Capítulo Único

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No início, Bad considerava a guerra uma das coisas mais tolas e horríveis que ele já tivera o desprazer de testemunhar em todos esses longos anos de vida. Acreditava que não havia bobagem maior do que pessoas cometendo crimes, incluindo tirar a vida de outras para alimentar algo maior. Mas mesmo assim, ele estava ali, naquela maldita guerra, lutando por esse tal "bem maior". Era difícil lidar com a sensação de sua foice atingindo um rival. Odiava os gritos que todos faziam, odiava as flechas voando, odiava o chão repleto de mortos e sangue... Guerras são um inferno, disso ele tinha certeza.

O que o não-humano definitivamente não soube lidar foi quando viu uma criança entrar em seu abrigo. Um garotinho baixo, de cabelos castanhos claros quase loiros, olhos azuis brilhantes e cicatrizes... cicatrizes estranhamente recentes. Não tinha ideia da sua idade, chutando entre 14 e 16 anos pela estrutura magra e baixa, mas logo depois descobriu que era uma criança de 15 anos. Na guerra.

 Na guerra

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Por que te enviaram aqui? - Sua voz era firme, tentando esconder seu choque com a cena diante de si, mas sua ansiedade ficava visível nos olhos arregalados, cheios de pena e surpresa. O garoto tirou do bolso um par de óculos de aviador, colocando-os na cabeça e deixando o objeto se perder nas mechas enquanto se virava para o homem. Um sorriso vazio escapou antes que falasse.

- Que pergunta é essa? O que acha que vim fazer na guerra? Lutar, é óbvio. - Riu, as mãos se apoiando no coldre em sua cintura, enquanto sua expressão permanecia calma. Se tirasse aquele sorriso zombador, daria para dizer que era um boneco sem vida em sua frente...

"Que droga fizeram com uma criança?", se perguntava Bad dentro de sua cabeça, engolindo em seco.

- Digo, eu sei... mas é porque você é muito...

- Não precisa continuar, eu sei que sou novo demais. Só que eu me destaquei, entende? Sobreviver nas ruas me ajudou a adquirir algumas habilidades, e estar aqui é melhor do que onde eu estava. - A voz sem emoção saía como se tivesse dito as palavras mais fáceis do mundo, enquanto os olhos azuis saíam de sob o capuz, o qual sentia um arrepio percorrer suas costas.

"Se isso é o melhor para ele, o que esse garoto já passou?... Que droga é essa?"

- Mas é que... aqui é muito arriscado. Você pode ser morto a qualquer instante. Tem certeza que quer isso, erh... - Olhou rapidamente para as letras escritas por algum objeto afiado no coldre da faca, acreditando que aquele poderia ser o nome, que por sinal achou muito diferente, assim como tudo naquele garoto. - ... Cellbit...

- Morrer aqui, para vocês, será apenas um soldado a menos. Para mim, é excelente, pois posso receber um enterro mais digno do que ter meu corpo desfiando em algum beco por aí. - As mãos de Cellbit se moveram rapidamente, puxando sua faca do coldre e a girando em sua mão antes de a segurar com firmeza. - Aqui eu pelo menos tenho uma chance, a qual eu conquistei. Então, pare de me tratar como uma criança. Seja lá o que você for, ao invés disso, agradeça. Se estou do seu lado, é porque sou uma excelente escolha e isso foi reconhecido, independentemente da minha idade.

Bad de repente se sentia triste com a forma como o mais jovem falava. Era frio de um modo que machucava, especialmente porque imaginava o que ele passou para adquirir essa frieza como forma de defesa. Era cruel a ideia de que na história daquela criança, sua melhor opção era morrer na guerra. O encapuzado respirou profundamente, pegando então sua foice e a girando antes de bater o cabo dela no chão para chamar o olhar do rapaz em sua direção novamente. Ele se apoiou na arma quando obteve a atenção.

- Certo, meu nome é BadBoyHalo, mas me chamam de Bad. Quero deixar claro que farei o possível para que você sobreviva e tenha uma vida digna, garoto. - Um gentil sorriso surgiu nos lábios do encapuzado, o qual foi respondido com uma risada vazia, se não sarcástica.

- É o que veremos, Bad... agora vamos lá. - Os dois então fecharam os olhos enquanto eram transportados para o campo de batalha. Mal tiveram a consistência do solo sob seus pés, e quando Bad percebeu, Cellbit já gritava para um inimigo enquanto avançava sobre o mesmo, deixando o não-humano surpreso com a brutalidade que aquele garoto usava.

Anos se passaram, e Bad nunca mais soube de Cellbit quando a guerra havia acabado, mas por ironia do destino, os dois se reencontraram.

Estava sentado em um tronco com seu pequeno Dapper ao seu lado, ambos olhando Cellbit se divertindo com Richarlyson, vendo a felicidade dele em seu filho agir como uma criança, algo que ele foi privado em sua vida.

Nem mesmo naquele momento, Bad sabia o que Cellbit passou em sua vida inteira. Lembrava de momentos em que sentia medo dele, sem contar os surtos que tinha várias vezes por conta das diversas vozes em sua cabeça, as quais notou que continuavam, mas agora... até o tratamento com elas mudou, parecia algo mais engraçado e calmo do que antes.

Era inspirador ver que aquela criança vazia, com ódio e sede de sangue da guerra, havia crescido. Tinha os olhos azuis carregados de alegria, tinha interesse por mistérios, se apaixonou e casou, até mesmo quando estava bravo, parecia estar mais livre e feliz.

Era como se agora, depois de todos esses anos, a vida tivesse deixado Cellbit em paz para sorrir e aproveitar a mesma ou lutar por ela. Não havia mais que escolher qual o melhor lugar para morrer, e sim o que ele queria fazer para viver.

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Opa, vou usar esse espaço como um "notas do autor"! Como vocês estão? :)

Fico muito feliz e obrigado caso tenha lido até aqui e espero te ver em futuros projetos, mas não vim usar esse espaço só para agradecer você! Também vim para agradecer a pessoa que me inspirou a não só voltar a escrever, como a postar essas histórias e ela é a dona dessa arte do começo da história! Se não sabem, ela fez uma comic baseada nas mesmas letrinhas que você leu agora, então peço que leia a comic também e dê muito amor para esse ser maravilhoso!

https://twitter.com/itssyama/status/1696972524561502673?t=c3n-df5UOD8nqGpSk8rg_w&s=19

Muito obrigado novamente por ter chegado até aqui e espero te encontrar em outras histórias! Cuídate e até logo 💕

Criança na Guerra - QSMP One-shotOnde histórias criam vida. Descubra agora