Frédéric Chopin era uma criança de sete anos que vivia com a família na cidade de Varsóvia, capital da Polónia.
Naquela manhã, os primeiros raios de sol da primavera entravam pelas janelas do seu modesto quarto. Lentamente, Frédéric foi acordando do seu sono reparador.
Virou-se na cama que partilhava com o irmão mais velho, Emil, mas este já não se encontrava ali. Emil tinha apenas 12 anos mas era extremamente curioso e animado, adorava passar os seus dias a explorar a cidade.
Frédéric esticou o corpo com preguiça, bocejando largamente enquanto os seus sentidos se iam despertando gradualmente para o novo dia. Dirigiu o olhar para a janela, observando os telhados de casas em tijolo daquela zona histórica da cidade.
Foi quando se lembrou do piano que o seu pai, o professor Nicolas Chopin, trouxera para a casa há alguns meses. Embora modesto, era um precioso instrumento que Frédéric amava explorar aquando os seus talentos musicais emergentes.
Frédéric sentou-se devagar na cama, esfregando os olhos ainda sonolentos.
O aroma a pão quente vindo da cozinha despertou-lhe a fome. Sabia que a sua mãe, Justyna, deveria estar a preparar o pequeno-almoço para a família.
Levantou-se por fim e dirigiu-se à janela, ficando alguns minutos a contemplar a rua em baixo. Viu alguns vizinhos a abrir os seus estabelecimentos comerciais, enquanto as crianças mais novas brincavam alegremente nos becos entre as casas.
Sorriu ao ver as vidas agitadas que já despertavam cedo naquela zona da cidade. Ainda com passos lentos, dirigiu-se ao canto do quarto onde guardava a roupa. Vestiu as suas calças e camisa simples de linho.
Já quase pronto, não resistiu a tocar brevemente no velho piano de cordas do pai, dedilhando algumas notas suaves. A música sempre o acalmava e transportava para outros mundos.
Pouco depois, desceu as escadas em caracol de madeira até à pequena cozinha, onde a família se reunia para as refeições matinais.
Ao chegar à cozinha, Frédéric deparou-se com a mãe Justyna preparando gofres no fogão a lenha.
"Bom dia, mãe", cumprimentou-a carinhosamente. Justyna virou-se com um sorriso terno: "Bom dia, Frederic. Dormiste bem?"
O rapaz anuiu enquanto se sentava à mesa de madeira, passagem obrigatória das refeições familiares. Logo de seguida entrou o pai Nicolas, com ar cansado mas olhar sereno.
Beijou a testa de Frédéric e sentou-se também. "E o Emil, já saiu?", perguntou o menino. "Sim, disse que ia encontrar os amigos", respondeu Nicolas, deliciando-se com os aromáticos gofres quentes.
Após terminarem a refeição, Nicolas deu um abraço longo ao filho. "Hoje volto mais tarde, tenho muitos trabalhos para corrigir". Frédéric compreendeu, despedindo-se com um aceno tímido.
Sozinho no quarto, o menino não resistiu a sentar-se novamente ao piano, explorando as melodias que já decorava. Sem saber, aquele seria o começo de uma longa jornada de descoberta musical.
Frédéric mergulhou-se de alma e coração na música, como era seu hábito. Deixou-se levar pelas notas, explorando-as sem pressa.
De súbito, as mãos começaram a formigar estranhamente. Assustado, interrompeu a interpretação. Observou-as com espanto, vendo-as ficar gradualmente transparentes como se fossem de vidro.
O coração disparou, a respiração acelerou. Em pânico, tentou gritar por ajuda mas a voz morreu-lhe na garganta. O formigueiro alastrou-se ao resto do corpo, que começou igualmente a desaparecer.
Frédéric fechou os olhos com força, desejando que fosse tudo um mau sonho. Contudo, quando os reabriu deparou-se envolto por uma escuridão total, nunca antes experimentada.
Percebeu que nada à sua volta mais existia. Flutuou num vazio denso e misterioso. Lentamente, a consciência também começou a desvanecer-se. As últimas energias que restavam foram mergulhar numa névoa negra e fria.
Quando voltou a si, deparou-se com um local completamente diferente. Sobressaltado, tentou levantar-se mas o corpo pesava-lhe.
Olhando em redor com visão turva, Frédéric percebeu encontrava-se num local estranho. À sua volta já não havia casas de tijolo nem ruas empedradas, apenas uma vastidão de construções altas e estranhas.
No chão, debaixo de si, já não havia a terra batida que estaria habituado em Varsóvia, mas sim um pavimento liso e cinzento. Tentou levantar-se mas tremiam-lhe as pernas, o corpo sentia-se fraco e desgastado.
De súbito, ouviu sons estranhos vindos do céu. Levantou os olhos e assustou-se ao ver enormes objectos negros e brilhantes a deslocarem-se a grande velocidade por entre as construções. Seriam pássaros desconhecidos? Criaturas míticas?
Nesse momento, aproximou-se uma senhora que passeava um cão. Soltou um grito ao avistar Frédéric caído no chão. "Meu Deus, estás bem rapaz?! Chamem uma ambulância!", gritou para os lados.
Frédéric ficou cada vez mais confuso e assustado. Onde teria parado? O que era aquilo a que chamavam ambulância? E o que teriam sido aquelas misteriosas aves do céu? Cada vez mais fraco, acabou por desmaiar, mergulhando num sono profundo cheio de dúvidas.
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A Transposição De Frédéric Chopin
Historical FictionConheça a extraordinária jornada de Frédéric Chopin, um jovem músico polonês com um grande domínio do piano. Num dia como outro qualquer, durante um momento de criação musical, algo de inesperado acontece e Frédéric vê-se num lugar completamente des...