Quando as visitas acabaram, sou levada junto a Marcos ao trem que conecta toda Panem, assim seguiríamos em direção à Capital. Lá ocorrerão as programações que antecedem os Jogos Vorazes: O desfile de tributos, os longos dias de treinamento, a entrevista com Faustão e, finalmente, o maldito começo de toda essa insanidade. Encontramos Bia novamente dentro do trem, ela estava enterrada em documentos e cronogramas mas deixou tudo de lado para nos recepcionar.Durante a viagem, fiquei reparando em Marcos. Na maneira como ele tentava esconder se tinha medo ou não de estar ali e como sua perna direita tremia de ansiedade. Tentei observar também a paisagem pelas janelas do trem, a cada minuto mudando de personalidade, árvores e montanhas que eu nunca tinha visto. No meio da viagem, quando já estava escuro de mais para ver do lado de fora, a porta de uma cabine se abre e um homem de meia idade entra. Ele tinha os cabelos desgrenhados, alternando entre o loiro e o grisalho, um físico bom e uma cicatriz que ia desde o olho esquerdo até o meio da bochecha. Logo o reconheci, era um dos campeões de uma edição passada dos jogos.
- Serei mentor de vocês. - Ele disse sem cerimonias, nem mesmo um "olá" - Eu estou aqui para fazer um de vocês vencedor, entenderam?" - ele perguntou e, antes que pudéssemos responder, ele prosseguiu - O primeiro passo para conseguirem se firmar como campeões é mostrar aos demais tributos que vocês são superiores. são vocês que comandarão o ritmo dos jogos, então intimidem os outros tributos no treinamento, na entrevista e até mesmo no desfile. Se fizerem isso, logo estarão no controle. - ele diz com um olhar sádico, arregalando o olho marcado pela cicatriz.
- Nilmar, você realmente precisa começar a falar agora? - Censurou Bia. - Pobrezinhos, olhe eles. Estão com fome, não?
Nilmar revira os olhos mas para de falar. Agora, Bia estava atrás de empregados que serviam o trem silenciosamente de suculentos pratos de comida. Bia tentava deixar tudo minunciosamente no lugar, se certificando de que havia a quantidade de colheres e taças certas para cada pessoa e dava pequenos surtos se um empregado fizesse algo que não a agradasse. Então, como um passe de mágica, o jantar estava servido.
Eu e Marcos nos sentamos assim que nos permitem e admiramos o banquete servido para nós. Eu nunca tinha visto tanta comida assim em toda a minha vida. De repente, Nilmar arranca uma coxa do frango que estava no centro da mesa, fazendo eu retornar para a realidade.
- Eu não acredito nisso. -Diz Bia indignada com a atitude de Nilmar. - Aparentemente, nossos tributos não podem ter o primeiro prato de seu próprio jantar. Nilmar faz um som de desagrado e encara Bia com a face entediada, então recoloca a coxa junto ao resto do frango.
- Menino de ouro. - Nilmar diz olhando para Marcos - Era com isso que você trabalhava né? Ouro?
- Sim... eu fazia polimento de ouro que era enviado para o um...- Marcos pareceu um pouco perdido em sua própria resposta, talvez porque essa era a primeira vez que alguém nos fazia alguma pergunta que não fosse se estávamos bem. De qualquer forma, era bom saber algo sobre ele. - Desculpa a pergunta... Mas como você sabe?
- Vocês estão enclausurados todo esse tempo nessa sala do trem que nem se deram ao trabalho de ligar a TV. Vocês estão famosos! Suas vidas estão sendo exploradas no programa do Faustão durante toda a tarde. O povo da capital já ama vocês. - Ele vira a cabeça lentamente em minha direção e abre um sorriso discreto - Principalmente a garota bonita do dois.
Sinto imediatamente minhas bochechas queimarem, e acabo olhando para baixo para disfarçar. Bia deve ter percebido pois se prontificou de mudar de assunto por mim.
- Por que você não se serve, Marcos?
Marcos sorriu e agarrou o frango que Nilmar já tinha partido antes. Senti os olhos de Nilmar seguirem a coxa até o prato de Marcos e seus olhos brilharem como os de um cachorro faminto. Então era minha vez. Coloquei um pouco de tudo no meu prato pois nunca tive oportunidade de experimentar coisas novas. Eu gostaria de poder antes de morrer. Quando todos já estávamos comendo a conversa retornou.
- Você foi a garota com maior potencial de ganhar os jogos da sua geração, suas notas são altas na academia de combate. Todos queriam ser como você, como nós, carreiristas - disse olhando para mim e Marcos. - Deve ser uma honra estar representando o distrito 2 nos jogos agora. - Ele completa. - Você gosta disso, Gabrielly?
-Olha, - Eu tomo um gole do vinho doce que tinham me servido - não me entenda mal. Não tenho o mínimo interesse em matar outras 23 pessoas, a maioria crianças, para enaltecer o meu distrito, que é tão explorado quanto os outros. - eu disse, e ele me encarou, sem demonstrar qualquer sinal de opinião, depois se virou para Marcos.
-E você Garoto de ouro? O que acha sobre tudo isso?
Marcos refletiu por um momento, como se estivesse coletando as melhores palavras antes de responder. E então ergueu a postura e começou com a dizer com a voz confiante:
- Eu acho que os Jogos Vorazes são uma atrocidade. Eu também não quero matar ninguém, mas não vejo outra saída a não ser lutar pela minha própria sobrevivência. Quero proteger minha família e meus amigos. Não quero ser uma marionete da capital, mas sei que, se não jogarmos de acordo com as regras deles, todos aqueles que amamos sofrerão as consequências. Então eu irei vencer os jogos.
Seus olhos encontraram os meus. Havia uma determinação misturada com tristeza em seu olhar. Pela primeira vez desde que tudo começou, eu senti uma conexão genuína com alguém, alguém que entendia o peso das nossas escolhas. Coloquei minhas mãos sobre a dele com delicadeza, tentando mostrar minha compreensão.
Bia limpou a garganta.
- Talvez vocês precisem dormir, os Jogos parecerão mais interessante quando estiverem descansados. Os empregados levarão cada um de vocês aos devidos aposentos - Ela se levantou subitamente, provavelmente se sentindo desconfortável com nossa opinião sobre a capital, afinal, ela era de lá. - Vamos, vamos, levantem. - Ela disse nos apressando. Nilmar continuou sombriamente sentado na mesa de jantar, ignorando as ordens de Bia. É dificil interpretar sua verdadeira opinião sobre os jogos. Ele está do nosso lado ou com a capital?
Minha mão e a de Marcos se apertaram por um breve momento, um gesto silencioso de solidariedade. Sabíamos que enfrentaríamos desafios terríveis, mas, de alguma forma, não estaríamos sozinhos. Enquanto o trem seguia em direção à Capital, eu percebi que talvez pudesse haver mais do que apenas sobrevivência nesses Jogos Vorazes.
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Jogos Vorazes: Gabrielly e Marcos
Teen FictionE se Peeta e Katniss não tivessem sido os primeiros tributos a se apaixonar? Gabrielly e Marcos são carreirista do distrito dois determinados a vencer a 60ª edição dos jogos vorazes. Porém, trocas de olhares e conversas os aproximam cada vez mais de...