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Não sei porque ele ficou em choque daquele jeito. Mas vou descobrir. Rita viu o que eu vi, e continuou atrás de mim, fiquei curtindo como se fosse uma festa comum e que eu não estava lá só para ir atrás do Pulga. Tinha um homem que estava me olhando, Pulga percebeu e ficou só de canto, maxilar travado, dava para ver que não estava gostando nada daquela situação.

A festa até que estava boa, e por um momento fiquei rezando para que não me envolvesse em problema. Dancei com Rita, bebemos mais ainda, até que a coragem chegou, ajeitei meus cabelos e fui andando na direção do Pulga.

- Oi amor - dou um sorriso.

- O que você tá fazendo aqui, Gabriela? - ele fala ríspido.

- Vim ver o que meu amorzinho estava fazendo - me encosto do seu lado, com os cotovelos na mureta atrás de nós, na mesma posição que Pulga - sua mãe me disse que você estava com uns parceiros - falo perto de seu ouvido.

- É uma festa privada, Gabriela - Pulga fala.

- Ah é? E por que eu entrei? - falo e dou uma piscada para o homem que me olhava.

- Porque toda mulher entra, menos homens - ele se vira pra mim.

Estava tão lindo, com um moletom preto de capuz.

- Poxa vida, é verdade, eu sou mulher - me fiz de desentendida - por que você não me avisou que não iria pro baile? - cruzo os braços olhando brava para ele.

- Gabi, seu eu fosse você iria embora - Pulga fala.

- Você quer que eu vá embora? - Pergunto.

Um senhor se junta a nós.

- Olá, minha querida - ele diz.

Quando eu ia responder o senhor, Pulga me interrompe.

- Vai embora Gabriela, eu não quero nada sério com você - ele diz nervoso.

Meu coração se partiu ali, meus olhos se encheram de lágrimas, eu queria gritar, mas só olhei para ele com desdém e fui embora, antes de sair pela porta vi ele cheirar uma carreira de pó e aquele senhor ao seu lado bater em suas costas comemorando, nóia do caralho.

- Amiga o que foi? - Rita me segura.

- Como eu deixei, Rita? - eu gritei com raiva e as lagrimas escorrendo - em um mês, a gente mais terminou do que namorou, agora ele me esculacha na frente dos outros, dizendo que não quer nada sério comigo, esse filho da puta invadiu minha casa ontem, ele só queria transar - soquei a parede com raiva, machucando meus dedos.

- Gabi se acalma - Rita fala assim que eu termino.

- Eu vou embora Rita - falo me ajeitando e descendo, mas Rita vem atrás de mim.

- Dorme em casa, você não pode ir embora assim - ela diz nervosa.

- Fica tranquila Rita, mais nada pode me machucar, esse infeliz já fez de tudo pra me destruir - falo e continuo andando, fazendo Rita ficar para trás.

Estava cega, totalmente cega, de ódio, raiva e principalmente de lágrimas. Quando cheguei ao final da favela, corri para atravessar a avenida, mas tudo ficou preto quando senti uma pancada forte em meu corpo.

POV Rhamon Garcia

Eu não queria, mas tive que fazer aquilo com a Gabriela. Ela não podia ter ido lá, o Badá viu ela, e ele sabe o quanto eu tenho me enrolado na caminhada, porque essa mulher é tudo o que eu penso, desde a hora que eu acordo até a hora que vou dormir, ela me faz querer ser melhor a cada dia, largar essa vida que o crime me faz ter. Assim que ela saiu, ele me entregou um pino, estava tão nervoso com a situação que eu não pensei duas vezes em distribuir pela mesa e cheirar.

- Isso ai - ele bate em minhas costas - tem que por mulher no seu lugar - fala saindo.

Minha cabeça queria explodir, que caralho eu fiz da minha vida?
Fiquei curtindo a festa, tentando assimilar tudo o que tinha acabado de acontecer. Será que eu vou ter outra chance de ter essa mulher ao meu lado?

Alguns minutos se passaram até Rita entrar correndo.

- Mano, a Gabi foi atropelada - ela diz ofegante para mim.

- É o que? - pergunto em choque ao ouvir suas palavras.

- Ela saiu muito nervosa Pulga, eu pedi pra ela ficar mas ela disse que não, que mais nada podia machucar, que você já fez de tudo para destruir ela - Rita fala - ela deve ter atravessado a avenida correndo e não viu, ela estava chorando muito, uma conhecida veio avisar que minha amiga tinha sido atropelada, desci lá e vi que realmente era ela - ela completa ainda mais nervosa.

Fico paralisado. Como se a merda já não tivesse sido grande o suficiente, eu ainda deixo ela tão nervosa a ponto de não conseguir enxergar por onde andava. Olhei em volta e vi que não tinha ninguém olhando, acho que o som estava alto o suficiente para não terem ouvido. Fui saindo da festa e Rita atrás de mim.

- Vamos pro hospital - falo enquanto pego minhas chaves. Rita assente e entra no carro.

Dirigi feito louco, parecia que nunca ia chegar.

- Por que você fez aquilo cara? - Rita pergunta.

- Eu tava me enrolando na caminhada Rita, eu só penso na Gabi, o Badá ficou na minha cola, eu precisava pelo menos fazer isso na frente dele, pra ele parar de encher o saco, mas foi a maior burrada da minha vida - me explico.

Rita só assente concordando, pois havíamos chegado no hospital.
Ela correu para a recepção e eu fiquei aguardando ela falar com a moça.

- Não podemos entrar ainda, ela disse que a Gabi está fazendo uns exames - Rita volta dizendo.

Fomos até as cadeiras de espera e ficamos aguardando.

Deus, eu prometo que se não for grave a situação da Gabi e ela ficar bem, mesmo se ela não quiser falar comigo, eu irei sair dessa vida que eu levo, por ela e pela vida dela, eu nunca conheci alguém como ela, ela me faz querer ser melhor, peço que o Senhor guarde e proteja ela. Ela é o amor da minha vida. Amém.

Assim que termino minha oração pelos pensamentos, ainda de cabeça baixa ouço os médicos chamarem:

- Parentes de Gabriela Andrade.

Choices - SintoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora