Encontros - Perdição

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                                 CONTEÚDO ADULTO

     Ontem pela manhã antes de tomar o café, parei tentando juntar os fatos que me levaram aquele lugar. São apenas memórias vagas, como um sonho que se realizou.
     Lembro bem quando os sintomas começaram. Uma forte ansiedade tomava conta do meu corpo e minha cabeça doía constantemente. Eu sentia a palma da minha mão queimar e o meu corpo agitar-se, era uma agonia quase insuportável. Tentei manter a calma, bebi água e fui fazer algo que me distraísse, mas música, cigarros ou até mesmo a fútil programação local na tv entediava-me cada vez mais.
     Segurei as pontas o dia todo, mas tudo que eu fazia só me intrigava cada vez mais. Eu precisava dela.
     Depois de quase desoito horas de abstinência veio a mim a já esperada recaída. Entrei em meu carro e segui ao encontro do meu desejo. Os traficantes eram legais e o preço para eu era até rasoavel. Eles só faziam entregas a noite. Apenas cem reais era suficiente para matar minha ânsia.
     Em casa tudo estava na mais perfeita ordem. Caminhei até o armário e retirei um tabuleiro de vidro, cerca de meio metro quadrado. Juntei os cartões, a droga e meu canudo de aço.
     Com a droga na mão a ansiedade já não era a mesma, eu sabia que a partir dali tudo ficaria bem, porque então desesperar-me?
     Separei então duas tiras grossas de quase quinze centímetros cada. Aspirei, e no mesmo instante minha mente estava limpa, como se houvesse uma imensa paz. Uma explosão de prazer quase tão intensa como um orgasmo. Em alguns segundos meu coração já estava saltitando e as paredes pareciam se encolher a minha volta. Saudades dessa sensação.
     Voltei para o carro e parti sem destino. O som ligado e as janelas abertas. 80km/h era quase como estar parado. Não existe tempo ou velocidade quando a coca te consome.
     Parei em um bar a fim de encontrar alguém conhecido, mas não havia ninguém ou ninguém era suficiente. Até que duas garotas se aproximaram. Apresentaram-se e logo estavam sentadas a minha mesa. Como é incrível o poder da persuasão. Absorvo a tranquilidade e a insanidade que a droga me promove. Sinto-me como um Deus.
     Em alguns instantes eu já tinha uma grande afinidade com as meninas, mas o tempo foi passando e meus assuntos foram se esvaindo. Logo apenas elas estavam falando e eu notava meus pensamentos voando sobre as conversas. Dez minutos após essa sensação tudo era irreal, irrelevante.
     Olhei a hora e vi que já haviam passado quase quatro horas desde que saí de casa. O efeito estava acabando e eu precisava de mais. Ouvi uma voz dentro da minha cabeça falando comigo, parecia alguém familiar. Senti o calor ao meu ouvido e notei que realmente havia alguém ali cochichando comigo.
- E aí, como é? Vamos levar essas meninas para comer em casa e parar de gastar dinheiro aqui?
     Olhei para o lado esquerdo e lá estava Felipe, fazia uns dois anos que não nos encontrávamos, na verdade nem éramos amigos, mas já curtimos muito juntos antes.
     Confirmei com a cabeça sorrindo e conferi para ver se as meninas tinham ouvido algo, em seguida pedi a conta. Vi que em poucos instantes ele já tinha feito amizade com as lindas garotas.
     Eu queria mais!
     Fomos para minha casa, quando todos se colocaram em seus lugares, pedi mais cem reais de pó. O disk tráfico nessas horas facilita bastante a minha vida.

