Uriel estava entediado. Ele tinha passado o dia inteiro entregando mensagens divinas para os profetas, os apóstolos e os santos, mas ninguém parecia se importar com o que ele dizia. Eles apenas acenavam com a cabeça, agradeciam e voltavam aos seus afazeres. Uriel sentia que estava desperdiçando o seu talento para a comédia, e que ninguém apreciava o seu senso de humor.
Ele decidiu que precisava de uma mudança de ares, e resolveu visitar o plano celestial dos devas, os seres celestiais do budismo. Ele tinha ouvido falar que eles eram muito sábios e pacíficos, e que talvez ele pudesse aprender algo com eles. Ele pegou a sua trombeta e a sua espada, e voou para o céu oriental.
Ashmita estava irritado. Ele tinha passado o dia inteiro ajudando Buda a ensinar os seus discípulos, mas ninguém parecia entender o que ele dizia. Eles apenas faziam perguntas sem sentido, duvidavam e se distraíam. Ashmita sentia que estava desperdiçando o seu tempo para a iluminação, e que ninguém respeitava a sua autoridade.
Ele decidiu que precisava de um momento de silêncio, e resolveu se retirar para o seu jardim particular, onde ele cultivava as mais belas flores e plantas. Ele pegou o seu rosário e o seu livro sagrado, e caminhou para o seu refúgio.
Os dois arcanjos se encontraram por acaso, quando Uriel se perdeu no caminho para o palácio de Buda, e acabou entrando no jardim de Ashmita sem querer. Eles se olharam com curiosidade e surpresa, e logo começaram a conversar.
- Olá, eu sou Uriel, o arcanjo mensageiro do cristianismo. Eu vim visitar o seu plano celestial para conhecer os seus costumes e crenças. Você poderia me mostrar por onde eu devo ir? - disse Uriel, com um sorriso amigável.
- Olá, eu sou Ashmita, o deva ajudante do budismo. Eu vim me refugiar no meu jardim para meditar e contemplar. Você poderia sair daqui e me deixar em paz? - disse Ashmita, com um olhar irritado.
- Ora, não seja tão rude. Eu só quero ser seu amigo. Você não tem senso de humor? - disse Uriel, tentando fazer uma piada.
- Ora, não seja tão inconveniente. Eu só quero ser iluminado. Você não tem senso de respeito? - disse Ashmita, tentando manter a calma.
Os dois arcanjos começaram a discutir sobre as suas diferenças religiosas, cada um defendendo o seu ponto de vista com fervor e paixão. Uriel argumentava que o cristianismo era a única religião verdadeira, que Deus era o criador de tudo, que Jesus era o seu filho e salvador, que havia céu e inferno, pecado e perdão, anjos e demônios. Ashmita argumentava que o budismo era a única religião válida, que Buda era o iluminado de tudo, que não havia um deus pessoal ou um salvador externo, que havia reencarnação e karma, sofrimento e libertação, devas e asuras.
A discussão foi ficando cada vez mais acalorada, até que os dois arcanjos perderam a paciência e partiram para a briga. Uriel pegou a sua espada de fogo e atacou Ashmita com golpes rápidos e furiosos. Ashmita pegou o seu rosário e o transformou em uma corrente de ferro, contra-atacando Uriel com golpes fortes e precisos.
Os dois arcanjos lutaram por horas, sem nenhum dos dois conseguir levar vantagem sobre o outro. Eles usaram todas as suas habilidades e poderes, mas nenhum dos dois conseguiu ferir ou derrotar o outro. Eles ficaram exaustos e ofegantes, mas nenhum dos dois quis desistir ou se render.
Foi então que eles ouviram uma voz suave e serena, que vinha de cima. Era a voz de Buda, que tinha percebido a confusão e tinha vindo intervir.
- Meus filhos, por que vocês estão brigando? Não sabem que a violência é a causa de todo o mal? Não sabem que a tolerância é a base de toda a paz? Não sabem que a verdade é uma só, mas os caminhos para ela são muitos? - disse Buda, com um tom de reprovação.
Os dois arcanjos se calaram e se envergonharam. Eles perceberam que tinham sido tolos e infantis, e que tinham ofendido o seu mestre e o seu convidado. Eles se desculparam um com o outro, e pediram perdão a Buda.
- Está tudo bem, meus filhos. Eu sei que vocês agiram por ignorância e paixão, e não por maldade ou ódio. Eu sei que vocês têm boas intenções e bons corações, e que só querem servir ao bem maior. Eu sei que vocês são capazes de aprender e de mudar, e de se tornarem melhores do que são. - disse Buda, com um tom de compaixão.
Buda então abençoou os dois arcanjos, e os convidou para se sentarem ao seu lado. Ele lhes ensinou sobre as quatro nobres verdades, o nobre caminho óctuplo, as cinco preceitos, as seis perfeições, as dez virtudes, as doze causas e condições, os trinta e sete fatores da iluminação, os quatro estados sublimes da mente, os três refúgios, os três tesouros, os três corpos, os três veículos, os três tempos, os três mundos, os três mil mundos em um momento.
Os dois arcanjos ouviram atentamente as palavras de Buda, e se maravilharam com a sua sabedoria e bondade. Eles perceberam que havia muitas semelhanças entre o budismo e o cristianismo, e que havia muitas coisas que eles podiam aprender um com o outro. Eles perceberam que havia mais coisas que os uniam do que os separavam, e que havia mais coisas que eles admiravam do que desprezavam.
Eles se tornaram amigos, e passaram a se visitar com frequência. Eles compartilharam as suas experiências e conhecimentos, e se ajudaram a crescer espiritualmente. Eles também compartilharam as suas piadas e brincadeiras, e se divertiram muito juntos.
E assim foi como Uriel e Ashmita se encontraram pela primeira vez, e como eles aprenderam a lição da tolerância religiosa. E assim foi como eles se tornaram os arcanjos mais sábios e mais engraçados de todos os tempos.
Fim.
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Quiméricos Astrais- Desventuras Mágicas(vol.I)
Short StoryQuiméricos Astrais - Desventuras Mágicas é um livro de fantasia que reúne histórias divertidas e irreverentes sobre três personagens extraordinários que vivem em um mundo mágico e misterioso. Aurora, Zabulon e Ashmita são seres que nasceram das cinz...