Alguns dias depois meus avós se deslocaram até Denver com o pretexto de jantarem comigo, movidos pela saudade e pela minha ausência, cada vez mais frequente, nos rotineiros jantares de quartas-feiras quando eu os costumava visitar depois de um expediente mais curto que o normal no hospital. Ao chegarmos ao Palace Arms onde, segundo minha avó, se comia o melhor peito de pato com cogumelos lagosta e molho de cerejas que existe, e nos acomodarmos numa mesa ao lado da cômoda renascentista, encimada por um enorme espelho que refletia o glamour do ambiente através da luz aconchegante dos enormes lustres que pendiam do alto pé-direito; eu já desconfiava que aquele jantar tinha um propósito que ia além da falta que estavam sentindo da minha presença. Minha avó foi a primeira a abordar o assunto, assim que terminei de, literalmente, devorar o hors d'ouvre, pois não havia comido nada descente desde o café da manhã.
- Como está sua amizade com o Jeff Richmond? Vocês conseguiram resgatar aquele mesmo espirito de cumplicidade que mantiveram na juventude? - disse, displicentemente. Embora procurasse pelas palavras com um cuidado exagerado.
- Normal, eu acho. - respondi, tentando ler na expressão cautelosa dos dois, o motivo para aquela pergunta.
- Pelo que me lembro vocês eram bastante ligados na época do colégio. - continuou minha avó.
- Sim. Ele gostava de estudar comigo, principalmente as matérias em que tinha certa dificuldade. - disse, começando a me sentir um tanto quanto encurralado com esse assunto.
- Logo depois que você partiu ele apareceu lá em casa perguntando por você. - revelou em seguida.
- Anh .... E o que ele queria exatamente? - perguntei, incomodado com aquela revelação, que me pareceu ter mais conteúdo do que aquele que ela estava me contando.
- Ele queria nossa opinião se deveria ou não ir atrás de você. - disse, me encarando para não perder um detalhe da minha expressão.
- Como assim? - perguntei corando, e sentindo o desconforto se apoderando de mim. O que eles sabiam a respeito do nosso relacionamento? E até quanto sabiam?
- Ele nos disse que havia cometido um grande erro em relação a você. Que estava arrependido. Que você partiu por culpa dele. E, que estava apaixonado por você. - as palavras dela saíam de sua boca, entre uma garfada e outra, com uma naturalidade impressionante.
- Bem, .... Isto é, eu .... quero dizer, ele disse o que? - balbuciei, tentando me recompor, e fazendo força para encará-los.
- Que estava apaixonado por você. - repetiu meu avô. - Você também se sentia assim em relação a ele? - inquiriu, em seguida.
- Acho que ... Sim, sim, acho que sim. - como estava sendo difícil admitir isso perante os dois. Mas sempre fui sincero com eles, e não seria agora que eu ia começar a inventar mentiras. Era hora de encarar os fatos como eles realmente eram.
- E por que você nunca falou sobre isso conosco? Por que se martirizou tanto e se afastou de nós, da sua casa, desse sentimento? - perguntou minha avó.
- Eu não soube como lidar com isso. Achei que me afastando para longe, me dedicando só aos estudos tudo ficaria bem. - argumentei.
- E não foi isso o que aconteceu, não é? Bastou reencontrá-lo para que o passado aflorasse novamente. - disse meu avô.
- Foi. - sussurrei, envergonhado. - Ele inclusive quer que eu vá morar com ele. - acrescentei, determinado a abrir o jogo de uma vez.
- E você ... ? - indagou minha avó, querendo saber minha posição quanto a essa questão.
- Eu, bem ... não sei! - exclamei. - Há momentos em que tenho a certeza de que é o que eu quero, e em outros, estou cheio de receios. É muito confuso. - emendei.
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Cilada de uma paixão Adolescente(Desfecho)2°livro
RomanceUma década havia se passado desde a última vez em que eu me encontrava numa aeronave correndo ao longo desta pista. Naquela ocasião eu me perguntava se algum dia seria capaz de juntar os fragmentos de um coração estilhaçado. - Você seria capaz de vo...