Sombras Do Passado No Presente

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Lentamente, Frédéric foi recuperando a consciência. Abriu os olhos e piscou várias vezes, tentando focar a visão turva.

Encontrava-se deitado numa cama estranhamente confortável, dentro de uma divisão branca e limpa. Virou a cabeça e reparou que pequenos aparelhos ao lado emitiam sons regulares.

Tentou levantar-se mas sentiu-se demasiado fraco. Foi nessa altura que uma senhora entrou no quarto, sorrindo-lhe com calma. "Olá, vejo que acordaste. Uma senhora encontrou te na rua desmaiado, estás no hospital. Como te sentes?"

Hospital? Rua? Que palavras estranhas pensou ele. Procurou articular resposta mas a garganta doía-lhe. A senhora deu-lhe água através de um tubo fino, aliviando a sede.

Passando algum tempo, Frédéric já se sentia mais forte. Observou através da janela grande, viu edifícios enormes que chegavam ao céu. Onde estaria? Nada se parecia com Varsóvia.

Frédéric continuou a observar pela janela daquele estranho quarto. As construções altas e as máquinas voadoras no céu deixavam claro que não estava em sua casa.

Após alguns testes realizados pelos médicos aos quais ele não entendia muito bem o que seriam, percebeu-se que a sua saúde estava recuperada. A enfermeira trouxe-lhe roupas estranhas mas confortáveis para vestir.

Assim que deixou a cama, sentiu-se tonto. A senhora ofereceu-lhe apoio, indicando que tal seria normal após o que lhe tinha sucedido.

Algum tempo de pois, curada a tontura, Frédéric seguiu a enfermeira pela estranha construção. Começou a ouvir sons bastante familiares, aos quais pareciam os de um piano desafinado ao longe.

Curioso, Frédéric seguiu a origem daqueles sons musicais. Chegou a uma sala onde viu crianças deitadas em camas, algumas com aspecto doente.

Num canto, uma senhora de idade tocava piano de forma delicada. Frédéric reconheceu o instrumento, embora este parecesse diferente dos que conhecia. Apreciou ouvir a música, reparando como acalmava as crianças.

Quando a música terminou, Frédéric sentiu algo que lhe era familiar na troca musical, apesar das diferenças na execução e no instrumento.

Um homem vestido de branco apareceu por trás de Frédéric e disse-lhe que teria alta e que poderia ir para casa, o que o fez animado pois pensará que tudo seria um sonho e estaria prestes a ir para Varsóvia, sua casa. Embora não compreendendo todas as palavras, ele concordou alegremente acenando a cabeça. Logo de seguida o encaminharam para a saida.

Lá, deparou-se com um grupo que observava imagens estranhas num quadrado brilhante na parede. Frédéric aproximou-se timidamente, fascinado pela luz e cores que se movimentavam, apesar de não compreender o que representavam.

Nesse momento, uma senhora mais idosa que ali trabalhava aproximou-se com um sorriso bondoso. "Não te preocupes pequeno, vais ficar bem."

As suas palavras, embora na língua estranha, transmitiam calor e conforto. Pela primeira vez desde que acordara naquele tempo distante, Frédéric sentiu um pequeno fio de esperança.

A senhora bondosa dirigiu-se então ao homem que tinha falado com Frédéric sobre a alta. Discutiram algo numa línguaguem que Frédéric não compreenderá bem e apontando para o menino.

Este aproximou-se depois de Frédéric com um sorriso reconfortante. "Vou levar-te a um sítio onde ficarás bem, e serás bem tratado até decidirmos o teu caso visto não conseguirmos encontrar os teus pais ou perceber quem és."

Frédéric apenas dizia que sim acenando a cabeça sem entender o que estava a dizer.

Saíram os três do edifício. O homem chamou então uma máquina estranha com quatro rodas que parou junto a eles. O homem e a senhora entraram e chamaram Frédéric, ele entrou receoso, sentindo-se enjoado com o movimento quando arrancaram.

Após alguns minutos, pararam numa zona com casas idênticas. Saíram e o homem conduziu Frédéric para o interior de uma delas.

Lá dentro, outras pessoas mais novas cumprimentaram-no num tom amigável. Levaram-no a um cômodo estreito com pouco mobiliário - apenas uma cama estranha presa ao chão, um armário feito de materiais que Frédéric nunca vira, e outra caixa na parede que parecia emitir luz.

O menino observava tudo boquiaberto, curioso mas também assustado. Nada daquilo se parecia com o seu modesto quarto em Varsóvia, com a cama que partilhava com o irmão e as belas tapeçarias nas paredes. Até os materiais usados eram desconhecidos para si.

O homem mostrou-lhe aquele espaço estranho e disse que seria o seu lugar temporariamente. Frédéric sentiu-se um pouco sobrecarregado com tanta novidade, mas grato por ter um teto enquanto tentava adaptar-se àquele futuro avassalador. Adormeceu cansado, mergulhado em pensamentos sobre a família, sua casa, onde estava e quando iria voltar para lá.

Quando despertou na manhã seguinte, Frédéric estranhou o sítio onde se encontrava. Lembrou-se de tudo o que acontecera e um nó apertou-se em seu estômago.

Levantou-se e saiu do quarto, deparando-se com as pessoas que o tinham recebido. Numa língua estranha tentaram explicar-lhe como funcionavam as coisas, embora percebesse pouco.

Apontaram-lhe a cozinha, onde sobre a mesa havia comida quente e fresca. Frédéric sentou-se sozinho, pensativo, a dar colheradas lentas.

Nesse momento, ouviu sons conhecidos vindos de uma sala próxima. Levantou-se de imediato, seguindo a melodia familiar que o reconfortava.

Chegou até uma divisão onde alguém tocava piano, embora de forma diferente do seu tempo e um pouco desafinada. Reconhecia a música de Mozart, que tanto amava, foi uma das primeiras músicas que ele tinha aprendido com o pai, a famosa Minuet in G Major, K. 1.

Ao ouvir essa Minuet, Frédéric sentiu-se reconfortado, transportado para os dias felizes que vivia alguns anos atrás quando começou a aprender música com o pai. Lembrou-se então da primeira composição que escreverá poucas semanas antes, uma Polonaise, à qual lhe chamará, Polonaise in G minor, Op. posth. 1.

Frédéric estava tão absorvido nas recordações e na nostalgia do passado, que se tinham passado vários minutos sem se aperceber.

Já ninguém estava a tocar, então dirigiu-se para o piano. Sentou-se timidamente à sua frente, passando os dedos brancos e delicados pelas teclas de marfim desafiadas pelo tempo.

Frédéric fechou os olhos e inspirou fundo, mergulhando no fluxo das memórias musicais do passado. Quando abriu os olhos, as mãos pareciam mover-se sozinhas sobre o teclado, prestes a dedilhar as notas de uma nova composição.

Nesse momento, ouviu passos a aproximarem-se. O rapaz deteve-se, virando-se para ver quem chegava. Frédéric logo de seguida retirou os dedos do teclado. Quem estaria a aproximar-se? Qual a composição que Frédéric iria compor?

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⏰ Última atualização: Aug 30, 2023 ⏰

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