Meu Luke! Você está de volta. - sussurrou, o tom de sua voz era pasmado. - Meu Luke! - continuou, como para se convencer da realidade.
- Eu sou o seu Luke! - disse o garotinho, em tom de repreensão.
- Sim, filhão. O papai sabe que você é o meu Luke. - garantiu, apertando o filho contra o peito, num instinto protetor, como muitas vezes fizera comigo. Aquilo foi demais para minha alma solitária. Os olhos úmidos deixaram rolar duas grossas lágrimas pelo meu rosto, que eu quis afoitamente secar com as costas da mão, mas ele foi mais rápido, e as amparou com o polegar, enquanto parte da mão se encaixava suavemente nas curvas do meu rosto. Quem circulava ao redor se perguntava o que significava aquela cena. No entanto, o mundo desaparecera para nós dois.
- Por que o doutor Luke está chorando, papai? - perguntou, incrédulo, o garotinho que não desviava seu olhar atento e curioso de mim.
- Acho que ele ficou feliz por eu vir buscar você. - retrucou Jeff, com uma criatividade que me espantou. De alguma forma a resposta do pai deixou o garoto mais confuso.
- É muito bom saber que você está de volta. Você não imagina quantas vezes eu sonhei com isso. - disse emocionado, encarando meu olhar perdido.
- Foi bom revê-lo, e saber que está tudo bem com você. - revidei. Embora soubesse que esse reencontro estava reabrindo as chagas do meu coração.
Embora muito cansado, dirigi até Boulder. Não conseguiria dormir sozinho no meu apartamento, e a casa dos meus avós me pareceu ser o abrigo ideal para digerir aquele reencontro. Era quase meia noite quando encontrei meus avós, ainda acordados, vendo TV.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntaram espantados com a minha chegada.
- Não! Eu só quis vir dar um beijo em vocês. - balbuciei, numa mentira branca que eles não engoliram, muito embora não insistissem para saber o real motivo da minha visita inesperada.
- Você deve estar exausto. Vimos a reportagem do acidente e a menção de que os feridos foram levados para o Saint Luke's. Como estão as crianças? - perguntaram curiosos.
- Três estão em estado muito grave, e temo pelo prognóstico. Algumas ainda permanecem internadas, mas a maioria teve ferimentos leves e foram liberadas. - respondi.
- Está com fome? Quer que eu prepare alguma coisa? Você já jantou? - inquiriu minha avó.
- Não se preocupe vovó, comi algo no hospital, está tudo bem comigo.
- Está tudo bem mesmo? Você me parece muito cansado. - disse meu avô, com aquela perspicácia que lhe era peculiar.
- Sim, está tudo bem. - retorqui, sem convencê-lo. - O filho de Jeff Richmond e o motorista que o trazia da escola também se envolveram no acidente. O garoto teve uma fratura num dos braços e está bem, o motorista foi levado inconsciente para o pronto socorro adulto e, pelo que eu soube, precisou passar por uma cirurgia para remoção do baço. Eu não sabia que o Jeff havia se casado. - acrescentei, tentando dar às minhas palavras um tom displicente.
- O noticiário explorou bastante o envolvimento do filho dele no acidente. Aliás, a família Richmond continua sendo alvo dos repórteres. - disse meu avô.
- Como assim? - indaguei
- Eles fizeram uma espécie de balanço da vida do Jeff. Mencionaram desde a morte do avô e do pai dele naquele acidente há muitos anos, até a perda da esposa, dois anos após o casamento. Ao mesmo tempo, ressaltaram o sucesso na vida profissional. Desde que ele assumiu os negócios da família as empresas vêm prosperando e a fortuna dos Richmond se consolidando como uma das mais sólidas do país. - revelou minha avó.
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Cilada de uma paixão Adolescente(Desfecho)2°livro
RomantizmUma década havia se passado desde a última vez em que eu me encontrava numa aeronave correndo ao longo desta pista. Naquela ocasião eu me perguntava se algum dia seria capaz de juntar os fragmentos de um coração estilhaçado. - Você seria capaz de vo...