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Ayer

Eu vi alguém, alguém cair e ninguém notou.  Como vivemos em uma sociedade em que o outro se tornou tão pequeno que não nos importa suas lagrimas, seus medos, suas cicatrizes? Não nos importa seu nome ou sua aparência, como foi sua vida, e quais são seus sonhos, não nos importamos nem em saber se o outro teve o que comer hoje.

Mas não foi isso que eu vim te contar e tão pouco vim para fazê-lo pensar no outro, não hoje ao menos. Eu vi esse alguém, e não importa quem era ou o que fazia, mas o seu olhar me incomodou muito, incomodou o suficiente para eu sair do meu mundinho para lhe estender a mão. E mesmo estando grato, o que me disse foram as palavras que mais me machucaram até hoje.

-“Não se preocupe, eu vou me adaptar”.

Ao que consta eu fiquei em choque, como alguém que já se sentiu no papel do abandonado pode se quer pensar em se juntar aquela horda de alienados? Então gritei:

-Não!

Apenas uma pessoa ouviu a única que não se encontrava ainda em um mundo de compromissos e horas marcadas.

-Não faça isso!

-Não faça o que?

-Não se entregue, não se acostume, não perco a sensibilidade que ainda tem de enxergar o outro, não se perca ao meio o caos, não deixe que levem quem você é!

Dei a volta e fui embora, não olhei para trás até chegar ao portão de saída, quando finalmente olhei para trás o vi, ainda estava parado, mas não como uma estatua, estava escutando um violinista, a canção? Jamais escutei algo tão belo.

Versos ao infinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora