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Peguei minhas coisas na casa da Mariana e corri pra casa, minha vó deve tá louca comigo, mais de 24 horas sem me ver.
Entro e vejo ela sentada no sofá assistindo novela

Eu: Bença, vó. - dou um beijo na cabeça dela

Marta: Deus te abençoe! Lembrou que você mora aqui? - sorrio sentando no sofá do lado dela

Eu: Fiquei tão entretida lá com a Mari que perdi a noção do tempo - ela resmunga um "hum" e volta a assistir a novela - vou subir pra guardar minhas coisas

Marta: Eu vou passar um café pra gente, tô assando um bolinho de fubá

Eu: Eu tô sentindo o cheirinho bom - subo guardando minhas coisas e desço depois de colocar uma roupa mais confortável e meu celular pra carregar

A mesa na cozinha já tá arrumada e eu me sento colocando café na xícara e duas colheres de açúcar

Marta: Vocês saíram ontem? - resolvo não mentir, vai que ela já sabe

Eu: Sim, fomos no aniversário de uma colega da Mari

Marta: Por que não me avisou? Fiquei sabendo porque ouvi dizer que viram a Mariana chegando já de manhã - ela dá um gole no café - Você foi pra escola hoje?

Eu: Não, perdi a hora - ela respira fundo

Marta: Tô achando melhor você se afastar dessa menina, Ivy

Eu: Ah não, vó - olho pra ela que me encara séria

Marta: Eu fiquei sabendo que ela é amante de um bandido poderoso aqui do morro

Eu: Não é amante nada, vó. Esse povo fala demais! - defendo minha amiga

Marta: Tão inventado isso, então?

Eu: Ela já se envolveu com ele, mas não se envolve mais, essas pessoas aumentam muito as coisas - mão minto, esse povo adora aumentar as coisas mesmo

Marta: É com gente assim que você quer andar? Essa menina se envolvendo com esse homem é muito perigoso, Ivy. Ele é poderoso aqui dentro e pra descobrirem que o seu pai é policial é fácil - eu abaixo a cabeça comendo um pedaço de bolo. Se ela soubesse que eu ando me envolvendo com o dono do morro ela já tinha tido um treco. - Você acha que eles vão fazer o que quando descobrirem? Vão colocar nós duas pra fora da favela, isso se eles forem bonzinhos, porque se não vão matar a gente

Eu: Vó...

Marta: Eles não tem pena não, Ivy! - me corta - Você não tem medo, não? Você acha que eles vão deixar o Thales vivo se souberem que a filha dele tá morando aqui no morro? - eu olho pra ela sem falar nada - Você contou pra Mariana?

Eu: Não

Marta: Nem pense em contar - olha ela passando um pouco de manteiga em um pedaço de bolo

Eu: Não quero me afastar da única amizade que tenho agora

Marta: E as suas amigas da Tijuca? Esqueceu delas?

Eu: Elas que esqueceram de mim, vó. Depois que eu saí da Tijuca e não me enquadro mais no "padrão de vida" delas eu não sou mais interessante - faço aspas com as mãos - São tudo um bando de falsas, tô fora de gente assim - ela respira fundo

Marta: Ela vim aqui em casa, vocês se falarem na escola eu não ligo. Só não quero você saindo com ela, não quero ela te arrastando pra esses lugares cheios de bandidos que ela vai

Eu: Ela não me arrasta pra lugar nenhum, vó - falo com a voz cansada

Marta: Não quero, Ivy. Só na escola ou aqui em casa, você ouviu? - eu confirmo com a cabeça - Só quero o seu bem, minha filha

Eu: Eu sei - sorrio e lavo minha xícara na pia subindo pro quarto, deito na cama chateada.

Sei que minha vó tá certa, tava até demorando pra essas coisas baterem no ouvido dela. Acho que tô mais triste porque tudo que ela falou é verdade, foi um balde de realidade dura e fria em cima de mim. Não vou me afastar da Mariana, mas do Bandi eu acho melhor. Ele é tranquilo comigo, mas se ele descobre do Thales eu nem sei o que ele é capaz de fazer, sei que ele não é uma pessoa boa e não tem pena de matar ninguém. Deus me livre!
Melhor coisa é me afastar mesmo.

Durmo em meio a tantos pensamentos e só acordo no dia seguinte na hora da escola. Me arrumo depois de tomar um banho e já saio de casa descendo o morro e encontrando a Marina me esperando na frente da rua dela

Mariana: Achei que tu ia faltar, ia te matar - sorrio e a gente vai descendo o morro juntas

Conto tudo que minha vó falou pra ela – ocultando a parte do Thales ser policial, óbvio – e a gente para no ponto esperando o ônibus

Mariana: Aí amiga, eu sabia que isso ia acontecer em algum momento. Não tiro a razão da sua vó em querer afastar a gente, com tudo que o povo fala de mim nem eu andava comigo mesma - dou risada - Pior que nem foi eu que te arrastei pro Bandi, você foi sozinha

Eu: Vou parar de ficar com ele - ela me olha - Se eu continuar jaja isso vai parar no ouvido dela também, aí imagina a merda? - ela confirma

Mariana: Verdade, se só de saber que eu me envolvi com o Dinho ela já ta assim, quando ela ela descobrir que você perdeu sua virgindade com o Dono do complexo todo ela manda eu e você embora desse morro na base da porrada- eu gargalho

Eu: Deus me livre, cara. Já deu pra mim, preciso esquecer esse cara - ela me olha por cima do ombro fazendo sinal pro ônibus e a gente entra cortando o assunto.

A manhã passa normal, o professor de História faltou e como era nossa última aula a gente saiu mais cedo

Eu: Vou passar lá no espaço onde a Carol faz balé pra conhecer, me animei pra voltar a fazer as aulas - falo quando a gente entra no ônibus sentando uma do lado da outra

Mari: Sempre achei isso maneiro

Eu: Por que não faz? - ela faz careta

Mari: Já tô velha pra isso, não tenho mais vontade

Eu: Quer ir lá comigo? Vai que você gosta e se inscreve nas aulas - levanto as sobrancelhas sorrindo e ela nega rindo

Mari: Tô fora! Também tenho uma entrevista de emprego hoje, vou pra casa me preparar

Eu: Sério? Nem me contou

Mari: A mulher me mandou mensagem ontem a noite, é 13h a entrevista

Eu: Qual vaga?

Mari: Vendedora de uma loja de roupas lá pra cima

Eu: Aí amiga, tomara que você consiga - ela sorri - Você é perfeita, com certeza vão te contratar

Mari: Verdade - ela levanta os ombros rindo

A gente desce do ônibus e eu me despeço dela, o espaço fica na parte baixa do morro e eu vou caminhando até lá.

Ilusão do crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora