Capítulo 1

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2 Anos Atrás

A água do chuveiro está escaldante. Queima-se ao longo de minha pele, tornando-a um lindo tom de rosa.

Eu não me importo, pois eu quero tirar todo esse sangue de mim.

Esse não é meu sangue, tenho nojo de mim mesma.

Estou sentada no chão do chuveiro com meus joelhos puxados para meu peito.

Minha mente está viajando para os acontecimentos que me deixaram nesse estado.

Recuso-me a pensar sobre isso, recuso-me a pensar sobre o que tenho passado.

“Não se culpe, o monstro tinha de pagar.” Uma voz ecoava na minha cabeça.

Você nem o matou, você apenas se defendeu dele, finalmente seu amor não cegou seu juízo, você foi forte pra enfrenta-lo.

Eu balancei a cabeça, empurrando para longe os pensamentos.

Já passei por tanta merda nesses últimos anos, passei por coisas que garota nenhuma na minha idade gostaria de passar.

A partir de hoje recuso-me a deixar que qualquer outra coisa ruim aconteça novamente.

Essa é uma promessa que pretendo cumprir até meu último suspiro.

Levanto-me do chão esfrego meu corpo até não restar mais sangue em mim.

Preciso ser rápida.

Tenho de sair dessa cidade, o quanto antes.

Seco meu corpo na toalha.

Olho no espelho do banheiro.

A pessoa que vejo na minha frente não pode ser eu, essa não sou eu.

Meu rosto está cheio de hematomas, minha pele coberta de cortes ainda está vermelha, meus olhos estão pálidos, e dilatados.

Estou bastante magra. 

Dou um pequeno suspiro.

Passo com os dedos no meu cabelo, pego as luvas em cima do lavatório e passo a tinta de cabelo em mim.

Ele queima o meu couro. 

Meu cabelo é louro natural.

Mas preciso mudar.

Estou indo embora, eu tenho de ser alguém diferente, eu quero deixar o passado para Trás.

Eu mereço ter uma chance de viver.

Finalmente, estava saindo daquele inferno que chamo de vida.

Coloco minha cabeça sob a torneira da banheira e lavo os cabelos

Enrolo a toalha em torno deles, e visto a única roupa que tenho.

Assim que estou pronta, retiro a toalha do cabelo e penteio eles com os dedos.

Olho no espelho e não reconheço a menina olhando de volta para mim.

Seu cabelo é preto, o meu louro. Meus olhos são azuis, os dela cinzentos.

Eu parecia uma cheerleader loura.

A garota na minha frente parece a branca de neve em uma noite de tempestade gótica.

A única coisa que me lembra um pouco a menina loura que um dia eu fui, são meus lábios.

Eles eram por natureza de um vermelho vivo, e carnudos.

Mas agora com o cabelo preto, eles se destacavam mais. 

Saio do banheiro. Pego na minha mochila, coloco ela nas costas, e tiro o dinheiro do bolso das calças para pagar o motel decadente onde passei a noite.

Depois de pagar, entro no meu novo fiat punto, que minha mãe me deu.

Pronta para começar uma longa viagem, até ontem, eu era uma boneca movida por meio de cordéis manipulada por um monstro atrás de uma tela, em um palco em miniatura, a boneca que permitiu ao titereiro que roubasse meu coração.

Mas a partir de agora, não mais.

Só quero ir embora, e não olhar nunca mais para trás, levo na lembrança apenas a promessa que fiz para minha mãe.

" Assim que eu conseguir mamãe, eu venho te buscar, te prometo, só preciso ter algum dinheiro, pra poder dar uma vida melhor pra nós duas."

Ao lembrar de minha mãe uma lágrima quer escorregar, mas não deixo, eu vou sentir muito a falta dela, mas virei buscá-la, demore o tempo que demorar, eu apenas sei que vou.

Essa é uma promessa que pretendo cumprir.

Ao olhar para a estrada diante de mim eu sorrio.

Finalmente, eu estou indo para viver, não interessa de que maneira seja.

Simplesmente o que me importa é que estou livre novamente.

Livre, embora meu coração ainda esteja com ele....

Por Detrás Da MáscaraOnde histórias criam vida. Descubra agora