Sexta-feira, 7.
Toda sexta pela tarde eu frequentava a mesma casa. Na verdade parecia mais com uma mansão, havia um jardim extenso com arvores e um gramado sem muita vida, era como se a alegria não existisse naquela casa tão grande. Toda sexta eu estava ali, aperfeiçoando minhas habilidades no piano. Ah sim, o dono da casa era meu professor.
Passo toda minha sexta-feira aqui, é um pouco cansativo, confesso que faço mais pela minha mãe que por mim. É claro que sou apaixonado pela que faço, digo, tocar. No entanto ela se preocupa bastante comigo e meus infartos recentes não ajudam de fato na situação. Aconteceu pela primeira vez quando eu estava em casa, segundo os médicos meu nível de colesterol estava alto, como eu não imaginava se quer tratei daquilo o que me causou um infarto, depois do primeiro susto fomos ao hospital e não só meu colesterol estava alto como também descobrimos um tipo de doença rara no coração. Eu precisava de outro coração mas era difícil achar um doador e ainda com um coração compatível ao meu corpo. Uma chance em um milhão.
Eu tinha alguns meses, então decidi fazer isso pela minha mãe já que era seu sonho desde que eu toquei meu primeiro acorde em um teclado de brinquedo, tento também aproveitar minha vida ao máximo de uma maneira positiva, eu não ia virar um desajuízado só porque tinha pouco tempo de vida. Carregava comigo pequenas pílulas para diminuir a dor em meu peito, isso aliviava bastante, de resto minha vida era normal.
Não contei para meus amigos justamente por isso, queria viver normalmente, sem aquele pesar nos olhos, que meus pais carregam. Eles não precisavam saber do pior, sei que quando acontecesse, quando chegasse a "tal hora" me perdoariam e entenderiam.
O carro do meu pai se estaciona na frente da grande mansão "Até mais, Abeoji" digo sorrindo, saio do carro em seguida, com a mochila balançando sobre as costas caminho até a entrada cumprimentando o porteiro e enfim passo em seguida pelos seguranças. Eu não sei o que meu professor guardava de tão precioso nessa casa para existir dois seguranças á cada metro quadrado, sim era uma mansão, mas não havia necessidade de tudo isso já que a residência era em um bairro nobre.
Entro na sala ainda vazia, me sento em frente ao piano de madeira, deixando minha mochila ao chão perto do banco, abro a mesma retirando minha pasta de partituras. Ela estava um pouco desgastada, eu não era a pessoa mais zelosa do mundo, se duvidar até kimchi eu já derrubei ali. Coloco a sobre o apoio, mas não abro, ao invés disso toco uma simples escala de dó a dó.
Era assustador como uma escala de dó a dó pode se tornar mórbida.
— O que está esperando para começar, Minseok-ssi?
— Oh sim senhor! — respondi imediatamente ao ouvir a voz do meu professor, mas de onde ele surgiu? penso, abro minha pasta de partituras, passo as páginas finalmente parando na peça de Debussy. Uma das minhas preferidas, não é tão difícil de se aprender, mas passar emoção certa tocando-a é o ponto principal. Apesar de gostar de Debussy, Chopin que na verdade era meu preferido. Nocturne op.9, era uma das melhores tanto para se ouvir e também para se tocar. Sei que muitos não gostam de música clássica. Eu gosto tanto como gosto da contemporânea. Mas a magia da música clássica, ela transmite mil emoções sem nenhuma palavra, apenas o instrumental te instiga, seu coração se enche de uma melancolia ou euforia única.
Passei algum tempo tocando Clair de Lune, tentei começar Spring Waltz do Chopin, mas meu professor era severo. Fez com que eu repetisse até que ele pudesse achar um erro, não que ele tenha dito isso em voz alta, mas quando disse "Novamente, até eu dizer que está bom você não pode parar" deixou isso bem claro. O problema é que eu sou bom, após algum tempo você adquire certa prática, acho que isso o deixa frustado de algum jeito. Por isso ele pede que eu repita e repita.