A casa Williams
Alice era uma garota que morava em Londres e tinha o dom de ver entidades e até mesmo demônios. Sua avó, que também possuía a mesma habilidade enquanto estava viva, dizia que essas entidades não eram perigosas, contanto que elas não fossem importunadas. Um ano após a morte de sua avó, Alice decide visitar a casa dela. Chegando na casa ao entardecer, se lembra como ela era mais isolada do que as outras, cercada por muitas árvores, neblina e ar gelado. A casa tinha uma arquitetura tradicional vitoriana gótica, e corvos e corujas complementavam a paisagem, tornando-a ainda mais assustadora. Quando Alice se aproximou da porta e estendeu a mão até a maçaneta, surpreendeu-se ao ver que a porta se abriu sozinha. Suas memórias de infância se dissiparam imediatamente ao ver os móveis antigos e empoeirados. Ela passeou vagarosamente, observando os quadros e a decoração que sua avó tanto gostava. Ela foi até a enorme biblioteca da avó, que era o lugar em que Alice costumava ficar mais quando a visitava. Ela ligou as luzes da biblioteca e começou a observar o corredor que se estendia até o final, com estantes cheias de livros. Até que começou a sentir algo, como se algum imã estivesse puxando seu olhar naquela direção. Repentinamente, ela sentiu um peso em seu ombro, como se uma mão estivesse pousada ali. Rapidamente, virou-se para olhar para trás, mas não havia nada lá. Ela estava com a respiração pesada pelo sentimento de medo. Movida pela curiosidade, Alice começou a caminhar pela biblioteca, olhando e lendo pequenos trechos dos livros que pegava. Novamente, sentiu-se compelida a olhar para o final do corredor. No entanto, ao invés de encontrar o vazio como antes, ela viu uma criatura enorme, com a pele acinzentada, ressecada e cheia de feridas cobertas de sangue. A criatura não tinha olhos, nem nariz, apenas um vazio negro com uma boca enorme, cheia de dentes gigantescos e afiados. Naquele momento, Alice só pensou em uma coisa: correr. Sua visão começou a ficar turva e embaçada, e ela sentiu um forte cheiro no ar. Seus pés, que antes pisavam no chão de madeira, estavam agora pisando em ossos, carne podre e sangue. A criatura, que antes estava parada, começou a correr desajeitadamente por causa de seu corpo magro e esguio. A garota saiu correndo da casa, chorando copiosamente. Seus olhos, que antes derramavam lágrimas de desespero e medo, agora estavam cheios de sangue. Alice não conseguia mais dormir há quatro noites seguidas, então decidiu estudar livros e manuscritos religiosos sobre o passado da região de Londres na qual se encontrava a casa. Consumida pelo cansaço, ela acabou adormecendo. Em seus sonhos, ela caminhava por uma cidade medieval coberta pelo caos, com pilhas de pessoas mortas sendo queimadas e homens usando máscaras de couro que lembravam corvos. Alice percebeu imediatamente onde estava: aquilo não era um sonho comum, mas uma visão da Inglaterra medieval assombrada pela Peste Negra. O céu ficava vermelho como sangue, e pessoas deformadas e cadáveres se arrastavam em sua direção, com gritos de dor ecoando em seus ouvidos. Seres demoníacos tinham seus corpos rasgados por urubus enquanto olhavam fixamente para ela. Alice acordou assustada, com a cabeça doendo como se estivesse sendo cortada por facas. Ela estava determinada a encontrar ajuda. Ciente de que havia um exorcista oficial da igreja na diocese do interior de York, ela viajou para encontrá-lo. Tom Willis, o exorcista oficial da Igreja Anglicana, decidiu ajudar Alice e ambos viajaram para a casa dos Williams. Depois de compreenderem a história e usando dados da igreja sobre o período da Peste Negra, os sonhos de Alice foram confirmados: aquele lugar estava assombrado por raiva e tristeza. A vila, que antes tinha muitos habitantes, só se restou poucos sobreviventes. Pais e filhos foram deixados apodrecendo ao ar livre antes de terem seus restos e história cobertos por concreto e tijolos. Dentro da casa, eles procuraram sinais, entidades ou qualquer resquício importante. Subindo as escadas até o andar de cima. Tanto Alice quanto Tom começaram a ter alucinações, vendo símbolos demoníacos e ouvindo passagens bíblicas sendo enunciadas por uma entidade com voz sombria. Corpos de animais e pessoas podiam ser vistos pela janela pendurados em estacas. O andar de cima estava coberto de escuridão, mesmo durante a tarde. Então, uma entidade emergiu das sombras a poucos passos de distância deles, a mesma criatura que Alice havia visto na biblioteca e que a havia perseguido. Tom, segurando a sua bíblia, seu terço e sua cruz, começou a fazer uma oração enquanto questionava quem era aquela entidade. Ela se apresentou como Azazel, um dos sete arquidemônios de Satã. Questionado por Alice sobre o motivo de estar naquele lugar e atormentando os mortos e os vivos, o demônio riu e deu as costas para os dois. Tom continuou a proclamar palavras sagradas em latim, o que fez a entidade parar e ser envolvida pelo fogo aos poucos. Gritos de agonia começaram a ecoar pela casa, que começou a tremer e desmoronar. Os dois correram desesperadamente, mas quando estavam descendo as escadas, elas cederam e Tom caiu, quebrando a perna. Alice tentou ajudá-lo, puxando-o, Tom vendo que não poderia mais fugir disse a garota que a única maneira de acabar com a maldição seria destruir a casa, antes de falar mais alguma coisa um enorme pedaço do teto cai sobre o corpo de Tom, esmagando-o. Alice correu até a porta, chorando, mas ela estava trancada. O demônio apareceu sob a sua frente a encarando com seu rosto vazio, enquanto abre um sorriso perturbador com seus dentes afiados. Muitos anos se passam e a casa permanece até hoje no mesmo local repleta de histórias e principalmente mistérios. Muitas pessoas passam pela casa todos os anos, e a quem diga que ali é amaldiçoado, pois todos os dias exatamente ao pôr do sol sob uma das janelas do segundo andar uma mulher e um homem costurado e de aparências cadavéricas encaram fixamente o portão da propriedade que jamais fora aberta nesses 120 anos.
Criado por Samara L.L. e Suzana O.N.
No dia 14 de agosto de 2023.
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