If It Means A Lot To You

Capítulo 1

Desde que me lembro que sou conhecida como sendo extremamente teimosa... Ou, como diz o meu pai, como tendo um "feitiozinho especial". Igual ao da minha mãe! Somos uma equipa especializada em deixá-lo com cabelos brancos.

Por esse mesmo motivo, a palavra "desistir" nunca constou no meu dicionário. Muito pelo contrário! Quanto mais as pessoas duvidam das minhas capacidades, quanto mais dizem que não sou capaz ou que não consigo alcançar determinada coisa... Mais força me dão para mostrar que estão errados.

Contudo, ser teimosa nem sempre foi suficiente para me fazer acreditar em mim própria. Foram várias as vezes em que me tentaram cortar as asas... "Sonhas demasiado alto, miúda! Mantém os pés na terra", diziam os mais velhos ou descrentes (habituados, na minha opinião, a apostar pouco ou nada).

Existiram diversos momentos em que me forcei a esconder as minhas inseguranças e os meus medos... Em que me forcei a limpar as lágrimas e a ser forte o suficiente para continuar o meu caminho! Tudo para fazê-los ver (a eles e, às vezes, a mim mesma) que os sonhos só são "demasiado altos" para quem não luta pelas suas próprias conquistas. 

Mesmo os falhanços são motivo de orgulho... Afinal, como vamos nós saber o resultado de algo sem tentar? Falhar faz parte. Aprender com os nossos erros também. É o que nos faz crescer e desenvolver enquanto seres humanos. O importante é nunca desistir! E acreditar que o Universo tem as suas formas de trabalhar pois o que tiver que acontecer, acontecerá... Mais cedo ou mais tarde. 

Mas não posso ficar com os louros só para mim... Reconheço que tudo o que alcancei foi também graças à educação e ao apoio incondicional que os meus pais me deram. Fui atrás da minha paixão (que é também uma paixão que partilho com eles) sabendo que eles estariam sempre do meu lado para me segurar a mão quando caísse.

O mais engraçado é que desde criança que tenho o meu futuro definido. Ao contrário das outras crianças, nunca quis ser veterinária, advogada, astronauta, médica... Queria ser um grande piloto da Fórmula 1 como o Schumacher, o Senna e como muitos outros pilotos que me inspiram desde o primeiro dia. Todos os domingos ficava colada ao ecrã para garantir que não perdia uma única corrida! Inicialmente, ninguém compreendia porque é que os meus pais se deixaram levar pelos "caprichos de uma menina" quando me inscreveram nos karts.

"Ela é miúda. Investirem nisso é uma perda de tempo e dinheiro!", diziam alguns pais que tinham já os filhos em competições. Mas mesmo com pais e filhos a gozarem com a situação, a menosprezarem as minhas capacidades, comecei a dar que falar quando fui subindo na grid e alcançando bons resultados nos pequenos campeonatos locais. Só aí é que perceberam que, afinal, a "miúda" era uma concorrente a abater.

Quando dei por mim, tinha chamado a atenção de algumas equipas da Fórmula 3... e, posteriormente, da Fórmula 2. Foi nessa altura que ingressei na equipa da Ferrari Academy... Nunca imaginado que ia receber aquela chamada. Ainda hoje, ao pisar pela primeira vez a cidade de Maranello, precisei de me beliscar para garantir que não era um sonho... Estava mesmo a iniciar a minha carreira na Fórmula 1, junto de uma equipa que sempre segui e admirei?

Assim que cheguei à sede, a senhora da receção levou-me para uma pequena sala de reuniões. Enquanto ninguém aparecia, observei atentamente todos aqueles troféus... Sei perfeitamente que este mundo não é fácil (foram precisas muitas lágrimas, muitos treinos, muito suor e dores no corpo para chegar aqui), muito menos para a primeira mulher a correr juntamente com os homens. Mas estou mais que pronta! Para continuar a lutar e para fazer a diferença.

Os meus pensamentos foram interrompidos ao sentir uma mão no meu ombro. Olhei para trás e ali estava ele: Frédéric Vasseur, chefe de equipa da equipa de Fórmula 1 da Ferrari. Queria dizer um simples "bom dia" mas congelei... Situação que o fez rir.