Para quem não leu o primeiro livro da serie (Cilada de uma paixão Adolescente)recomendo ler,para ter uma maior Entendimento dos acontecimento deste livro
2° livro
Desfecho de uma paixão adolescente
Aquela sensação angustiante, que vinha me acompanhando nesses últimos dias que antecederam a minha mudança, se transformou numa espécie de dor que eu imaginava sepultada nos confins da alma, assim que o chiado dos pneus do avião, tocando a pista, marcava o fim da viagem e a chegada a Denver. Uma década havia se passado desde a última vez em que eu me encontrava numa aeronave correndo ao longo desta pista. Naquela ocasião eu me perguntava se algum dia seria capaz de juntar os fragmentos de um coração estilhaçado. E hoje, decorrido todo esse tempo, eu não saberia dizer se tinha conseguido. As chagas estavam ocluídas, mas as cicatrizes permaneciam como emblemas de um sentimento ingênuo. Ninguém me aguardava no desembarque. Propositalmente não especifiquei a data de minha chegada. Primeiro, por que não queria dar esse trabalho ao meu avô, que de uns tempos para cá vinha sofrendo de uma angina só controlada por medicações, e segundo, por que eu não sabia como eu mesmo estaria me sentindo ao voltar ao lugar onde me foi inculcado o maior sofrimento da minha vida. Surpreendentemente cheguei com o espírito mais controlado do que eu imaginava. O nó oprimindo minha garganta estava lá, mas, contanto que eu não precisasse me expressar verbalmente, não lhe daria a chance de se transformar em algo mais embaraçoso.
O outono tinha a propriedade de ser pródigo aqui no Colorado. Em nenhum outro lugar a vegetação adquiria tantas cores que contrastavam tão admiravelmente com o céu azul.
Embora não soubessem da data exata da minha chegada, notei que estavam me aguardando com ansiedade, sabe-se lá há quantos dias. Isso ficou evidente quando o taxi estacionou na rampa de acesso à garagem, e minha avó se atirou, apressada, para fora pela porta da frente, seguida de perto pelos passos mais lentos do meu avô. Um sorriso marejado em suas faces encanecidas fez brotar aquelas lágrimas que eu vinha tentando conter a custo. Desde a mais tenra idade eu havia aprendido a reconhecer em seus rostos a incondicionalidade de seu amor por mim. E era desse amor que eu precisava agora. Havia algo tão familiar naquela cena, como se fosse a reprise de um filme. Minha memória fez um retrocesso de dez anos, e lá estavam sentimentos semelhantes aos que eu vivenciava agora, uma enorme incerteza quanto ao futuro, e a lembrança de algo dolorido no fundo da alma.
- Como você está lindo, querido! - disse minha avó, se lançando em meus braços. Acho que aos seus olhos eu sempre fui lindo, o único neto de um filho único, por isso nunca acreditei muito em seu juízo nesse aspecto.
- Que saudades vovó! - estava difícil articular as palavras diante daquele reencontro. Embora nós nos tivéssemos visto, pela última vez, há quatro anos, quando eles estiveram em minha formatura.
- Benvindo ao lar filho! - disse meu avô, me apertando num abraço comovido. Subitamente me lembrei de que foi graças a esse homem, perspicaz e amoroso, que eu soube o que era ter um lar.
Não me surpreendi por encontrar a casa toda redecorada. Era graças a essas mudanças que ela fazia pela casa que minha avó se mantinha viva e sintonizada com o tempo. Foi a maneira que encontrou para dar sentido a sua existência. Meu quarto no primeiro andar continuava a disposição, mais jovial e mais austero, mas ainda sofisticadamente aconchegante. Não quis quebrar o encanto nem diminuir a satisfação que eles experimentavam com o meu regresso, nesses primeiros dias, mas eu não ocuparia aquele espaço por muito tempo.
- Foi uma surpresa quando você ligou dizendo que estava vindo trabalhar em Denver. Pensei que aceitaria aquele posto, que seu orientador lhe ofereceu, junto à sua equipe em Boston. Você não estava tendo uma carreira esplendida com ele? - questionou meu avô.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cilada de uma paixão Adolescente(Desfecho)2°livro
RomanceUma década havia se passado desde a última vez em que eu me encontrava numa aeronave correndo ao longo desta pista. Naquela ocasião eu me perguntava se algum dia seria capaz de juntar os fragmentos de um coração estilhaçado. - Você seria capaz de vo...