Capítulo Único

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Em uma cela apertada, úmida e escura. Tendo apenas fracos feixes de luz que vinham das velas do corredor passando pelo pequeno retângulo com grades na porta grossa. Quase não se dava para notar a garota jogada sobre farrapos no chão. Ela tinha a pele pálida, muitas cicatrizes e hematomas estavam à mostra em seu corpo, seu cabelo era curto e desgrenhado, aparentava ter uns 17 anos, seus olhos eram um âmbar opaco. Poderia se dizer que estava morta se não fosse pela sua respiração pesada e irregular.

Ela estava encarando a parede, quando a porta do lugar foi aberta de forma rude, fazendo um grande estrondo. Um homem de aparência perversa entrou, trazendo em sua mão direita um chicote. Ele se aproximou da garota e deu-lhe um chute no estômago, mas ela nem pareceu se importar.

— Você está se tornando tediosa – disse o homem com desdém – Mas tenho remédio para isso – a garota continuou calada, como se não se importasse com nada à sua volta –. Você se lembra daquela garota? Que estava com você no dia em que te comprei, ela havia sido levada pelos outros escravos, mas apanharam-na, e a comprei – disse com escárnio –. Ela está no fim desse corredor, estamos preparan... Aaaarg.

O homem gritou de dor, e percebeu que a menina que estava no chão antes, se levantou ao ouvi-lo mencionar sua companheira, e havia quebrado seu pulso que estava segurando o chicote. Seus olhos antes âmbar tornaram-se vermelho-sangue e suas unhas cresceram, compridas e afiadas. O homem assustado perdeu o equilíbrio e caiu sentado no chão. Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, a garota levantou seu braço e afundou suas unhas no pescoço do homem. Sangue escorria pelo seu braço. O golpe foi fatal, ela o soltou e ele caiu morto no chão.

A garota saiu pela porta e correu pelo corredor, matando qualquer um que ficasse em seu caminho. Ela chegou no fim do corredor, com a respiração ofegante, e abrindo a porta se deparou com a horrível cena. Sua companheira estava jogada no chão, tinha marcas de chicote em seu corpo, havia um corte em seu olho esquerdo, tornando-a cega de um olho. Na sua frente um homem estava segurando um ferro quente, se preparando para marcá-la, como propriedade desta família rica.

Enojada com a cena, ela correu até o homem. O homem ouviu a porta se abrindo de forma brusca, então se virou para ver quem era, mas quando estava perto de ver a pessoa responsável pela ação, ele sentiu uma forte dor no braço, e virando a cabeça para vê-lo, viu que sua mão havia sido amputada.

Enquanto o homem gritava e se contorcia de dor, ela fez um corte em seus dois olhos, e logo depois fincou sua unhas no estômago do homem. Ela o soltou e jogou-o de lado, logo indo em direção a sua companheira. Ela se ajoelhou no chão e com todo cuidado puxou a outra para o seu colo, enquanto murmurava consolo e desculpas por demorar. Ela sentiu uma mão em seu rosto, colocou sua própria por cima e olhou para a garota em seu colo.

Fico feliz que esteja viva Astoria - disse a garota sorrindo com ternura - eu senti sua falta...

Abrindo meus olhos, pisquei algumas vezes para me ajustar a luz, olhei para o outro lado da cama vendo-o vazio. Sentei na cama me espreguiçando, me levantei colocando minhas pantufas e caminhei em direção ao banheiro para me lavar. Em pouco tempo saí e fui para a cozinha. No fogão a lenha tinha um bule de café fumegante, então peguei uma xícara e me servi um pouco. Com o café em mãos passei pela porta dos fundos, onde fica a horta. Me deparando com a estrela mais brilhante e bela que vi em toda a minha vida, meu sol, minha companheira.

Ela estava em pé no meio da horta, segurando seu livro de agricultura. Seu longo cabelo preto ondulado estava balançando com uma leve brisa, seu olho direito era um verde claro, tendo um olhar concentrado e no esquerdo ela usava um tapa olho com uma rosa vermelha desenhada, mas isso não diminuía sua beleza, sua pele clara refletia no leve sol da manhã. Ela estava usando um vestido longo branco que ressalta sua aparência bela.

Fico feliz de ser parte demônio, assim posso ser capaz de nos proteger, posso ficar ao seu lado. Eu sabia que meu avô fazia parte de um clã poderoso, mas não pensei que era o clã demoníaco. Meu poder estava selado, mas a intensa raiva que senti por aquele homem queimou o selo.

Eu a admirei por mais um tempo, antes que ela notasse a minha presença. Ela percebeu meu olhar, levantou o rosto e olhou para mim com sorrisos no olhar.

Astoria! - ela disse sorrindo - bom dia, dormiu bem?

Larguei meu café, e fui ao seu encontro, me aproximei e abracei-a dando-lhe um beijo calmo.

Estou casada com o sol do meu dia e luz da minha noite - disse com uma voz doce - como poderei dormir mal ou ter um dia ruim?

Os seus olhos iluminaram-se e ela tinha um sorriso amável em seu rosto. Ficamos abraçadas por um tempo, mas logo ouvimos passos correndo em nossa direção e assim que saímos do abraço três crianças pequenas, com flores nas mãos se jogaram nos nossos braços, com sorrisos travessos.

Mamães! - disseram os três ao mesmo tempo - nós fizemos coroas de flores para vocês!

Nós duas abaixamos a cabeça, e elas colocaram uma coroa em cada uma. Eu levantei o rosto, para ver minha companheira e... ela estava magnífica, ela tinha um grande sorriso gentil e nossos filhos estavam nos elogiando. E presenciando tal cena eu tenho a certeza. Eu não teria lugar e razão no mundo sem eles.

Minha luz, meu sol, minha companheira!Onde histórias criam vida. Descubra agora