Toda tarde é só o ínicio do que a gente ainda vai poder viver

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No auge de 2008, em meio das férias de Julho, como sempre, Arthur viaja para São Paulo visitar alguns parentes e passar um tempo na casa dos avós, que tinham se mudado de Caparzinha há alguns anos.

Ele aproveita esse tempo pra rever velhos amigos, como Cesar, filho de um amigo de Brulio, pai de Arthur, e Thiago que acabou conhecendo pois o homem era como um irmão para Cesar.

Arthur passa as férias fazendo uma das coisas que mais ama, trabalhar na locadora dos avós, nesse período é super movimentada, e os idosos geralmente não dão conta sozinhos.

Ele chegou no sábado em São Paulo, visitou quem tinha que visitar, encontrou quem tinha que encontrar, saiu para onde tinha que sair, mostrou seu novo violão para todos que tinha oportunidade, e tocava os acordes mais elaborados que Gregório estava lhe ensinando.

Entretanto na segunda quando acordou, fez questão de ajudar a avó a montar a mesa do café, enquanto se preparava para começar a trabalhar.

— Acho que você vai adorar o novo funcionário —  A senhora diz de repente enquanto passava o café.

Os raios de sol invadiam levemente pela janela, essa que era enfeitada com diversos vasos de flores, e o rosto da senhora estava bem iluminado.

— Como assim? Vocês contrataram alguém? — O moreno diz olhando de relance para a mulher.

— Eu não te contei? Faz cinco meses... — A senhora coça o queixo enquanto coloca a garrafa de café na mesa - Bem, o nome dele é Dante, tem mais ou menos sua idade, mas é bem tímido.

— Humm, ele é bom? — Puxa a cadeira para a mulher se sentar, essa que sorri e se senta.

— Ele é ótimo querido, acho que vão se dar bem, só cuidado pra não assustar o garoto com sua empolgação.

Ambos dão risada, em poucos minutos o avô de Arthur se junta a eles, e todos aproveitam um café delicioso de vó, com direito a bolo de fubá e pão com mortadela.

Às sete e quarenta o moreno abre a porta da locadora, se sentindo abatido pelo sentimento de nostalgia instantâneo, a estética de rock mas ainda com alguns detalhes meio "fru-frus", como o tapete de crochê em formato de caveira na entrada, ou a parede de plantas no fundo da loja, haviam em média uns oito corredores com prateleiras infinitas com filmes, dos mais recentes aos mais antigos.

Assim que joga sua bolsa atrás do balcão e acende as luzes, corre até um dos corredores, pega uma das fitas de "Prenda-me Se For Capaz" a colocando para passar na televisão de tubo que ficava próxima ao balcão.

Era sempre seu ritual, escolhia um filme que tinha ficado viciado no último ano e colocava para assistir, aproveitando as primeiras horas do dia enquanto ainda não tinha muita gente.

Então, assim que se senta na cadeira atrás do balcão escutando as primeiras notas da trilha do filme, é surpreendido pelo som da porta abrindo.

Arthur estava no auge dos seus dezesseis anos, sua sexualidade nunca havia sido um problema, Ivete – que era como uma mãe pra si – namorava uma mulher, assim como outros membros de sua gangue se relacionavam com o mesmo gênero, ele, por sua vez, descobriu recentemente a sensação da sua boca em outra.

Ele devia ter beijado até agora no máximo três pessoas, uma delas sendo um menino, estava bem resolvido quanto a isso, gostava de garotos e não tinha problema nenhum com esse fato, mas durante todos esses anos nunca tinha visto alguém tão bonito como agora.

Ele era alto, a pela branca – levemente avermelhada pelo frio – o cabelo loiro e longo, a franja presa para trás, roupas meio desgastadas, que eram um pouco maior do que seu tamanho, mas ainda assim não apagando a beleza daquele garoto, e se amor a primeira vista existe, Arthur poderia dizer que estava apaixonado.

Locadora - DanthurOnde histórias criam vida. Descubra agora