Prólogo

9 3 0
                                    

Caindo em direção à minha morte. Era para minha vida ter acabado alí. Mas.. ao invés de acabar...

O alfa havia seguido por horas pelo céu eternamente escuro e sem vida. No entanto, era o momento de sobreviver... A matilha estava amedrontada. Apertavam-se uns aos outros enquanto recuperavam o fôlego. Carregando com mais densidade do mau cheiro que pairava no ar. O líder dos lobos estava paralisado. Um par de olhos negros como a escuridão estavam semicerrados. Vasculhando aos arredores e rapidamente retornando à sua frente.

O gigante lobo virou a cabeça para o lado. Passos. Rápidos como relâmpagos numa tempestade, ocupava o silêncio da imensidão entre às árvores. Os lobos assim como o líder temiam algo dentro da escuridão e sentiam acuados.

- estão vindo!

O líder permaneceu imóvel. A única coisa que ousou movimenta-se foram apenas os olhos em direção às sombras. A matilha sabiamente seguiu seu exemplo. O tempo permaneceu inerte por um longo momento, tão denso quando a escuridão. Os passos sumiram. O lugar retornou ao silêncio. Os pulmões do alfa petrificaram-se.

Seus dentes semicerram rigidamente. Não haveria tempo o bastante. Se as pernas dos outros tremessem tanto quanto as suas e certamente estavam, eles não teriam a menos chance de escaparem. Seriam destroçados antes que pudessem dar meia volta. " Sanguessugas malditas! Onde estão?" Questionou a si mesmo mentalmente. Com a velocidade com que os passos podiam se deslocar poderiam estar em qualquer lugar.

Seriam atacados e devorados ali mesmo. Silêncio. Apenas a respiração deles criando forma pelo frio que fazia.

Impossível contê-los. Nada. Além do bando e à suas costas apenas escuridão. Voltou seu olhar para frente. Atacariam por ali. Pensou na possibilidade de ordena que parte do grupo fossem em uma direção oposta. Ocasionaria confusão e talvez aumentasse sua chance de fugir com o restante.

Desistiu. Não haveria tempo suficiente para isso e talvez eles se separassem atacando todos. Mentalizou um plano para poderem escaparem. Então seus olhos negros brilharam. Os passos novamente. Concentravam-se ainda à sua frente, relativamente distante.

Desprendendo uma porção do ar preso nos pulmões, reiniciou a busca. Seus olhos aumentavam de tamanho e vermelhidão. Um suor cada vez mais denso descia pela testa. Umedecia seu longo pelo. Um dos lobos rosnou um pouco mais alto e afastou-se para o centro. Os olhos foram atraídos na direção oposta. Aquilo que movimentava-se dentro do breu já não estava no mesmo lugar.

O enorme animal, sempre atento a qualquer mudança na posição dos passos, lentamente aproximou-se do centro da matilha. Caminhou com a boca levemente aberta com os caninos brilhando, já estava decidido no que fazer, como se sua vida dependesse disso. E dependia.

Na boca um frasco que emanava um poderoso odor adocicado e sufocante. Mas para aquilo que caçava no breu funcionava como um irrecusável chamariz. A matilha recuava ou rosnava à medida que ele passava por cada um dos lobos. Encolhiam-se quando seus olhos deslizavam por eles. Cada lobo uivava aliviado por não ser o escolhido. O líder executava uma rápida e providencial seleção. Uma breve movimentação no sentido oposto precedeu um forte ranger na escuridão.

Decidiu-se pelo primeiro lobo que seus olhos puderam alcançar naquele instante. O jovem gemeu e tentou se desvencilhar, mas foi puxado pelo pescoço. Esperneou e tentou morder algum dos braços de quem o arrastava e isso causou um alvoroço entre os demais. A história se propagou alimentada pelo pânico de uma nova escolha, avançaram raivosamente sobre ele.

