Ela está respirando (Bethyl)

A garota mais forte que ele conheceu

A reação de Daryl foi totalmente instintiva. Ele ouviu o som da arma, viu o respingo vermelho de sangue em seu cabelo loiro e ensolarado e, antes mesmo de perceber o que estava acontecendo, sua arma estava no ar. Ele não viu a expressão de choque no rosto da mulher nem percebeu as palavras que ela estava pronunciando para ele. Tudo dentro dele era raiva e raiva incandescentes, cobrindo uma sensação latejante de dor e angústia, tudo envolto em um fio de puro frio. Ele atirou, observando, mas sem realmente ver a cabeça da mulher ser jogada para trás ou seu corpo cair no chão. Ele percebeu, mas não sentiu realmente o aperto da mão de Carol em seu ombro. Ele ouviu, mas não ouviu realmente o som da voz de Rick e suas palavras vazias e inúteis.

Daryl se soltou da mão de Carol e caiu de joelhos com uma palavra nos lábios: “Beth”.

Só quando começou a pegá-la nos braços é que percebeu. Ela estava respirando. Ele a embalou contra o peito e, no processo, inclinou-se sobre ela e, com o ouvido tão perto dos lábios dela, ouviu a inspiração suave da respiração e sentiu o calor quente contra sua bochecha enquanto ela exalava. Ela estava respirando.

O pensamento o atingiu com uma onda feroz que inundou a raiva, a angústia e a dor. Seu primeiro sussurro foi baixo e quase inaudível: “Ela está respirando”. Mas então ele se levantou com ela em seus braços e um pouquinho de esperança se desdobrou dentro dele enquanto ele gritava rispidamente e entrecortado: "Ela está respirando!"

Tudo aconteceu com pressa depois disso, e as lembranças só vieram aos poucos. A única coisa que permaneceu verdadeira durante tudo isso foi que Daryl Dixon ficou ao lado de Beth. O Doutor (ele não conseguia se importar com seu nome, muito menos lembrá-lo) hesitou apenas por um momento antes de se oferecer para ajudar, e os policiais se separaram como um mar plácido diante da determinação no rosto de Daryl enquanto ele o seguia. com Beth nos braços. Ele nem sabia o que teria feito se tentassem impedi-lo. Se ele pudesse tê-los matado sem prejudicar ainda mais a garota inocente em seus braços, provavelmente o teria feito, mas felizmente não chegou a esse ponto.

Num momento ela estava pressionada contra o peito dele e no seguinte ela estava deitada na cama do hospital. Ele se lembrou de como ela parecia pálida, de como o sangue parecia forte em sua pele, de como seu cabelo loiro se espalhava pelo travesseiro como uma auréola. Como se ela fosse um anjo. Ele teve um lampejo de uma época em que olhou para ela e pensou algo semelhante. Eles estavam na floresta, de manhã cedo, no dia seguinte a deixarem para trás aquela cabana em chamas. Ela olhou para ele meio adormecida com um sorrisinho nebuloso no rosto, e o sol apareceu por entre as árvores logo atrás dela e de repente seu cabelo estava brilhando como a própria luz do sol em um halo ao redor de sua cabeça. E ele pensou consigo mesmo que ela parecia um anjo, o que era bastante poético para ele, mas adequado para uma garota como Beth Greene, cheia de esperança.

Agora era ele quem carregava essa esperança dentro dele, queimando como uma pequena chama no fundo de seu coração. Ele segurou a mão dela enquanto estava ao lado da cama, recusando-se a soltá-la quando o médico começou a examinar seu ferimento. Daryl sabia, racionalmente, que provavelmente ainda a perderia. Ela poderia estar aguentando firme, mas se tivesse levado um tiro na cabeça, provavelmente morreria. Ela não iria? Só de pensar nisso fez seu coração apertar, fez um som baixo subir profundamente em sua garganta antes de forçá-lo para baixo. Daryl não sabia nada sobre isso, ele apenas sabia que olhou para ela e viu seu peito subindo e descendo, e ele pensou que faria qualquer coisa neste maldito mundo de merda se isso pudesse ajudá-la a sobreviver. Porque qual era o sentido de um mundo como este, sem alguém como ela viva nele?