Prólogo

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Os relâmpagos cortavam o céu em inúmeros pedaços naquela noite. As ruas daquele bairro estavam vazias, sem nenhuma pessoa corajosa — ou louca — o suficiente para enfrentar aquele pequeno caos na cidade de Nova York.

Em um dos pequenos prédios com aparência desgastada no final da rua, choros de uma criança pequena invadiam os ventos, como se quisessem que os levassem para algum lugar longe dali, onde pudessem pedir ajuda a qualquer pessoa que os recebessem.

— Mãe, está aumentando...

A pequena garotinha olhava para as suas mãos como se não cresse que aquilo estava acontecendo. Ambas as palmas estavam vermelhas e os nós dos dedos provocavam uma dor ainda maior se tentasse movimentá-los.

— Aguente por mais um tempo, Megan.

A súplica de sua mãe a fez ter esperanças. O calor em suas veias queimava mais a cada minuto, impossibilitando de ver sua cor normal, que fora substituída pelo um branco opaco. Às vezes a garota jurava que via faíscas dentro delas.

— E-eu não consigo mais, mãe!

Algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto frágil e pálido. A mulher mais velha se agachou em sua frente e acariciou os seus pulsos. O que mais podia fazer? Ligar para um hospital dizendo que a sua filha estava passando por aquele transtorno novamente? Não, com certeza não.

E então, uma ideia veio de supetão. Levantou-se rapidamente e procurou pelo número em seu sobretudo preto. Quando o encontrou, arrumou os óculos e sorriu. Aquela era a sua única esperança no momento.

Correu até o telefone e discou os números sem delongas e enfim ele atendeu.

— Vejo que mudou de ideia — o homem que estava do outro lado da linha falou com um claro sinal de felicidade.

— Eu quero o remédio — respondeu-o quase se embolando em suas próprias palavras.

Uma risada debochada ecoou no telefone. Depois de uns segundos de silêncio, o homem finalmente falou algo.

— Você sabe onde me encontrar — e desligou o telefone.

A mulher respirou fundo. Daquele cômodo podia ver sua filha na sala tentando fechar as mãos enquanto murmurava algo. Ela tinha que fazer aquilo por ela. A garota precisava do remédio, senão iria sofrer com aquilo pelo resto de sua vida.

— Bryan! — chamou o seu filho mais velho.

Ao garoto louro entrar no quarto, o segurou pelos ombros, fazendo-o olhar para o seu rosto.

— Você precisa me prometer que sempre vai cuidar de Megan, não importa o que acontecer.

Um sinal de confusão passou pelos os olhos do garoto, que assentiu, aceitando aquela promessa.

— Eu vou sair, fique de olho nela — fez um gesto com a cabeça para a direção do cômodo ao lado.

A mulher, antes de sair do pequeno apartamento, olhou pela última vez para o garoto. Talvez aquela seria a última vez que veria os olhos verdes escuros de seu filho.

    ————————

As duas crianças estavam sentadas no sofá marrom. Bryan abraçava carinhosamente Megan, que estava com o seu olhar voltado para a parede tingida de branco, tentando acalmar os seus soluços involuntários.

Em algum momento da noite a tempestade piorou. O céu ficou mais escuro, as gotas lembravam pontas afiadas de várias estacas e os relâmpagos dançavam em sintonia uns com os outros, como se estivessem em uma árdua competição de dança sem fim.

— Bry — a garota chamou o seu irmão. — Onde está o nosso pai?

Bryan sentiu um calafrio horrendo percorrer o seu corpo. Não conseguiria dizer a verdade para ela, não naquele momento.

Desviou o olhar daquelas pequenas esmeraldas e deu um suspiro antes de respondê-la:

— Ele está viajando, Megan.

— Mas uma viagem nunca demora tanto!

Aquela frase o pegou de surpresa. Olhou novamente para ela, perdendo as esperanças de tentar convencê-la por apenas mais um tempo. Abriu sua boca para falar algo, mas depois de se dar conta que as palavras não vinham, fechou-a novamente.

E assim se passaram longos e dolorosos minutos. Em algum momento, os soluços juntamente com a dor terminaram, fazendo Megan pensar que estava segura novamente.

Os irmãos se limitavam em falar poucas palavras um para o outro, estavam cansados demais para pensar em um assunto atrativo para ambos.

Aos poucos, uma insegurança tomou conta do corpo do louro. O relógio pendurado na parede mostrava que já se passava da meia-noite e sua mãe não tinha retornado.

"Quem sabe ela parou para comprar alguns doces", pensou com um mínimo sorriso.

Megan, que brincava com uma de suas mechas de cabelo, parou bruscamente ao ouvir o toque — que naquele momento parecia aterrorizador — do telefone.

O irmão mais velho levantou-se e em passos largos chegou na escrivaninha de madeira. Ao envolver o objeto em suas mãos, um arrepio percorreu seu corpo, fazendo repensar na ideia de atender aquele telefonema.

— Alô?

A voz o fez voltar para a realidade, encostando o telefone em sua orelha.

As palavras que vieram a seguir não fizeram nenhum sentido para o garoto. Lágrimas grossas insistiam em escorrer pelas suas bochechas e sua boca tremia levemente. Não tinha percebido que deixara o telefone cair no chão, mas aquilo não importava para ele.

— O que aconteceu?

O louro virou-se bruscamente para sua irmã, ignorando o fato de estar chorando. Se fosse em outra situação, Bryan sabia que viraria motivo de brincadeira para a irmã, mas naquele momento pouco se importava para isso. Ele pode ver um misto de confusão e medo passarem pelos olhos de Megan, que agora mexia nas próprias mãos nervosamente.

— Megan...

As palavras não saíram. Sua garganta ficou seca e ele se sentia como alguém tivesse costurado a sua boca por ter contado um imundo segredo.

Engoliu em seco e respirou fundo. Agora as palavras tinham vindo.

— Nossa mãe não irá voltar.

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