Água
Águaaaa
Meu Deus eu preciso muito de água.
Estou com tanta sede que seria capaz de beber um rio inteiro. Abro os olhos devagar, meu corpo todo dói, como se um caminhão passasse por cima de mim, e depois dava ré para ter certeza de que me pegou, para depois passar por cima de novo. Enfim, estava toda quebrada.
Me assusto quando tudo que vejo é a escuridão. Meu Deus... Eu tô cega? EU TÔ CEGA?! Ah não, era só um pano cobrindo o meu rosto. Pera, por que desgraça tem um pano cobrindo o meu rosto?
Onde eu estou?
Penso em pedir ajuda, mas a mera tentativa de falar alguma coisa faz a minha garganta queimar intensamente. Eu preciso de água!
Ok, vamos raciocinar, não entre em pânico, entrar em pânico nunca dá certo, fique calma. Respirando fundo tento me concentrar e focar na minha audição, espero por um tempo qualquer som que pudesse sair desse lugar, se é que eu esteja em um lugar. Será que eu tô morta? E esse é o vazio? Tipo, sem céu nem inferno? Só...O vazio? O nada?
Meu Deus eu morri!
Na verdade, pensando bem, se eu estivesse morta eu não sentiria dor certo? Afinal eu tô morta, não haveria motivos para sentir dor.
Então escuto uma porta em algum lugar se abrindo, e depois disso não escuto nada, bom, pelo menos eu sei que estou em algum lugar, isso é uma coisa boa ou ruim?
Me assusto quando de repente alguém tira o pano dos meus olhos e a luz do ambiente me deixa cega por alguns minutos, pisco os meus olhos com força me adaptando a luz, meu primeiro instinto foi olhar direto para o ser miserável que me assustou dessa forma. Uma senhora ( Eu chuto que esteja chegando a casa dos oitenta) me examina, eu a encaro, não era uma velhinha magra, era bem cheinha, eu teria escutado seus passos, como eu não escutei?
Sem demora tento outra vez falar alguma coisa, mas não consigo, então olho ao redor em busca de alguma jarra d'água. Por sorte, encontro um pote com um caneco ao lado, com os braços doendo eu tento levantar, e aponto para o pote.
A velhinha não disse uma palavra, mas atendeu ao meu pedido e foi até o pote enchendo o caneco de água e o levando até mim, ah Senhor que alívio. A senhora me levanta devagar e coloca o caneco em meus lábios, bebo tudo desesperada para saciar a minha sede (me engasguei umas três vezes) quando termino de beber água, a senhora sai, me deixando sozinha.
Aproveito a solidão e olho ao redor, afinal eu não faço a menor ideia de onde estou. E graças ao meu conhecimento, que não é grande coisa, percebo que estou em uma cabana de madeira, ou algo do tipo, a cama que estou não era macia como a do meu quarto, na verdade era dura e muito pequena.
Não demorou muito para a senhora voltar, e dessa vez ela carregava um tipo de planta... ou algo assim, eu sei que é algo verde e era bem parecido com um alface. Ela o leva até a mesinha que tem no meio da cabana e pega água do pote despejando em uma panela pequena, em seguida ela corta o primo do alface e o joga na panela. Hum, parece que hoje a janta é sopa (ou seria café? Talvez almoço? Sei lá).
De repente surgiu uma teoria maluca em minha cabeça.
E se essa velhinha estiver fazendo o seu banquete, e o prato principal for eu? EU VOU VIRAR SUSHI?
Expulso essa ideia ridícula da minha cabeça, é claro que isso não aconteceria, eu estou em uma cabana, com uma senhora, sozinha.... É claro que não.
Depois de um tempo a velha senhora vem até mim com uma xícara na mão estendendo-a para mim. Meu Deus, eu preciso parar de assistir filme de terror.
- Beba menina, se sentirá melhor – A velhinha, que não é canibal, me entrega a xícara, o aroma do chá me acalma e com ajuda da senhora eu me sento na cama e começo a beber o conteúdo, e eu posso dizer que o cheiro me enganou direitinho. Que negócio ruim meu Deus.
- Se você cuspir eu te faço lamber o chão – A senhora me ameaça, e como uma pessoa independente, forte e desafiadora que sou eu obviamente bebo todo o conteúdo. O que? E eu sou doida de desafiar os mais velhos? Satisfeita com a minha obediência a senhora recolhe a xícara e a coloca na mesa.
Achei que ela me diria onde estou, ou pelo menos se apresenta-se, mas a velha simplesmente puxou uma cadeira e se sentou, começando a tricotar.
Bom, ela estava certa em relação ao chá, estou me sentindo bem melhor, e quando minha garganta melhora eu finalmente consigo falar.
- Obrigada pela ajuda – ela para de tricotar e me olha – Poderia me dizer onde estou?
- Você está na minha casa menina – ela diz simplesmente e volta a tricotar.
- Ok... e como eu vim parar aqui?
- Não se lembra? – ela volta a me olhar, esperando minha resposta.
- Eu...na verdade não, desculpe.
