Nado em água fria, estou a afogar-me nas minhas próprias mágoas das quais não me recordo. Preciso de me encontrar! Não me posso perder.
Acordo sobressaltado, o suor escorre-me pela face e sou incapaz de controlar a minha respiração ofegante. Livro-me da escuridão daquele quarto ao acender aquela luz pequena do candeeiro da mesa de cabeceira, no entanto da minha não me consigo desprender. Os meus olhos regalados de uma tonalidade esmeralda fixam-se naquela parede esbranquiçada já meio deteriorada pelo tempo. Não consigo desviar o olhar daquela simplicidade assustadora.
- Mais um dia...
Colocando um esforço sobre-humano nos músculos para me libertar daquela paralesia psicológica consigo erguer-me. Dirijo-me para a janela e abro-a, aqueles raios de sol douram esta realidade cruel onde eu vivo, tocam na minha pele e queimam.
- Tenho de sair para enfrentar mais um dia nesta terra desconhecida.
Assim que me lembrei disto, percorri o quarto em direção àquela porta de madeira antiquada e desci aquelas escadas rangentes. Assim que cheguei ao fim, vi aquela graciosa rapariga que me tinha alugado o quarto por uma semana. Os meus lábios contorceram-se num sorriso gentil, e logo estas palavras saíram-me da boca.
- Muito obrigada pela hospitalidade.
- De nada! Vejo que continuas formal como sempre.
A menina respondeu e soltou um risinho. Ela era uma pessoa pura ao contrário de mim. Eu nem uma pessoa era. Eu era um monstro.
- Vemo-nos por aí.
Não me queria despedir completamente dela. Assim, virei-me num pé e comecei a andar em direção ao mundo exterior. Agora tenho de ir a uma reunião, uma reunião com todos os meus parentes.
Quando cheguei a este mundo pela primeira vez, nunca considerei por um minuto ser uma pessoa insensível como fui no outro. No entanto, aceitei esta minha natureza da qual não consigo escapar. Afinal de contas, reencarnei como um demónio com poucas memórias acerca do seu passado. Lembro-me de ser uma pessoa impiedosa e mesmo que tente alterar esse facto agora, mesmo que me tente redimir não atingirei esse sonho.
Assim que alcanço o local de encontro detecto um cheiro singular: sangue e um desejo insaciável de matar. Esta aura é-me familiar.
- É ele....
Vou em busca da minha família e quando os encontro, vejo que não há como voltar atrás. Cristais escorrem-me pelo rosto abaixo, estão todos à beira da morte. Todos em sofrimento. Eu sei que somos criaturas diabólicas, somos o que os humanos não querem ser e supostamente não temos sentimentos. Então porque é que a minha garganta está a atar-se? Porque é que não respiro? Porque é que estou a chorar?
- Quem é que vos fez isto?
Solucei como uma criançinha enquanto fiz esta indagação.
- Foi o caçador de demónios.
Afirma o meu pai a perder completamente as forças, e de seguida a minha mãe...
- Desculpa-nos.
E foi aqui que os meus pais e irmãos morreram e me deixaram sozinho. E foi também aqui que ganhei uma raiva descomunal ao caçador. Neste dia em que dormi numa estadia e os deixei abandonados ao seu destino hediondo. A culpa foi igualmente minha, mas vou fazer justiça (nem que morra a fazê-la).
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a vingança de um diabo
FantastiqueNeste mundo em que demónios convivem com humanos existe uma luta terrível entre os dois. Os demónios são considerados pelos humanos como criaturas sem emoções e são perseguidos sem misericórdia pelos caçadores. No entanto, está na hora de uma revolt...