Setembro amarelo

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Li hoje uma frase falando que todo suicida dá sinais. E precisei recordar de mim mesma e de todos os sinais que eu não dei ou que não souberam ler, é de fato um pouco difícil ler os sinais nas pessoas que não dão trabalho. No entanto estava ali em uma melancolia que me perseguiu por toda adolescência e me persegue até hoje.
A primeira vez que eu pensei em me suicidar eu tinha 15 anos, tinha um prego na parede do meu quarto e minha mãe havia falado que ia bater minha cabeça nele e me matar, eu falei mata. Depois desse dia passei semanas pensando em como a vida dela seria melhor se eu simplesmente não existisse, então em uma tarde qualquer, na qual eu estava sozinha em casa, era raro isso acontecer,  eu peguei um estilete para cortar meu pulso,  a verdade é que eu tentei com todos os objetos perfurocortantes que havia em casa e nenhum cortou mais do que camadas superficiais da pele. Entendi que talvez não era para ser, eu havia cortado o dedo com o estilete no dia anterior,  as coisas não perdem o corte tão rápido.  Eu enfaixei o braço, falei que havia torcido e fiquei com ele enfaixado até que cicatrizou os cortes, ninguém perguntou nada, ninguém soube.

Entre eventos e rotinas eu deixei de lado a ideia de me matar e prossegui a minha vida como se a melancolia não ameaçasse me dominar anualmente.  Em todas as férias por duas semanas eu ficava absolutamente isolada,  não conversava com ninguém,  presa em mim mesma, em um comportamento que foi entendido como anti social,  eu nunca me importei em corrigir. A verdade é que para ter vontade de sair de aproveitar a vida a melancolia não é uma boa aliada.
A segunda vez que eu pensei em me matar eu estava no segundo período da graduação e foi o semestre mais angustiante em que eu já vivi, as pessoas que eu me relacionava no primeiro semestre todas me viraram as costas,  a verdade é que eu era muito, eu era demais naquele espaço tomado por adolescentes de 17 , 18 anos e eu com 24. Eu ansiava continuamente em me jogar do quarto andar e acabar com toda aquela perda, a sensação de ineficiência e pesar que me habitava. E precisava respirar e lembrar que eu amava aquele lugar e eu conquistei o direito de estar ali todos os dias. Foi uma luta, travada todos os dias por 5 meses. Eu não venci,  aprendi a me apoiar em outros lugares e criei um grupo estável em que eu podia ter alguma confiança.

As pessoas não souberam, eu não contei, ninguém me perguntou como eu estava.

Versos ao infinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora