Parte 1

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"Parabéns! Seu desejo se tornou realidade. Você viajará a um lugar mágico e encantado." Disse a deusa da Lua, misteriosamente feliz.

Mas não foi isso o que eu pedi. Na verdade, eu não pedi nada a ela. Eu a procurei porque queria orientação, conselhos e auxílio. A deusa Jaci foi amorosa e misteriosa, e disse que sabia perfeitamente o que eu precisava.

"Embarcarás numa jornada, filha do mundo terreno", ela falou, "Uma jornada que te levará aonde as linhas do tempo dançam e as fronteiras entre os reinos se desvanecem. Encontrarás respostas que não podes compreender plenamente agora. Pois é uma jornada que te desafiará e te transformará. Verás as sombras da vida passada e as escolhas que teceram o presente."

Isso me deixou arrepiada, amedrontada, mas com vontade saber mais. Eu não a interrompi, então ela continuou:

"Na companhia das almas que vagam, encontrarás a luz que ilumina as estradas escuras da existência. Mas lembra-te, filha do mundo terreno, nem todas as respostas serão dadas prontamente. Em cada passo, em cada escolha, reside uma lição".

Minha curiosidade aumentava com cada palavra. Eu não conseguia parar de ouvir atentamente. E ela sabia. Então, ela continuou:

"Assim como as almas penadas vagam em busca de redenção, tu também és uma peregrina em busca de compreensão. A jornada te guiará através do fio tênue que une o passado, o presente e o futuro. Abre teu coração, filha do mundo terreno, para as verdades que aguardam nas sombras."

Eu assenti, sentindo-me ao mesmo tempo fascinada e apreensiva. Eu não sabia o que esperar dessa viagem, mas estava claro que era uma jornada que iria além do que eu poderia imaginar.

Jaci sorriu, com um sorriso enigmático que parecia conter todos os mistérios do universo. "Parte agora, filha do mundo terreno. As estradas da jornada estão esperando por ti, e as almas penadas te aguardam com histórias a contar."

. . .

E foi assim que acordei neste mundo desconhecido. Diferente. Claramente verde, mesmo dominado pela escuridão da noite.

Eu estava no meio do caminho, igual a uma pedra, quando de repente, senti um cheiro de vela queimada, acompanhado de um vento frio que me deixou completamente eriçada. Alguma coisa se aproximava. Eu conseguia ouvir... e sentir... Mas não conseguia enxergar.

"Olá! Há alguém aí!?" Eu perguntei, com um pouco de receio.

Então, eu comecei a ouvir mais passos de pessoas. Parecia uma procissão. O ritmo da caminhada continuava igual. Mas o som ficava cada vez mais forte... Eles estavam vindo na minha direção.

Meu coração começou a palpitar com força. Fiquei nervosa e passei a sentir meu suor no meu próprio rosto. Mas eu confiava plenamente nas palavras de Jaci, por isso confiei na minha jornada e fiquei ali parada. Esperando. Esperando alguma coisa aparecer.... E apareceu.

Parecia uma procissão de almas em pena, condenadas a vagar em sofrimento pela eternidade, por causa dos seus pecados. Eram lideradas por uma alma diferente. Parecia uma Grande Alma. Ela levava uma cruz e um caldeirão.

Seus passos eram pesados, como se além de carregar a cruz, também carregasse o peso de incontáveis histórias e arrependimentos. Pude observar brevemente que as almas ao seu redor vestiam mantos que pareciam feitos de luz e sombras.

Do nada, eu ouvi uma voz que gritou comigo. O grito foi tão inesperado que isso me sobressaltou de uma maneira que nem os mortos tinham conseguido me sobressaltar. Era uma pessoa viva me dizendo para não olhar, e que eu devia abaixar a cabeça e não olhar. Ele correu na minha direção e me derrubou no chão. E continuou repetindo "Nom olhes! Ou vás morrer!".

Lágrimas da Noite: A História oculta da Santa CompanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora