I. Capítulo Único ✦

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Isso... pode parecer irônico, mas eu estou morrendo.
Eu sinto que estou, é um sentimento agonizante, eu não sei há quanto tempo estou aqui, nesse ambiente frio e isolado, deixado para morrer. Talvez seja um ato cruel, ou até mesmo burro, por parte da Ordem do Abismo. Por que não matar logo a pessoa que está correndo de um lado para o outro tentando impedi-los?

A maldição que caiu sobre nós, khaenri'ans, é uma grande pedra no sapato, eu poderia ter uma morte normal como a de outros seres humanos, mas a minha imortalidade e ânsia do meu corpo pela minha sobrevivência me impedem, a desesperada recuperação das células para me manter vivo é uma grande tortura. Eu não posso alcançar o descanso eterno, que toda alma cansada almeja, por causa dessa estupidez e castigo de Celestia...

O gosto metálico em minha boca não me incomoda mais, perdi as contas de quantas vezes virei meu rosto para cuspir o sangue no chão, acho que já esqueci qual o gosto normal de saliva ou até mesmo de algum tipo de comida, seja um cozido, uma fruta... eu não quero me permitir esquecer o gosto dos pratos da minha falecida nação.

Eu posso sentir todas as minhas células se dividirem num nível absurdamente rápido, assim como muitas outras também morrem na mesma velocidade, eu posso sentir meu peito estar acelerado, meu coração batendo forte, pulsando mais sangue pelas minhas veias, meus olhos se encontram pesados, mas todos os outros órgãos lutam pela a sua sobrevivência. Que humilhante... morrer assim, encarando o teto dessa maldita caverna enquanto uma estalagmite está me empalando, abrindo um enorme buraco em meu corpo velho, mesmo que de aparência jovem, e cansado.

Meu peito aperta ao lembrar da familiaridade no teto cavernoso.
Pequenos brilhos espalhados, como uma noite cheia de estrelas. Fechei meus olhos por um instante, sentindo uma maciez e textura familiar, uma risada carismática, um contato íntimo...

Estrelas...

"Meu amor, meu encantado de olhos azul-lilás... me perdoe."

A brisa fria e suave de Mondstadt batia em meu rosto de forma agradável, minhas mechas de cabelo voavam livremente ao ponto de ser irritante, já que eu sentia alguns fios cutucando meu olho, a belíssima e encantadora paisagem da nação da liberdade durante a noite, aconchegante para quaisquer aqueles que se sentissem sem rumo e precisassem de um lugar para ficar.
Num geral, uma nação tranquila apesar de todas as turbulências que um dia passou...

- Vem Dain, o que está esperando?

Olhei na direção da voz, admirando a beleza, de quem inconscientemente me apaixonei, por um breve momento. Seu jeito carismático e cheio de mentiras baratas, nas quais facilmente são percebidas uma vez que você o conhece muito bem, Kaeya Alberich...
É difícil não pensar que há algum tempo nosso primeiro encontro não foi tão amigável, e dele resultou nesse romance. Eu nunca quis me apaixonar, eu não devo, mas há algo nesse homem, que me intriga, não apenas o seu passado... talvez seja o seu jeito de ser, sua aparência.

- Me desculpe, eu me distraí.

O segui até a ponta da montanha, onde sentamos um do lado do outro, ele de um jeito mais relaxado e eu de uma forma mais reclusa, não demorou muito para que Kaeya já se encontrasse no chão todo largado e consumindo todo o espaço na grama verde e vívida.

- Você irá se sujar.
- Se sujar as vezes é bom, experimente.

Ele é assim, às vezes me lembra uma criança. Você pode contrariá-lo o quanto quiser, mas ele vai dar um jeito de te contornar e te manter preso numa parede.

- Como tem sido o trabalho? ‐ Perguntei, usando minha mão como apoio enquanto sentado.
- O de sempre. ‐ Senti um pouco de frieza em sua voz, eu não me importo muito na forma que ele me responde sobre seu trabalho.
- Exaustivo? ‐ Olhei para trás de relance e ele fez um sinal de positivo com os dedos. - É... sei bem, as viagens de uma nação para outra são cansativas também...
- Você vai ficar aí?
- O quê? ‐ Perguntei confuso e senti minha capa ser puxada com força, me forçando a deitar no chão e olhar para cima, olhando para o céu noturno. - Kaeya!
- Sim, Dain? ‐ Escutei uma risada baixa ao chamar sua atenção.

Me Traga de Volta Áquela Noite Estrelada - OneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora