Sempre

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Sempre tive fome de algo

Acho que me conheço muito bem. Conheço-me suficientemente bem para saber que sou um recipiente vazio.

Meu eu de "fora" era uma forma de viver e desempenhar um papel: boas notas, gentil, sorridente... Sim, o "fora". Essa era a única maneira de sobreviver – uma maneira de ser aceito por meus pais. Quanto mais eu agia, mais os limites do "fora" se esvaíam, e agora eu não acho que tenha mais. Como estava apenas atuando, era apenas um falso sem substância.

Mas não há problema em ser sem substância, certo? Ninguém consegue ver o interior de outra pessoa. As pessoas neste mundo só vão olhar para o exterior de mim e me julgar. É por isso que eu só tenho uma pele grossa por fora, sou só uma casca.

Não importa se não tenho nada dentro. Enquanto eu puder viver com isso... desde que eu não seja ignorado, tá tudo bem.

Às vezes, porém, tenho vontade de jogar fora essa "Casca". Quando isso acontece, não tenho escolha a não ser ir para um lugar vazio. Nos dias em que não há atividades a tarde, saio para um canto isolado da biblioteca e leio um livro. Tiro o "fora" e reafirmo minha possível identidade.

O interior de mim ainda é o mesmo, algo que não é nada não pode ter algo, e eu assumo esse vazio nesses momentos. Coloco o livro de lado e medito por um momento.

Talvez seja porque minha natureza é estar vazia, por mais que, na realidade, sempre tive fome de algo. Eu nem sei do que estou com fome, mas estou correndo desesperadamente pela minha natureza oca e procurando algo dentro desse escuro infinito. Era uma verdadeira "fome", um senso de urgência para encontrar algo rapidamente – além da esperança de que, se eu me sacia-se, revelaria algo da minha verdadeira natureza, poderia realmente estar em paz, talvez.

Eu podia me ouvir gritando no escuro: "Deve haver algo em mim, mesmo que eu não tenha nada", mas não consigo encontrar, meus gritos reverberam na escuridão. Estou tão vazio quanto uma caverna:

- Ei, você está no meu caminho!

A gritaria me levou de volta para a realidade. Minha meditação foi interrompida quando fui empurrado com força.

Havia um menino baixinho com cabelos castanhos fazendo um intenso contato visual comigo. Então eu disse:

- D-Desculpe...

- Eu sempre uso esse lugar para dormir! Saia do meu caminho!

A pedido do menino, levantei-me tranquilamente do meu assento. Eu queria ficar assim por mais um tempo, mas...

(Ah...)

Vi algo brilhando no ouvido do menino quando ele tomou posse da cadeira.

Era um brinco.

Era preto e redondo, e estava sentado tranquilamente na orelha grosseira do menino. A esfera redonda, usada como um único ponto, era muito madura ou de alguma forma não combinava com o menino:

- ... O que é isso? - Estava genuinamente curioso.

Os olhos amendoados do menino me olhavam, e sua voz irritada me fez entrar em pânico, então eu rapidamente deixei o lugar.

Não sei por que, mas meu coração batia um pouco.

Isso me fez lembrar...

Sempre tive fome de algo.

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Nota: Os capítulos serão publicados toda quintas-feira! Aproveitem~
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Sempre Tive Fome de AlgoOnde histórias criam vida. Descubra agora