5-Um novo amanhecer*FIM

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Alguns dias depois meus avós se deslocaram até Denver com o pretexto de jantarem comigo, movidos pela saudade e pela minha ausência, cada vez mais frequente, nos rotineiros jantares de quartas-feiras quando eu os costumava visitar depois de um expediente mais curto que o normal no hospital. Ao chegarmos ao Palace Arms onde, segundo minha avó, se comia o melhor peito de pato com cogumelos lagosta e molho de cerejas que existe, e nos acomodarmos numa mesa ao lado da cômoda renascentista, encimada por um enorme espelho que refletia o glamour do ambiente através da luz aconchegante dos enormes lustres que pendiam do alto pé-direito; eu já desconfiava que aquele jantar tinha um propósito que ia além da falta que estavam sentindo da minha presença. Minha avó foi a primeira a abordar o assunto, assim que terminei de, literalmente, devorar o hors d'ouvre, pois não havia comido nada descente desde o café da manhã.

- Como está sua amizade com o Jeff Richmond? Vocês conseguiram resgatar aquele mesmo espirito de cumplicidade que mantiveram na juventude? - disse, displicentemente. Embora procurasse pelas palavras com um cuidado exagerado.

- Normal, eu acho. - respondi, tentando ler na expressão cautelosa dos dois, o motivo para aquela pergunta.

- Pelo que me lembro vocês eram bastante ligados na época do colégio. - continuou minha avó.

- Sim. Ele gostava de estudar comigo, principalmente as matérias em que tinha certa dificuldade. - disse, começando a me sentir um tanto quanto encurralado com esse assunto.

- Logo depois que você partiu ele apareceu lá em casa perguntando por você. - revelou em seguida.

- Anh .... E o que ele queria exatamente? - perguntei, incomodado com aquela revelação, que me pareceu ter mais conteúdo do que aquele que ela estava me contando.

- Ele queria nossa opinião se deveria ou não ir atrás de você. - disse, me encarando para não perder um detalhe da minha expressão.

- Como assim? - perguntei corando, e sentindo o desconforto se apoderando de mim. O que eles sabiam a respeito do nosso relacionamento? E até quanto sabiam?

- Ele nos disse que havia cometido um grande erro em relação a você. Que estava arrependido. Que você partiu por culpa dele. E, que estava apaixonado por você. - as palavras dela saíam de sua boca, entre uma garfada e outra, com uma naturalidade impressionante.

- Bem, .... Isto é, eu .... quero dizer, ele disse o que? - balbuciei, tentando me recompor, e fazendo força para encará-los.

- Que estava apaixonado por você. - repetiu meu avô. - Você também se sentia assim em relação a ele? - inquiriu, em seguida.

- Acho que ... Sim, sim, acho que sim. - como estava sendo difícil admitir isso perante os dois. Mas sempre fui sincero com eles, e não seria agora que eu ia começar a inventar mentiras. Era hora de encarar os fatos como eles realmente eram.

- E por que você nunca falou sobre isso conosco? Por que se martirizou tanto e se afastou de nós, da sua casa, desse sentimento? - perguntou minha avó.

- Eu não soube como lidar com isso. Achei que me afastando para longe, me dedicando só aos estudos tudo ficaria bem. - argumentei.

- E não foi isso o que aconteceu, não é? Bastou reencontrá-lo para que o passado aflorasse novamente. - disse meu avô.

- Foi. - sussurrei, envergonhado. - Ele inclusive quer que eu vá morar com ele. - acrescentei, determinado a abrir o jogo de uma vez.

- E você ... ? - indagou minha avó, querendo saber minha posição quanto a essa questão.

- Eu, bem ... não sei! - exclamei. - Há momentos em que tenho a certeza de que é o que eu quero, e em outros, estou cheio de receios. É muito confuso. - emendei.

Cilada de uma paixão Adolescente(Desfecho)2°livroOnde histórias criam vida. Descubra agora