- Ethan te encontrou ferida na floresta, estava quase morrendo menina, teve muita sorte – Minha cabeça dói quando pequenas lembranças de um ônibus pegando fogo me atinge em cheio, mais foi rápido, assim como veio – ele te trouxe desacordada, cuidei de você esse tempo todo, estava muito machucada, pegou uma febre forte, céus, você até delirou, querendo machucar seus próprios olhos! Tive que cobri-los.
- Espera, quanto tempo eu estava desacordada?
- Umas três semanas, mais ou menos.
Meu....Deus
Três semanas? Eu passei três semanas desacordada. Três semanas. Ok... não surta, não entre em pânico, fique calma, relaxe....respire.
- Pelos deuses menina, está mais pálida do que uma folha de papel, respire!
- Como...como....- respire mulher – Isso aconteceu?
- Bem, eu imaginava que você soubesse.
- Eu...só lembro do fogo, da dor...– chega! Não quero falar disso – Eu posso falar com esse tal de Ethan?
- Bem, ele só aparecerá aqui amanhã a noite, como todos os dias desde que trouxe você. Tinha acabado de sair quando você acordou, terá que esperar se quiser falar com ele.
- Ok... imagino que eu não tenha tantas opções, certo?
- Exatamente.
Respiro fundo me sentido um pouco tonta, me deito na cama e fecho os olhos. Amanhã tenho que agradecer a esse homem por me salvar, embora eu ainda esteja um pouco desconfiada, mas se eles planejavam me machucar já teriam machucado, certo? E se eles me sequestraram? Eu preciso fugir caso for um sequestro, mas se for eu preciso saber o nome deles para entregar a polícia!
- Eu posso saber o seu nome? – por favor diga seu nome, por favor diga seu nome....
- Os meninos normalmente me chamam de Dana, mas pode me chamar apenas de Marta, e o seu menina?
- Meu nome é....- Travo por um momento, sem saber o que dizer, seria estúpido da minha parte revelar o meu verdadeiro nome para uma pessoa estranha, que pode inclusive ser uma possível sequestradora, droga, no que eu estou pensando? Essa mulher salvou a minha vida! E o que estou dando em troca? Bem, mas é normal desconfiar das pessoas assim, né? Cansada disso resolvo responde-la – Meu nome é Amélia.
Marta é engraçada.
Ela é aquele tipo de senhora que reclama de tudo, tipo tudo mesmo. Mas é divertido observa-la andando para lá e para cá dizendo o quanto as costas estão doendo e quando foi a última vez que foi ao banheiro. É divertido.
A janta, como eu havia imaginado (tirando é claro, a parte em que eu era o prato principal) era sopa, e devo acrescentar, a sopa de Marta é uma maravilha! E olha que eu nunca fui muito fã de sopa.
Marta me ajudou a andar até a cama, me deu um remédio caseiro que tinha um gosto horrível mas que me ajudou a cair no sono.
No dia seguinte acordei com um barulho estranho na parte de fora da casa. Tinha quase certeza que era barulho de algum animal, mas seja lá o que fosse Marta chegou bem na hora em que eu estava tentando me levantar para vê o que era, ela não me deixou olhar. Perguntei o que era, ela não me respondeu.
Na parte da tarde depois do almoço, me senti um pouco entediada, precisava andar um pouco, e depois de muita insistência Marta finalmente me ajudou a sair daquela casa. O ar atingiu meu rosto de maneira leve e refrescante, respiro fundo sentido um alívio gigantesco, o dia está adorável. Ando ao redor da cabana junto com Marta, e... realmente estou em uma cabana, na floresta.
Há uma pequena horta ao lado da casa, com um pequeno banco de madeira onde Marta me obrigou a sentar, não discuti com ela, admito que só com uma mísera andada já me sinto exausta. Observo a floresta enquanto Marta cuida de sua horta, há um caminho da casa de Marta direto até a floresta.
- Marta, por onde aquele caminho leva?
- Para um vilarejo aqui perto, leva uns dez minutos para chegar até lá.
- Podemos ir? - Marta para de regar suas plantas para me olhar, ela pensa um pouco sobre meu pedido.
- Não – diz e volta a cuidar de suas plantas.
- Por que?
- Bem, os moradores não são muito receptivos.
Receptivos? O que ela quer dizer com isso?
- Como assim?
- Eles não são muito agradáveis com pessoas como você. – Ui, não me senti nem um pouco ofendida, magina.
- Pessoas como eu? Então, que tipo de pessoa eu sou? - minha voz sai um pouco alterada, “Pessoas como você” que desgraça.
Marta apenas ri da minha reação, não se dá ao trabalho de se explicar, apenas dá de ombro e diz:
- Hoje o menino Ethan te visitará, você pode perguntar isso a ele.
E por algum motivo, eu não gostei nem um pouco disso.
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Reencarnação
Lobisomem❌PLÁGIO É CRIME❌ No início os lobos dominavam o mundo sobrenatural. Eram criaturas poderosas, impiedosas... selvagens. Suas alcateias eram espalhadas por todo o mundo, protegidas pelos seus determinados alfas. E assim como as alcateias tinham seus l...