     Embora fosse minha própria casa, eu não me sentia confortável. Talvez devesse ser a abstinência ou o cansaço físico, então me pus a ouvir.
- Senta cara, você não vai crescer mais que isso.
     Falou Felipe. Sorri e sentei em uma poltrona ali na sala de estar, o diálogo prosseguia.
- Vamos fumar um.
     Disse ele tirando a erva do bolso.
- Você bola, acho que tenho umas sedas aqui na carteira.
     Disse a moça ao lado dele. Acho, aliás... Tenho certeza que ele vai comer ela.
- Sabe o que animaria mais a noite?
     Disse Lana.
- O que?
     Respondeu Felipe.
- Uma quadrada...
     Ambos riram. Laura estava sentada ao lado deles no sofá, tinha o corpo magro, seios grandes, pele morena e um volumoso cabelo cacheado.
     Em ordem, da esquerda pra direita estava Felipe, bem vestido como sempre, cabelo na régua e uma barba comprida. Lana, uma gata branca elegante de vestido vermelho e cabelos lisos e Laura. Eu estava de frente pra eles.
     Lana abril sua bolsa pequena e me surpreendeu tirando um revólver.
- Sério que você anda com isso?
     Perguntou Felipe.
- Fique gelo, moral...

     Alguém bate a porta. Minha encomenda chegou!

     A partir desse momento eu estava só novamente. Era irrelevante para mim quem estava naquela casa. O único problema agora era que eu teria que dividir.
     A abstinência já estava tão forte que meu corpo tremia. Lana e Felipe brincaram com a arma das formas mais inusitadas. Nunca me imaginei submisso a uma mulher colocando um cano em minha boca.
- Porque vocês dois não falam?
     Disse ela enquanto os dois brigavam para acender o baseado. Laura apenas relaxava e sorria de tudo que estava acontecendo, especialmente para mim, mas eu já havia deixado claro desde o começo que era casado, mesmo não sendo verdade.
- Estou sentindo o amor pintando no ar...
     Falou novamente Lana com os olhos vermelhos, apontando para nós com sua arma usando apenas uma das mãos. Eu não aguentava mais segurar, então refiz minhas linhas brancas, aliás, nossas linhas... Falaram que era melhor separar em tiras pequenas, não sei quem falou, eu só queria cheirar. Aspirei uma pequena parte.
     Há alguns instantes a falta daquilo e o cansaço já estavam me dando tontura, agora o meu olhar apenas focava na droga.
- Vamos juntar os colchões no chão agora.
     Disse Felipe, ele só queria comer alguém, mas chapado como estava seria meio difícil. Isso poderia mudar se Lana não tivesse arrastado a porra do colchão para cima de mim.
     Minha placa de vidro espedaçou-se ao chão com todo o pó. A vontade que eu tive naquele momento foi de descarregar aquela arma na cara dela. Me contive, mas não por completo.
     Laura foi a única que notou e me chamou para o canto.
- Nós vamos embora...
- Não precisam sair.
     Respondi.
- Relaxa, vou convencer eles daqui a pouco, eles estão chapados demais e não confio naquela arma aqui.
- Você parece ser uma ótima pessoa, sabia? Porque anda com ela?
- Algumas coisas não podemos simplesmente explicar, mas ela precisa de mim mais do que eu dela.
     Terminamos de conversar e em menos de meia hora todos os três já tinham saído sem discussão. Ela sabe conversar, gostei de sua atitude, mas assim que saíram, peguei um pacote da droga que havia escondido deles, deitei um espelho, espalhei e cheirei com toda intensidade que pude. Peguei o telefone e liguei para meu disk tráfico particular.
- Manda outra daquela pra cá!

Caros leitores, essa história foi escrita em 2016. Eu trabalhava em um bar durante a madrugada e vivia observando situações inusitadas de longe, com personagens da vida real aproveitando os seus desejos íntimos todos os dias. Eu ficava sempre pensando o que estariam  conversando, com isso, escrevi alguns contos com o título "Encontros". Sempre narrando histórias curtas de pessoas que se conhecem e vivem uma pequena história, seja ela romântica ou não, pois a vida nem sempre nos leva a um mar de rosas.

Espero que tenham gostado da leitura e fiquem a vontade pra deixar seus comentários.

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⏰ Última atualização: Sep 03, 2023 ⏰

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