Bailey
- Ayla, o que você está fazendo? -
questiono diante o milésimo infarto que essa menina me provoca neste mês. Aos quinze anos, não deveria estar, sei lá, brincando com bonecas? O que diabos ela está fazendo com uma lâmina de barbear e o rosto cheio das espumas que uso geralmente para fazer a minha higiene?- Pai, que susto! - grita, franzindo o cenho para mim. - O senhor quer que eu me corte? -Não é possível que eu esteja escutando isso. - Minha filha, você é só uma menina. - Entro no banheiro e mantenho as duas mãos na frente do meu corpo, tentando fazê-la entender que não a estou repreendendo.
- Quem precisa tirar barba são homens. Nem meninos tiram a barba! - ela fecha os olhos, claramente impaciente e respira fundo.
- Pai, o senhor não entende - diz, levantando a mão suja de espuma. Ayla é a melhor filha que um pai pode sonhar em ter, mas tem um gênio horrível. E, é claro, o herdou de mim. O que me quebra sempre essa relação é que ela nunca está disposta a me escutar. E a sua justificativa nunca muda: eu sou homem e não a entendo. Como posso não entender a menina que criei sozinho desde que tinha um mês de vida? Pelo amor de Deus!
- O que eu não entendo, Ayla?! - questiono, tentando não arrancar o que me resta de cabelo. - Para quê você está se barbeando? Desvia o olhar para o espelho do banheiro e continua nessa tarefa que ela não tem o mínimo de cuidado.
- Bella disse que o meu buço está com muitos pelos - diz, passando a gilete abaixo do nariz. - E que a irmã dela depila os dela com cera quente.
Que tipo de estupidez é essa?! Em que mundo estou vivendo que uma menina com quinze anos tem pelos no buço? E, do nada, uma história bizarra de cera quente? Pelo amor de Deus, não é possível que vou começar a enfrentar uma nova guerra com a minha filha. Até outro dia era a história dos namoradinhos e, agora, são pelos no buço.
- Ayla, isso não faz o menor sentido. - Olho para a sua cara mais do que eu olho para a minha na frente do espelho e nunca vi nenhum pelo no seu rosto. Eu só posso estar vivendo em um universo paralelo. Não, na verdade estou. E descobri isso quando ela completou dez anos e as suas necessidades começaram a girar em torno de maquiagens - inúmeras delas, vale ressaltar -, cremes de cabelo caríssimos e um mundo de coleguinhas que vivem loucas por um namorado. Pelo amor de Deus! Ela só tinha dez anos e estava sendo levada pelo que as outras meninas da sua idade queriam. Eu, do alto do meu patamar supremo de pai, tive que agir como qualquer pai maduro faria: expulsei todo mundo da minha casa e troquei Ayla de escola. Se não fosse pelo meu pai, eu a teria tirado da cidade também.
- Pai, pega um creme para mim, por favor? Eu acabei. -Ela acabou? Acabou o quê? Me aproximo para conferir o que ela fez no rosto e não sei como ainda consigo ficar surpreso com as coisas que me deparo. Toco no seu queixo e a viro para me olhar. - Não tem nada de errado em você, minha filha. Não esqueça que só tem quinze anos e é uma menina que...
A sua expressão fecha em uma carranca que eu tenho certeza de que não está nem um pouco afim de ser questionada. Essa petulância...
- Pai, o senhor não percebeu ainda que eu não sou mais uma criança?
Gargalho sem conseguir controlar nada que sai da minha boca hoje. Tenha filhos. É o único conselho que eu dou para todos os meus amigos solteiros. Você não precisa casar. Não precisa estar em um relacionamento estável. Você precisa de responsabilidade, emprego, moradia e estabilidade emocional. Na verdade, eu não tinha nada disso quando Ayla foi deixada no meu colo para que eu decidisse entre assumir a responsabilidade de criá-la ou enviá-la para um orfanato. Aos vinte anos, sem saber o que é ser criado com a presença de uma mãe, eu era irresponsável, rebelde e já estava quase sendo expulso de casa pelo meu pai. Então, Ayla veio ao mundo. E foi apenas por causa dela que consegui me tornar alguém que pode lutar até contra si mesmo para ser algo, porque até aquele momento, eu não me importava comigo. Ela, tão pequena e inocente, me deu um propósito sem ao menos saber disso.