Ao som de seus rosnados frenéticos, subjugaram-no duramente. Mordendo com força sem piedade. Lançavam suas garras no corpo do jovem. Pisotearam-no até que suas pernas quebrassem. Seu rosto desfigurassem e os olhos inchados impossibilitando sua visão deixando quase cegos. Uivou com dificuldade.

Além de seus escassos ossos quebrados e o nariz fraturado, sufocando-se pelo próprio sangue que escorria da boca e narinas rasgadas pelas mordidas. Com dificuldade e dor para respirar seria sorte não ter mais do que uma dás costelas quebradas.

Imóvel sob os corpos de seus opressores, o jovem animal selecionado assistiu enquanto o alfa trazia o frasco, derramando o conteúdo em seu pescoço, tocando às feridas e misturando com o sangue.

Toda histérica movimentação precipitou a quebra dos inúmeros cuidados tomados até ali. De nada adiantava mais ser lento ou cauteloso. Pelo contrário, teriam que agir mais rápido possível a partir de agora. Ainda debaixo dos demais, o lobo viu-se indefeso. Desgarrado da matilha. Em completo pânico.

- segurem-no. Segurem-no com força!- esbravejou. O alfa apressou-se a unir novamente todos. Uma chance. Uma remota, desesperada e mínima chance. Tudo o que restava. Precisava proteger a alcatéia mesmo que sacrificasse alguém.

- espero que dê certo. Desabafou apavorado.

Quase sem fôlego e pronto para fuga gritou a plenos pulmões. Seus olhos mediam a escuridão. Os passos. Vinham em sua direção.

- soltem-no! Agora!

Os lobos obedeceram prontamente. Estava bastante machucado pela luta, mas permanecia imóvel. Recusava-se a afastar dali. A matilha rosnava ameaçadora para que não se reaproximasse, deixando-o isolado. Ainda assim, teimava em não afastar-se.

Tentou uma aproximação provocando um ataque ainda mais violento do que o anterior para refugá-lo. O líder ordenou com uma voz agressiva:

- vá! Afaste-se.

Uma ordem furiosa. O jovem não conseguiria enxergar, suas pupilas já inchados suficiente para cegá-lo. Arrastou-se pela neve desnorteado pela cegueira e dor. Respirar era um flagelo. Levantar-se e fugir, impossível com as pernas fraturadas. O pequeno gemeu alguma coisa, mas todos se viraram para um canto na escuridão.

Por um instante, ouviria um passo mais perto ali.

- vá agora! Ou eles o farão.

O pequeno tremia compulsivamente, mas arrastou-se alguns sofríveis metros, arrastando-se pelos cotovelos. Algo excitou-se na escuridão e, dessa vez, fez mais que passos pelo breu. Gritos esganiçados misturados com sons de asas de morcego no ar. Farejaram-no!

- malditos!- gritou o alfa aterrorizado.

Uma legião inteira de carniceiros vindo direto para eles. O rosnado foi ouvindo pelo bando. A ordem para fugirem dali o mais depressa facilmente foi despercebida. A matilha apavorada já havia empreendido fuga segundos antes, por conta do próprio pavor.

Algo ruim e faminto precipitava-se em direção ao lobo que ficará para trás. O jovem uivava de terror implorando ajudar. Sangrou em meio a neve, enquanto os membros do bando fugiam a toda velocidade desesperados. Não houve tempo para compaixão e nenhum sentimento de culpa naquela situação. Apenas um velado alívio. Os passos.

Distanciavam-se dos passos. E aqui, sob o breu da floresta negra, afastar-se dos sons significava sobreviver. Assim sendo, não havia o julgo para embates de consciência.

Não havia o certo ou errado. Apenas o necessário para proteger a alcatéia. Os passos. Vinham dos seus antigos inimigos. Pertenciam aos sugadores de sangue... Vampiros!

Finalmente poderiam respira aliviados. O céu estava novamente avista mostrando milhares de estrelas. Logo, a floresta ia ficando para trás.

Logo AlémOnde histórias criam vida. Descubra agora