Inesperadamente, as estrelas do céu desapareceram e deram lugar a uma chuva torrencial, que desceu sobre a Terra sem prévio aviso.
Fernanda saiu do carro de maneira abrupta. Rezando para que não tivesse, culposamente, matado aquela mulher, ou jamais seria capaz de viver em paz pelo restante dos dias de sua vida. Em que pese a culpa fosse inteiramente dela, ainda assim, sentiria sua parcela de culpa se algo acontecesse àquela idiota que praticamente se jogou em cima de seu carro. Que tipo de pessoa em sã consciência seria capaz de atravessar no meio de uma avenida sem olhar para os lados, mesmo que fosse uma avenida pacata como aquela, havia riscos de atropelamentos.
Detestava gente irresponsável.
Estressada, sacudiu a cabeça com força e deu uma volta pelo veículo, chegando até a frente dele, parou bruscamente, ao se deparar com a mulher que tentava se levantar num esforço excessivo. Por sorte, na curva, diminuíra a velocidade do carro para 30 km/h, ou poderia tê-la matado.
Ao perceber que a mulher não sofrera graves danos, Maria Fernanda foi acometida por um alívio extraordinário, todavia, esse logo foi substituído pela sua costumeira irritação.
Os faróis do seu carro estavam apagados.
A maioria das luzes daquela avenida, localizada próximas aos subúrbios da cidade, encontravam-se em péssimas condições.
Cada segundo que se passava, os pingos se tornavam mais grossos e incisivos, quase cortantes.
O clima naquele Estado era meio aleatório.
Tinha dificuldade para ver o rosto da mulher com mais clareza. A chuva molhou e ainda molhava os cabelos castanhos dela. Alguns fios encharcados cobriam seu rosto. Ela tentava se arrastar até o meio fio, talvez para sentar numa das calçadas e tentar se recompor.
Impassível, Fernanda olhou ao redor e notou que algumas pessoas já se aglomeravam no lugar.
Não tolerava gente curiosa.
Abutres!
Pensei torcendo o nariz num gesto de arrogância.
Então, irritada, deu alguns passos até a mulher.
Ainda sentada sobre o velho asfalto da avenida, sentindo a água da chuva molhar suas pernas desnudas e arranhadas pela colisão do carro em seu corpo, arremessando-a ao chão, de cabeça baixa, Victória mirou o vermelho par de sapatos altos e brilhantes, ainda que sob a chuva, conforme ela caminhava devagar, em sua direção. Instantes depois, ouviu a voz baixa, mas forte, profunda e sensual, fazer uma indagação bastante objetiva. Não soube o porquê, mas o timbre daquela voz firme causou em si uma sensação estranha, quase insólita.
― Você está bem?
― Sim, estou bem, não precisa se preocupar comigo. ― Pronunciou quase que um gemido, diante das dores que sentia pelo corpo, perambulando pelos seus músculos como se fosse uma corrente elétrica chocando seu corpo.
― Como, não vou me preocupar contigo? Ainda que tenhas atravessando na frente do meu carro, feito uma louca, preciso de te levar a um hospital.
― Já disse, você não precisa se preocupar, estou bem.
― Posso ver que está se contorcendo de dor, tanto teu corpo quanto tua voz expressam bem o que sentes agora.
― Siga seu caminho e me deixe em paz. Já sou adulta o suficiente para me cuidar sozinha.
Maria Fernanda estreitou os olhos, furiosa.
Não reconheceu Victória, ela estava muito diferente da mulher que viu naquele vídeo gravado anos atrás. Ainda não tinha buscado nos sites de navegação ou mesmo nas redes sociais, fotos da esposa de David Villegas.
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Vingança
RomanceVictória Villegas é uma mulher rica, elegante, tem o casamento perfeito e a família perfeita para a alta sociedade espanhola cujos padrões de riqueza, glamour e status a define, porém, o que a rígida matriarca da família Villegas não imagina é que u...