🦊 capitulo 1🦊

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Havia uma velha cabana abandonada na imensa floresta de Yiling, o que foi a salvação de Wei Wuxian naquela madrugada chuvosa. Suas patas estavam encharcadas de sangue, e seu pelo emaranhado. O pobre filhote de raposa tremia de frio e medo, a floresta escura, iluminada apenas por pequenas brechas que deixavam passar a luz da lua. Wei Wuxian não pensou duas vezes, coberto de lama e molhado, ele se escondeu entre as madeiras podres e tentou não se mexer para não chamar atenção.

Ele fechou os olhos e se encolheu ainda mais quando ouviu o som das patas dos lobos se chocando contra a terra molhada e ouviu o dardejar das cobras bem perto de onde se escondera. Ele não tinha coragem de olhar se já haviam ido embora, ele apenas passou a noite ali, com frio e tremendo de medo.

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Os híbridos de raposa vermelha foram praticamente extintos desse mundo. O motivo disso, ninguém era capaz de dizer exatamente, mas obviamente não foi por causa de tortas na janela. Todos os milhares de massacres que foram feitos, extinguiram quase toda a espécie, restando apenas, Cangse Sanren e seu marido. A vila onde Cangse morava foi completamente incendiada, todos os seus amigos e familiares, foram mortos, não restava mais ninguém, e antes que ela levasse o mesmo fim, Changze a tirou dali. Deixando para trás tudo o que, um dia, já fora seu lar, e agora não passavam de cinzas, Cangse reconstruiu sua vida ao lado de Changze e seu filho, se escondendo e vivendo com o imenso temor de que algum dia seu destino chegaria. Eles só pediam a Deus para que pudesse esperar seu filho crescer e aprender a se defender, o que seria daquela criança sem os pais, e sendo caçado por pessoas egoístas e gananciosas? Infelizmente, todas as suas preces parecem não terem sido ouvidas.

Toda a aldeia estavam um caos, as pessoas correndo para todos os lados, algums homens tentando lutar para impedi-los, mas eles eram mais fortes. Cangse correu, se transformou e correu com seu filho em suas costas sem olhar para trás, enquanto Changze ajudava os outros a saírem da aldeia. Cangse parou quando chegou quase na metade da floresta, ela assumiu sua forma humana outra vez quando Wei Wuxian desceu de cima dela. O garoto de Dez anos a olhava assustado, e tudo que ela queria era implorar, implorar aos deuses que não fizessem isso, que não separassem sua família, mas tudo que ela poderia fazer agora era rezar, rezar mentalmente para que eles protegessem ao menos seu filho.

- Meu amor, olha pra mamãe, sim? Olha pra mamãe. - Cangse era forte ela não choraria na frente do garoto, seu dever agora é passar o máximo de confiança possível. - Você já sabe se transformar, não sabe? - o garoto assentiu. - ótimo. Eu preciso que você preste atenção, Wuxian. Você vai me esperar aqui, e quando a mamãe gritar, você se transforma e corre! Corre o mais rápido que suas patinhas consigam correr, e não olhe pra trás! Eu estarei bem atrás de você quando menos esperar, ok? - Cangse sorriu e o garoto assentiu novamente. Ela passou o polegar pela bochecha do mesmo antes de sair.

Assim que se afastou do garoto, Cangse endureceu sua face. Quando chegou na aldeia, não deu tempo de indentificar onde estaria seu marido, ou seu corpo, pois eles logo vieram atrás dela. Ela correu o mais rápido que pôde, mas eles eram tão rápidos quanto, quando estava se aproximando do local onde deixou Wuxian, ela uivou o mais alto que suas cordas vocais a permitiram, avisando seu filho.

Wei Wuxian se desajeitou, já tremendo, ele demorou para conseguir se consentrar em se transformar, Cangse os guiou para a direção oposta, porém um deles viu o garoto e se pôs a correr atrás dele. Wei Wuxian fez exatamente o que sua mãe mandou, correu o mais rápido que suas patinhas conseguiam sem olhar para trás. Ele desejava saber de onde surgira tantas pedras e raízes que machucavam suas patas, porém ele nunca parou de correr, depois de somente alguns minutos, os outros se juntaram a aquele que o perseguia, eles começaram a correr mais rápido, e nessa hora Wei Wuxian já não tinha mais controle sobre seu próprio corpo, suas patas pareciam ter ganhado vida e corriam por si só, já que ele mesmo não sentia mais elas tocarem o chão. Ele só se deu por si, quando viu de relance o que pareciam ser os restos mortais de uma velha cabana, ele não pensou duas vezes, havia conseguido sair do campo de visão dos inimigos, mas não sabia por quanto tempo conseguiria correr mais, então ele se enfiou entre as madeiras podres e pregos enferrujados, só então também reparou que estava chovendo, estava caindo uma tempestade, era possível ouvir os trovões e ver os clarões acima de si, ele se encolheu o máximo que conseguiu, e torceu para que o breu da floresta o cobrisse, ou que alguma nuvem cobrisse as brechas das árvores ao redor para que a luz da lua não o alcançasse, quando ouviu as patas dos Lobos enormes se chocarem contra o solo molhado e o dardejar daquela serpente, que inclusive parecia ser mais rápida que os lobos. Ele ouviu o dardejar tão próximo das tábuas podres onde se escondera, que ele até se esqueceu de respirar, talvez fosse a única maneira de não emitir qualquer som que pudesse chamar a atenção para si. Ele só soltou o ar por que seus pulmões não aguentariam mais um segundo, ele não ouviu mais nada além do som da chuva, do vento balançando bruscamente a copa das árvores, dos grilos que cantavam e das corujas que saíram de seus ninhos, porém ele não se atreveria a verificar se já haviam ido embora, ele não arriscaria sair dali tão cedo, ele não conseguia parar de tremer, era inevitável, ele queria chorar, queria chorar no colo de sua mãe porém ele não sabia onde ela estava, mas alguma coisa o dizia que ele não a encontraria novamente. Ele não conseguiu chorar, as lágrimas estavam intaladas em sua garganta, e isso seria agoniante demais para suportar, se ele não houvesse dormido de tanto cansaço misturado ao pavor. Talvez, justamente devido ao pavor ele não conseguiria pregar os olhos, porém ele seguiu a lógica de que, se o achassem e o matassem, ele não queria estar acordado, era assustador demais pensar nisso.

Blood Roses-Wangxian (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora