Não bebo nunca! Eu beijei mais de duas bocas em uma noite. E transei muito nesse tempo. Meninos ou meninas. Tanto faz. Descobri coisas sobre mim. Encontrei meu estilo e um modo de viver que eu gosto.

Mas nem tudo dura para sempre.

Minha mãe é a mulher que eu mais admiro. Ela sempre foi forte e aguentou tanto por nós. Não só minha mãe, como eu e meu irmão que tivemos que conviver com as coisas que meu pai fazia. Todas as burrices que nos destruiu. Ele destruiu a mim. E ela suportou por muito tempo toda essa merda.

Apesar de ter escolhido ir embora, eu ainda sinto falta deles.

Eu sempre fui muito apegada ao meu irmão. Gabriel é o meu melhor amigo. Quando ele nasceu, não desgrudava nunca dele. Ele era uma espécie de boneco para mim, que brincava comigo e que eu cuidava. E para mim ele sempre vai ser meu irmãozinho que eu ajudava sempre que tinha prova de história.

— Você vai vir de volta em junho? — Meu turno acabou há uma hora atrás, aproveitei para ficar aqui mesmo. E esperei pela chamada de vídeo  que meu irmão faria.

— Aham. — Eu confirmo. — Já tenho a passagem comprada. — Esse é o meu último ano na universidade, estaria formada logo logo. E assim que tivesse meu diploma na mão, estaria voltando para o brasil, mas só em junho.

— Que foda. — ele disse e mudou de expressão de repente, abrindo um sorriso. — Quando você vier, bem que podia trazer uma camisa do Barcelona autografada.

Eu não contei para 'Biel sobre o que andou acontecendo comigo nessa semana estranha. Ele não faz ideia de que falei com um jogador do Barcelona e que ele claramente 'tava dando em cima de mim. E ele vai continuar não sabendo. Isso é meio engraçado, aleatório também.

Nós dois sempre fomos apaixonados por futebol. É uma das mil coisas que temos em comum. Ele muito mais apaixonado por futebol que eu. Quando era criança, lembro do meu irmão comemorando o gol que o Neymar havia feito na final da Champions League, ele estava tão impressionado. Acho que é algo comum entre crianças, serem apaixonados por determinado jogador. E eu entendo toda essa devoção.

— Vou ver se eu consigo.

Duvido muito.

— Sério? — Ele faz cara de confuso, parecendo realmente chocado. Olhei para ele em silêncio por um tento, mas assenti. — Achei que seria muito mais difícil. — Ele prolonga a palavra "muito". — Que esquisito.

DIE FOR YOU | Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora