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PRÓLOGO

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PRÓLOGO

Eu vivo em uma guerra constante e interminável contra o espelho.

Desde que outras pessoas - pessoas essas que nunca deveriam ter entrado na minha vida - tomaram conhecimento da minha aparência imperfeita aos olhares da sociedade, o insubstituível objeto usado para refletir a nossa imagem se tornou o meu maior inimigo.

Nesse exato momento estou nua e parada em frente ao espelho fino de bordas pretas pendurado a um pequeno prego na parede. Passo os olhos âmbares pelos meus braços finos parando próximo à mão, onde há um pequeno osso avantajado na parte de trás do pulso, um pouco abaixo do dorso. Viro de lado, suspirando pesadamente ao avistar minhas costelas - uma longa respirada é o suficiente para deixá-las à mostra. Meus seios são quase inexistentes, assim como toda a carne da minha coxa.

Você já se olhou no espelho e odiou O que viu? Essa é a maldita realidade que me acompanha todos os dias.

Chega a ser repetitivo o ciclo de: chegar em casa, banhar, comer à força até sentir enjoos e, depois, passar odiosos minutos em pé defronte ao espelho só para verificar se alguns quilinhos
haviam aparecido, ou se, da noite para o dia, de uma refeição para a outra, nasceram curvas nos lugares desejados.
E sempre saio frustrada.

Mas nem sempre fui adversária da minha própria aparência. Longe disso, aliás. Eu costumava viver bem com o corpo que possuía - e possuo. Não era igual ao das outras garotas da minha
idade, mas ao contrário do que acontece hoje, isso nunca foi motivo de frustração. Eu ainda não tinha me dado conta de que éramos tão diferentes naquele departamento - muito menos eles. Quando os 10 ou 11 anos chegaram, no entanto - idade exata
onde as crianças começam a perder um pouco da inocência -, a realidade mudou catastroficamente.

Palito foi o primeiro; girafa, o segundo. Desde então, de uma forma muito maluca e azarada, todos à minha volta decidiram que não poderiam manter uma conversa legal comigo sem lançar
alguma piadinha sobre as partes que viraram minhas maiores inseguranças.

Fecho os olhos com força e balanço a cabeça, decidindo dar um fim na auto análise supercrítica do dia e pego uma blusa e um short largado em cima da cama. Ao passar o jeans pelas minhas pernas, noto a região pélvica com duas pontas ossudas em evidência, mas
resolvo ignorar, sentindo o short folgado em meu quadril. Prendendo meus cabelos loiros num coque bagunçado, ouço batidas na porta, e pela frestinha debaixo dela posso visualizar os chinelos rosa-gritante que apenas Verônica, minha melhor amiga, usa.

- Entra! - grito, limpando os vestígios de poucas lágrimas que caíram durante os 30 minutos que passei aqui.

Houve uma época em que eu chorava todas as noites, transformando meu travesseiro em um verdadeiro poço, mas não mais. Talvez os insultos constantes e as brincadeirinhas nada legais que venho recebendo ao longo dos anos estejam criando alguma
espécie de barreira áspera e grossa ao meu redor.

Um pouco Demais ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ ʙᴜɢʜᴇᴀᴅ Onde histórias criam vida. Descubra agora