1. Romeu & Spider

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JIMIN 

O primeiro gole amargo da noite acontece dentro de casa, com as lágrimas teimosas que seguro ao perceber o desinteresse de Junwon. Cada aceno com a cabeça, palavras curtas sem interesse, o tom seco usado ao falar comigo; porém ao voltar a conversar com os seus amigos, é totalmente diferente, a doçura na voz é perceptível até demais.

— Amor, vou ao mercado, você quer que eu traga alguma coisa? — pergunto pela terceira vez num intervalo de cinco minutos, tentando conseguir a sua atenção para mim, pelo menos uma vez.

— Hm, certo. — Seus olhos estão atentos aos movimentos do vídeo game, enquanto o microfone capta o desejo de continuar jogando. — Isso cara, vem pela direita e joga a granada aqui.

Suspiro cansado, meus ombros caídos evidenciam isso.

— Junwon, você vai querer ou não?

Antes de dirigir a palavra a mim, ele segura o microfone o tampando. O olhar que lança na direção em que estou, sucumbe a minha vontade de continuar questionando-o, destruindo as barreiras que construí ao longo da noite em inúmeros pedaços, me transformando numa criatura pequena e inferior com um simples ato.

Eu sou um namorado tão ruim assim?

— Caralho, Jimin! — Braveja, rangendo os dentes, algumas gotículas de saliva voam perto do meu rosto. — Eu estou ocupado, não está vendo? Me deixe um pouco, você é muito grudento e insuportável quando quer.

Uma lágrima quente e pesada cai e escorre por todo o meu rosto, até se desmanchar acima do meu peito. Respiro fundo, limpando as outras que insistem em me fazer desabar na frente do estranho; namorado, a minha frente.

— Tudo bem, me desculpa...

Pego as chaves com os chaveiros barulhentos e saio pela porta, a fechando com delicadeza para não atrapalhar o compromisso de Junwon.

O vento gelado me toca assim que piso do lado de fora, deixa minhas bochechas vermelhas. Escarlate, a cor da vergonha, pois era como eu me sentia em relação ao meu relacionamento.

Vergonha por ser tratado dessa forma e não ter forças para acabar com tudo isso, vergonha por sempre ceder ao meu namorado, vergonha por ser uma criatura detestável e carente de atenção, ou... Vergonha por ser eu mesmo.

Andando pelas ruas do bairro, vejo a quantidade de casais sorrindo aparentemente felizes. Há um tempo atrás, quando todo esse tratamento frígido começou, também achava que estes casais eram felizes. Mas, quando saímos juntos, também sorrimos e fingimos ser bons namorados. Bem, eu pelo menos tento ao máximo continuar acendendo a faísca da paixão que nos uniu. Entretanto, cada vez que penso mais sobre isso, percebo que tudo não passou de atração momentânea e um teatro.

Talvez numa história de Romeu e Julieta, eu não fosse o Romeu dele e sim somente o espectador da peça. Observando ao longe esse relacionamento indo por água abaixo todos os dias.

Meus pés já não caminham mais em direção ao supermercado e sim para um dos bares mais frequentados do bairro. Não sei como cheguei neste estado, pode ser o destino tentando me pregar uma pegadinha maldosa, quem sabe.

It's raining, my love • Pjm+JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora