O CAÇADOR

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A taverna Bode Manco estava envolta em uma mistura de aromas que criava uma atmosfera única. O cheiro de madeira escura e polida das mesas e balcões misturava-se com o aroma da cerveja recém-derramada, que deixava um traço amargo e frutado no ar. O odor adocicado das velas espalhadas pela taverna competia com o aroma suave de carne grelhada que pairava após as refeições dos clientes.

As risadas e conversas animadas criavam uma sinfonia de sons agradáveis que enchia o local. O som de copos batendo contra o balcão criava uma percussão improvisada. A lareira acesa no canto da taverna emanava calor, aquecendo os presentes, enquanto liberava um odor sutil de lenha queimando.

A porta da taverna rangeu lentamente quando se abriu, capturando a atenção de todos os presentes. Uma figura sinistra entrou, marcando sua presença com um ar de hostilidade.

— Bem, se não é o grande caçador de dragões, Vankar, o covarde! — Plínio, o dono da taverna, exclamou com um toque de sarcasmo.

Vankar adentrou o recinto e pediu uma bebida. Os draconis, conhecidos como os domadores de dragões de Azamor, seguraram firmemente suas espadas, desejando que ele cometesse um movimento errado.

Vankar era uma figura enigmática, trajando sempre roupas negras, o que só aumentava o mistério que o envolvia. As caçadas aos répteis alados eram a sua especialidade, e ele usava uma armadura confeccionada a partir das escamas duras como aço Alvengariano de um Petram, o lendário dragão-rocha. Uma cicatriz profunda atravessava seu rosto, resultado das batalhas mortais que travara contra os dragões. Carregava uma aljava com três balestras mortais, cada uma equipada com dardos envenenados. Com sua estatura imponente e força formidável, ele era uma presença intimidadora, especialmente para os nobres cavaleiros alados. Vankar era temido como um inimigo mortal pelos draconis.

Ele tomou um gole generoso de sua bebida.

— Estou em busca de um Praedator, e pelo que sei, nenhum de vocês é seu domador. Não quero confusão. — Sua voz rouca ecoou pela taverna.

— Esta cidade não está aberta a assassinos covardes. — Mensuero respondeu, desafiador.

— Você não é o domador de um Morten, o cuspidor de veneno? — Vankar perguntou, um sorriso insinuante cruzando seus lábios.

— Não sou dono do Morten, eu o domo. E se acha que pode capturá-lo, terá de passar por cima do meu cadáver. — Mensuero apontou sua espada na direção do pescoço de Vankar.

O caçador observou Mensuero de soslaio, ainda tomando sua bebida, enquanto a tensão na taverna aumentava.

— Veneno de Morten é algo que tenho em abundância. Estou atrás de algo mais valioso. As chamas brancas do Praedator. Será que alguém aqui pode me dizer onde encontrá-lo? — Ele deu o último gole em sua bebida.

Mensuero, apesar da hesitação, manteve sua espada erguida, desafiando Vankar.

— Não encontrará as respostas que busca em Azamor, caçador de dragões covarde!

Vankar, ao recolocar sua caneca vazia sobre o balcão com a mão direita, de repente puxou sua espada da bainha com a esquerda e girou-a rapidamente, cortando o ar onde Mensuero estava. A cabeça do cavaleiro voou e caiu sobre o balcão, e o corpo dele ajoelhou-se na direção de Vankar. Jatos de sangue quente espirraram, tingindo a taverna de vermelho. Os draconis na taverna olhavam atônitos para a cena, sem acreditar que o mais respeitado cavaleiro de dragão agora estava morto. Todos estavam paralisados pelo choque.

Vankar, então, se levantou e atravessou a taverna em silêncio, deixando para trás uma trilha de perplexidade e um corpo sem vida. Chegou ao centro do recinto.

— Eu sou Vankar, filho de Volnar, neto de Borar! Caço dragões não por prazer, mas porque essas criaturas são uma praga. Por onde passam, deixam um rastro de morte e destruição. Nós comemos suas carnes, vestimos suas escamas, usamos o seu fogo e negociamos suas especiarias. Aqueles que se colocarem entre mim e o dragão que estou buscando terão o mesmo destino que Mensuero. — Ele agitou sua espada, olhando para os presentes. — Alguém está disposto a arriscar?

Um silêncio sepulcral pairou sobre a taverna, e o corpo de Mensuero permaneceu de joelhos, uma imagem horripilante de sua morte repentina.

— Foi o que pensei! — Vankar declarou, limpando e embainhando sua espada.

O cheiro metálico do sangue recém-derramado após o confronto entre Mensuero e Vankar misturou-se aos aromas que definiam a taverna. Era uma lembrança vívida da violência que acabara de ocorrer naquele local, contrastando com a atmosfera anteriormente descontraída da taverna. Os draconis, agora em silêncio e atônitos, sentiram a mudança drástica no ambiente, com o cheiro de ferro no ar como um lembrete das consequências mortais do encontro. Em seguida, Vankar se retirou, deixando para trás uma dúzia de draconis ainda perplexos e o corpo inerte de Mensuero.

A MENINA, O CAÇADOR E O DRAGÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora