01. Colega de quarto

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É um calor infernal

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É um calor infernal. E as pessoas parecem seguir animadas para a praia. É o que observo sentada no banco da carona, com a minha jaqueta de couro, assim como o meu reflexo loiro e lábios vermelhos no retrovisor. A minha viagem até Cabo Frio tem sido longa. Eu morava com a minha mãe nos Estados Unidos desde que ela se separou do meu pai e se casou com um americano. E, sinceramente, nunca quis voltar.

Meu pai dirige, perdurado no mais profundo silêncio. Aposto que preferia não ter que se envolver nisso. Bom, escutei pelas suas conversas com a minha mãe no telefone que isso é ideia dele. O meu castigo foi algo planejado e elaborado, como se fosse uma lei a ser aprovada e implantada. E lutei o máximo que pude para evitar isso, mas o que consegui negociar é que seria apenas por seis meses e se meu comportamento for exemplar, posso reduzir pela metade.

Passamos pela divisa de Cabo Frio e Arraial. De um lado é possível avistar casas à beira mar e ondas estrondosas estourando na beirada. Do outro, dunas de areias brancas como sal, uma mais alta que a outra, e árvores, a maioria carente de folhas, apenas um tronco seco. É bonito, admito.

Já começo a sentir a pele pregando e oleosa por causa da maresia. Em Los Angeles costumava fazer calor e sol frequentemente, mas nada comparado com isso aqui.

Meu pai entra em uma rua à direita, tão pequena e escondida que parece cena de terror. Se ele não fosse meu pai, estaria correndo agora. Em pouco tempo, o asfalto liso, embora nem tanto assim, perde lugar para um calçamento que faz o trajeto silencioso, não ficar tão silencioso assim.

Não é difícil localizar o estimado internato mais famoso do Rio de Janeiro. Felicienne. É um casarão imenso e antigo. Bonito e isolado. Segundo algumas revistas, assim como deve ser a reputação de um internato em qualquer lugar do mundo, é uma das melhores escolas do Rio de Janeiro e nomes importantes já estudaram aqui e parece que é tradição que os herdeiros também estudem.

Meu pai, Roberto, ocupa uma vaga no estacionamento improvisado com brita. Desço do carro, firmando as minhas botas pretas nas pedras enquanto bato a porta, descontente.

— Esse lugar é péssimo — resmungo, sentindo como se fosse desmaiar a qualquer momento de tanto calor. Credo. — Se queria me punir, era só ter passado com carro por cima de mim.

— Está de brincadeira? — indaga descrente. — Olha só que construção belíssima! Adoraria ter estudado aqui quando tinha a sua idade.

— Deveria era ter usado camisinha na minha idade — rebato, sem esconder o meu desgosto. Meus pais me tiveram quando ainda eram bem jovens. — Assim evitaria o suicídio de uma jovem dezessete anos depois, pois é isso que vai acontecer quando tiver que decidir se morro de tédio ou se me afogo no mar.

— Sabe muito bem por que está aqui, Naomi — relembra. — Los Angeles era terra sem lei para você e aqueles amigos delinquentes.

Sim. Então como solução, decidiu me enfiar em um internato no Brasil.

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