Vilarejo incerto

Lenhador

- Queria poder ser útil um dia... Concederam-me Machado e luvas, mas não um trabalho para faze-lo. - Disse com certa secura em sua boca.

- Espere e um dia lhe chamarão, o céu sabe para quem brilhar. - Respondeu sua esposa com finura.

Não há longínquo sonhos que este homem não tenha "Atravessarei estes malditos céus fechados então!" pensava recorrentemente. Mesmo com tantos músculos, havia déficit para entender seus sentimentos corretamente.

- Mulher, dei-me algo para cortar, nem que seja cenouras ou abóboras! - Pedia em prantos em tom exagerado. - Mesmo que seja para guardar para o inverno, necessitamos de lenha para o fogaréu, certo? - Tentou convencer sua esposa.

Ela olhou lentamente para ele, deixando de fazer sua limpeza diária na casa. - Você sabe que não fazemos mais isso desde o seu bisavô. - A informação entrelaçou o peito com a cabeça do lenhador, que rapidamente, trouxe amargura em seu teor.

...

A família que eu prezo,

Por parte deles não resta zelo

O respeito na saída é o que espero

E tudo que sempre tive em valor era zero

Quero, pego

Reitero o que peco

naquelas coisas que não tenho

Na minha mulher é o abraço infame que venero.

Foi luz, sol, terra e mar 

Fui sombras, abismo e nada

Nós tornamos os céus negros que nos perseguiam

Em algo que podemos hoje, abraçar.

...

- Sabe, você sempre me fez refletir nos erros que minha família cometia. - Disse o lenhador para sua esposa com olhos cansados. - Você sabe que.. - Tentou corrigir-se a mulher, mas ora interrompida com o marido demonstrando querer ter seu tempo para terminar. - Me tornou um homem melhor, mesmo todos dias pendendo ao erro, você me faz acertar no fim. - Disse com um sorriso apertado. - Minha família me deu o machado para destruir. - Disse aproximando de sua mulher, com olhos que pareciam estar diante da criatura mais divina do planeta. - E você me deu um par de luvas para não me machucar. - Finalizou segurando as mãos dela, desajeitadamente, ela soltou uma suave risada como um soluço e deslizou suas mãos envolta da cintura do seu amável brutamontes, abraçando-o e confortando o grandalhão lenhador.

- E você, seu grande poeta de meia tigela. - Apertou-o como se não quisesse que fugisse-lhe entre os dedos. - Me deu um coração para amar. -

...

De fato, é uma história estranhamente agradável, um lenhador tinha uma família muito perspicaz em fazer dinheiro com essa floresta, mas aparentemente, tudo cessou quando este homem conheceu a luz da sua escuridão para chamar de seu. Soltou o machado e abraçou a paixão de sua vida. Ao abraçar sua vida, salvou a integridade desta floresta. 

Acho que isso é o verdadeiro significado de agarrar os seus sonhos.

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